Tem dias que sentimos o mal nos rondando e hoje era esse dia, acordei com o sol entrando pela janela que deixei aberta já que estava muito calor no Rio ontem, olhei para o lado e estava sozinha sendo assim provavelmente Roberto já tinha ido na frente junto com os outros para cercar o local, estava terminando de me arrumar quando chega uma mensagem no celular: "Já se despediu em grande estilo essa noite. Conchinha é tão fofo, achei que tinha superado. Espero que não tenha dito nada, se não sua amada Rane não será encontrada. Até logo."
Olhei incrédula para a janela que havia dormido aberta e vi que a visão dava em um morro com árvores e meio íngreme, então era dali que ele estava me observando o tempo todo!
Me arrumei e descido não me despedir de ninguém, apenas sai andando pelas vielas do morro que morei minha vida inteira e a cada passo que eu dava uma memória vinha na minha mente como quando era criança e jogava bola na quadra com os meninos e me chamavam de "Maria macho", ou quando íamos tomar sorvete na viela oito, ou até mesmo meu primeiro beijo que eu odiei, quanto mais andava mais meus olhos enchiam d'água. Cheguei no ponto mais alto do morro e olhei a vista mais linda que já vi! Parecia uma pintura dos deuses, minha favela! Antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa sinto um baque muito forte na cabeça e tudo escurece.
- Ela falou, estávamos cercados, Mauro matou cinco dos nossos caras e Vinícius fez geral caguetar quem estava de X9 - um homem gritava ainda de olhos fechados percebi que estava amarrada a algo, tentei abrir os olhos mas não consegui então resolvi não me mexer e apenas ouvir para ver se eles falam de Rane.
- Eu avisei pra essa vadia que era pra ficar calada - gritou e tacou algo com muita foca na minha barriga o que me fez gemer de dor e chamar a atenção deles - Olha a princesa acordou - ainda de olhos fechados ouvi os passos cada vez mais próximos até que alguém me puxa pelos cabelos me fazendo gemer de dor novamente - Abre o olho caralho - gritou batendo na minha cara até eu abrir os olhos com muito esforço - O que eu falei de avisar alguém ? Responde ! - gritou mais ainda e me tacou no chão.
- Eu não falei nada! - disse com a voz embargada pois a dor era muita.
- Engraçado que eles sabiam exatamente onde estaríamos Jane, sua sorte é que eu desci um pouco mais para não correr risco. Mas sabe quantas pessoas você matou? Isso mesmo, você! Por que íamos te pegar e ir embora, mas você gosta de ser esperta né. Aguente as consequências. - falou e caminhou até a saída, mas antes que ele cruzasse a porta com muito esforço perguntei
- O que vai fazer comigo?
- Vou vender você! Para quem der mais e adivinha seus protetores não vai poder fazer nada pois esse é o acordo entre os Chefes, em leilão você só leva se pagar mais. Boa sorte - antes que pudesse perguntar da Rane ele sai me deixando ali sem saber o que fazer.
Horas se passaram até que finalmente alguém abriu a porta do quarto, era uma mulher pela silhueta ela caminhou até mim e me ajudou a levantar. A todo momento ele murmurava "não gente fugir, para o nosso bem", depois que levantei ela me guiou até a parte de fora do quarto escuro que era como um porão, subimos as escadas e demos em um outro quarto onde tinha uma roupa feminina e um sapato além do espelho e poucas maquiagens.
- Você viu a Rane? Ela é uma garotinha de quatro anos bem morena com os cabelos cacheados e ... - antes que eu pudesse falar qualquer outra coisa a mulher me corta
- Aqui não falamos de quem já se foi, eu apenas te arrumo e saio, não torne isso difícil - falou e seguiu até a porta do meio que era um minúsculo banheiro olhou para minha direção e mandou eu tirar minhas roupas e tomar banho pois a noite seria longa. Finalmente tudo estava pronto e a moça que até então estava me ajudando saiu do quarto me deixando sozinha novamente e antes que eu pensasse em fugir a única porta que ainda não tinha sido aberta se abre e de lá surge o ser mais desprezível do mundo.
- Onde ela está seu monstro dos infernos - falei indo pra cima dele, mas sem sucesso. Com um olhar sarcástico disse
- Fiz com ela a mesma coisa que estou fazendo com você, a única diferença é que você ainda está viva - ele me segurou com força e me deu um líquido para tomar e simplesmente saiu e fechou a porta, ali meu mundo perdeu a cor totalmente minha pequena havia morrido. Não aguentei aquela notícia e senti meu corpo ficar mole e meus olhos se fecharem e depois senti o baque do meu corpo no chão gelado, minha vida poderia acabar ali que não teria mais nenhuma importância!
- Ela vai acordar em breve, o calmante não foi tão forte. Foi bom fechar negócio com você - Tudo na nossa vida acontece em um milésimo de segundo e por mais que não percebemos sempre acontece algo que muda tudo. Eu em menos de um mês perdi minha mãe e minha irmã e agora não faço ideia da onde estou e nem o que está acontecendo só sei que minha cabeça dói e meu corpo também. Senti alguém me carregando e me colocando em cima de algo confortável e depois saindo e fechando a porta com cuidado, esperei alguns minutos e abri os olhos devagar de início foi difícil acostumar com a claridade mas aos poucos tudo estava ficando normal, mecho nas mãos e percebo que não estou mais amarrada olho ao redor e estou em um quarto branco com cinza e muito arrumado para ser um cativeiro.
- Aonde eu estou? - perguntei pra mim mesma olhando o guarda roupa com poucas roupas largas e a penteadeira com apenas uma escova e um creme de pentear, do lado tinha duas portas uma trancada e a outra era um banheiro bem espaçoso também sai do banheiro e caminhei até a janela que era de onde a luz estava vindo e vi que estava em um morro também, porém não o que eu cresci.
- Acho que ela acordou, ouvi passos agora pouco - escutei a voz de um homem se aproximando e a porta destrancando, assim que abriu vi um homem moreno, alto com olhos escuros e trança no cabelo que quando me viu abriu um sorriso de orelha a orelha - Olá Catarina.
- Acho que se confundiu, eu sou Jane. Onde estou? - perguntei sem entender o por que ele havia me chamado de Catarina.
- Me chamo Toni, sou o dono do Vidigal e você agora é Catarina, minha mulher - olhei pra ele indignada, como assim mulher dele ? Geraldo realmente me vendeu.
- Eu não sou sua mulher e não vou ficar aqui! - falei andando até a porta que estava logo atrás dele e mesmo antes de atravessar sinto sua mão puxando meu braço e me trazendo de volta com brutalidade e me prensando na parede ao lado da porta.
- Eu vou repetir, você é minha mulher e não se atreva a discordar - falou enquanto me prendia com forca na parede - Eu paguei muito caro por você então para nossa boa convivência você é minha mulher chamada Catarina que estava em São Paulo cuidando da sua mãe que faleceu a pouco tempo, você entendeu? - perguntou apertando um pouco mais meu corpo - Eu perguntei se você me entendeu! - falou mais ríspido e eu apenas concordei com a cabeça - Você não é uma prisioneira, mas não tente sair do morro ou se comunicar com alguém de fora, por que eu saberei, você é livre pra fazer o que quiser, dentro do morro. Estamos entendidos? - concordei com a cabeça e então ele me soltou e pediu para que o acompanhasse e assim eu fiz, me apresentou a casa e seus empregados. Para uma casa no morro era bem estruturada parecendo uma mansão - esse é o seu telefone, já está tudo instalado é só usar e não se esqueça do que conversamos ok - me deu um selinho e saiu, eu fiquei ali parada olhando aquela situação surreal e com medo de entrar em contato com alguém de fora daqui e morrer.
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Vendida Para o Dono Do Morro - Livro I
RomanceLivro I Mais um dia me vejo aqui, olhando para a janela e pensando em como o mundo pode ser tão cruel com pessoas tão boas, ou será que eu não era uma pessoa tão boa assim ? O barulho da chuva que caia naquele dia estava me acalmando, mesmo eu s...