Após a conversa na biblioteca, o rei quase não falou com eles. Durante o almoço, permaneceu calado. Apenas se despediu de Kay, Emar e Elizabeth e, em seguida, voltou a se calar. Jaqueline sabia que ele estava confuso. Ele precisava de tempo para absorver e entender tudo o que ouvira naquele dia e, também, precisava descobrir que os sonhos que tivera no passado, na verdade eram visões sobre o futuro.
Alguns dias depois, Jaqueline havia recebido uma carta de Albert, vinda do Egito.
10 de Janeiro de 1801
Querida Jaqueline,
Saímos hoje de Suez e seguimos de barco para Isfahan. Chegaremos aí dentro de uma semana e tenho ótimas notícias para lhe dar. Levamos conosco algumas surpresas e presentes. Quando chegar, quero que me apresente aquela pessoa especial. Nos veremos em breve!
Com carinho,
Albert Ajoulais
Logo, Eliá chegaria em Narayan. E, quando ela chegou, encontrou seu tio mais alegre e disposto a dar aos seus parentes e amigos o amor e carinho que antes se encontrava enclausurado em seu coração.
Eliá entrou no castelo e Jaqueline foi ao seu encontro. Se abraçaram e foram juntas para a sala de estar.
– Como você foi nas provas? – perguntou Jaqueline.
– Tirei as melhores notas da sala! – falou Eliá.
– Que maravilha, querida!
– Foi graças a sua ajuda que eu consegui!
– Não, querida! Foi pelo seu esforço!
– Por que ninguém veio me receber? Aonde estão Emar, Elizabeth e Kay? – perguntou Eliá.
– Eles não puderam vir! Se quiser vê-los, terá que ir visitá-los.
– Não estou entendendo nada!
– Eles não podem vir aqui antes da Festa da Escolha. – falou Jaqueline.
– Não podem? Mas, por que? – perguntou Eliá indignada.
– Eliá, foi um acordo que fizemos com o rei para que eu e Kay tenhamos uma oportunidade de ficar juntos.
– Então, a minha suspeita foi confirmada! Você e Kay estão apaixonados!
– Sim, querida! Nós nos amamos!
– Que maravilha! Vocês se casarão e ficará para sempre aqui em Narayan.
– Não é bem assim, Eliá!
– Como não?
– Seu tio impôs várias regras para que nós possamos ter uma chance de ficarmos juntos.
– Mas é só se casarem, não é? Afinal, vocês se amam!
– Não é tão simples! Eu e Kay não podemos nos ver nem conversar até o dia em que Albert chegar. Então, será marcada a Festa da Escolha, onde Kay dançará uma música com cada pretendente. Ele deverá estar vendado e não poderá conversar nem ver as pretendentes durante a festa, até dizer quem ele acha que sou eu. Se ele errar, terá que se casar com quem escolheu.
– Isto é um absurdo! Meu tio não pode fazer isso com vocês! Irei falar com ele imediatamente!
Irritada, Eliá saiu correndo e foi atrás de seu tio para conversar com ele. Ela nem ouviu Jaqueline, que tentou impedi-la.
Eliá entrou na sala de reuniões como um furacão. Encontrou seu tio sentado à mesa e escrevendo.
– É um absurdo o que está fazendo com Kay e Jaqueline, titio! Por que não deixa que se casem logo? Por que impôs tantas regras e corre o risco de ver seu filho infeliz pelo resto da vida dele?
– Calma, Eliá! Deixe-me explicar o que eu pretendo com tudo isso!
– É bom mesmo ter uma boa explicação, titio! Estou indignada e muito triste com o que o senhor está fazendo!
– Eu vou lhe explicar tudo! Sente-se! – falou o rei.
Eliá e o rei ficaram trancados na sala de reuniões durante horas e, quando Eliá saiu, não contou nada para Jaqueline sobre a conversa que teve. Seu tio lhe havia pedido ajuda e sigilo sobre tudo o que aconteceria na Festa da Escolha, que fora marcada para o dia 20 de Janeiro de 1801, três dias após a chegada de Albert.
Apesar de Eliá ser uma das pretendentes de Kay, era a única mulher da família real e deveria ajudar com os preparativos da festa. Eliá ajudou o tio na escolha das fantasias das pretendentes e dos pratos do banquete que seria servido após a comunicação da futura rainha.
Todas as pretendentes deveriam usar máscaras, o cabelo preso em um coque com uma flor e suas joias pessoais. Receberiam as instruções no dia da festa, assim como suas fantasias e as flores que deveriam usar.
Jaqueline passava a maior parte do tempo em seu quarto pensando em Kay e no que ele poderia estar fazendo. Muitas vezes, escrevia sobre seus sentimentos em seu caderno.
Horas sofridas que me vejo passar longe de ti.
Fecho meus olhos e tento imaginar você aqui.
A saudade sufoca a minha alma
E começo a perder a calma.
O tempo parece estar parado
E o meu coração fica desesperado.
Nada mais parece ter graça.
Por que não vem aqui e me abraça?
Sei que isso não depende apenas de nossa vontade,
Mas também de leis da sociedade.
Eu quero te encontrar
Para o seu sorriso olhar.
Não vejo a hora de ter você ao meu lado
Para o meu sonho ser realizado.
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As Rosas de Narayan
Ficção HistóricaSéculo XVIII Jaqueline Rosset nasceu em uma pequena cidade ao norte da França. Ainda muito jovem descobre ser portadora de um dom especial e seu único desejo se torna usá-lo para ajudar a quem precisar. A realização desse sonho a levará a uma jornad...