O ano era 1812. Jaqueline andava por um estreito caminho de pedras ladeado por jardins de rosas vermelhas e brancas, que formavam desenhos em ziguezague. No final deste caminho, encontrava-se uma espécie de sacada. Nela, havia uma mesa de madeira com quatro cadeiras também de madeira cobertas com uma espécie de guarda-sol. Na frente e ao lado direito da sacada havia uma cerca branca de proteção; ao lado esquerdo, uma escada de pedras que levava até uma pequena praia de areia clara e fina. A praia era ladeada por dois grandes muros rochosos e, em um deles, dava para se ver uma gruta. O mar era de uma água límpida e cristalina.
Jaqueline se aproximou da cerca da sacada e lá ficou admirando as ondas quebrando na praia. Ao longe, um pequeno barco navegava rodeando uma pequena ilha inabitada. O céu estava avermelhado, com lindos tons de laranja e rosa. Uma brisa suave e morna lhe acariciava o rosto e muitos pássaros cantavam nas árvores.
Jaqueline estava ali esperando. Ela sentia seu coração acelerado. Ela olhou para a praia e viu um lindo cavalo negro com um homem montado. Eles galopavam rapidamente em direção a escada. Ela se sentiu muito feliz ao vê-los.
O homem parou o cavalo perto da escada de pedra e desmontou. Ele subiu lentamente a escada e Jaqueline o acompanhou com os olhos. Ele se aproximou dela e a abraçou. Era Kay. Juntos e abraçados, permanecem ali olhando o pôr do sol. O sol parecia mergulhar no mar. Logo após ele sumir, de mãos dadas, eles voltaram pelo caminho de pedras até o castelo.
Dentro do castelo, eles foram para a sala. A lareira estava acesa e podiam sentir um cheiro de comida no ar. Kay se aproximou de uma mesa de centro, onde se encontrava uma garrafa de vinho e serviu-lhes. Jaqueline se acomodou em uma grande almofada perto da lareira e ele lhe entregou a taça, saindo logo em seguida. Jaqueline ficou ali olhando a madeira queimar na lareira.
Kay retornou trazendo uma bandeja com pães e frios e se sentou ao lado dela. Ficaram ali durante horas, conversando e trocando juras de amor.
Ouviram risadas e as crianças entraram correndo. Elas tinham passado a semana no castelo do avô.
– Boa noite, papai. Boa noite, mamãe. – falaram elas.
– Contem como foi essa semana. O que fizeram de bom?
– Eu estudei e o vovô me ensinou a manejar a espada. – falou Learzinho.
– A tia Eliá foi nos visitar e me ensinou a tocar uma música no piano. Posso tocar para você depois? – falou Anie.
– Sim, minha filha. Amanhã você a tocará para mim.
– E você, J.P.? – perguntou Kay.
– O vovô falou que eu sou muito novo para usar a espada, mas quando eu for mais velho, ele vai me ensinar. Então, eu fiquei brincando e lendo na biblioteca. Ele tem um montão de livros.
– E você gosta de ler?
– Muito, mamãe! Se puder, quero ler todos.
– Por falar em ler, mamãe, você vai terminar de ler aquele livro para nós? – perguntou Anie.
– Eu terminarei de ler assim que vocês estiverem em suas camas e prontos para dormir.
– Oba! – falou Anie ao sair correndo.
Anie foi seguida por Learzinho e Jean Pierre.
Já prontos e em suas camas, Jaqueline sentou-se em uma cadeira próximo a cama deles e lia as últimas páginas do livro.
Ao terminar de ler, Jaqueline fechou o livro.
– Mamãe, a história desse livro é muito bonita. – falou Anie.
– Eu também gostei bastante. – falou Jean Pierre bocejando.
– Agora vamos dormir que já está tarde.
Jaqueline levantou-se e foi em direção a porta.
– Mamãe, a moça do livro se chama Jaqueline também e o moço Kay, como o papai.
– Sim, Anie.
– Este livro fala sobre vocês?
– Sim. Este livro conta a minha história e a de seu pai.
– E foi você quem o escreveu?
– Sim, pequena.
– Mas então a história do livro ainda não acabou?
– Realmente não acabou.
– E quem vai escrevê-la daqui para a frente?
– A continuidade desta história quem escreverá serão cada um de vocês, com a história de suas vidas.
– Eu vou escrever, mamãe! – falou Anie.
– Eu também. – falou Learzinho e Jean Pierre.
– Boa noite, crianças.
– Boa noite, mamãe. – responderam eles.
Jaqueline saiu do quarto abraçando o livro. Ela desceu até a biblioteca para guardá-lo na estante, onde havia um lugar especial destinado a ele. Chegando lá, Jaqueline passou a mão sobre a capa sentindo os relevos, em uma espécie de carinho. O livro tinha uma linda capa de couro vermelha e o símbolo do Arquipélago de Narayan estampado em dourado na capa. Em uma letra rebuscada podia-se ler As Rosas de Narayan.
Jaqueline colocou o livro na estante e subiu para seu quarto, onde Kay a esperava para dormirem. Ela trocou de roupa, colocando uma camisola de seda azul e deitou-se. Kay aconchegou-se nela, abraçando-a.
– Boa noite, minha princesa. – sussurrou ele em seu ouvido.
– Boa noite, meu amor.
E Jaqueline logo estava dormindo profundamente e sonhando mais uma vez com o seu futuro.
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As Rosas de Narayan
Historical FictionSéculo XVIII Jaqueline Rosset nasceu em uma pequena cidade ao norte da França. Ainda muito jovem descobre ser portadora de um dom especial e seu único desejo se torna usá-lo para ajudar a quem precisar. A realização desse sonho a levará a uma jornad...