“Quando a tempestade passa, nem sempre encontramos o arco-íris. Muitas vezes encontramos o grande redemoinho”
— Vendida para o dono do morro
___________________________________“Corre! Rápido Catarina não temos tempo! Pega as crianças e corre. A minha respiração estava pesada e eu não conseguia nem pensar no que fazer.
Jane! Jane! Jane! Escutava os gritos de dor de Rani me chamando e começava a chorar de novo, o desespero era o que definia aquele momento misturado com a grande dor que estava sentindo.
Senti um puxão e logo estava de volta em “casa” com Toni e as crianças mas algo não está certo, tinha sangue pela sala e Toni estava imóvel as crianças em um canto da sala encolhidas e eu novamente em desespero não sabia o que fazer então gritei, gritei o mais alto que pude e ouvi bem longe alguém me chamando”Acordei com Toni me balançando com desespero, eu estava molhada em suor e lágrimas então como um impulso o abraço e agradeço por ter me tirado daquele pesadelo mortal, ele por sua vez só assente com a cabeça espera eu me acalmar e sai do quarto novamente me deixando ali sozinha com meus pensamentos.
— Onze meses depois —
Já se passaram quase um ano da minha “morte” e da minha nova vida, nesse tempo eu me adaptei a tudo aqui no Vidigal desde as encrencas com as amantes do Toni quanto as movimentações de dinheiro e drogas.
— Catarina vamos – Toni entra no quarto com os gêmeos que estavam lindos assim como o pai — Você está linda – falou vindo na minha direção e colocando o colar que estava na minha mão. Nesse tempo que estou aqui, eu e Toni tivemos nossas desavenças mas por fim decidimos esquecer isso e pensar apenas no bem estar das crianças, com isso nos aproximamos cada vez mais e hoje nos respeitamos como amigos, de vez em quando acontece as recaídas mas nada que estrague o que construímos.
— Tem certeza que é bom eu ir? Não sabemos quem vai estar lá – íamos a uma confraternização entre morros.
— Se caso encontrarmos alguém já sabe a estória que é para contar certo? – concordei com a cabeça — Está realmente divina – concluiu e descemos até a garagem e fomos até o evento, era em uma casa de praia um pouco distante da capital do Rio para não ter problemas com polícia e vizinhos reclamando. Chegando lá já haviam vários carros e a casa era enorme, caminhamos até a entrada e um rapaz nos abordou solicitando as armas que estavam com a gente como um sinal de paz e assim foi feito.
— Toni meu amigo, quanto tempo – ouvi aquela voz tão conhecida, quando me virei procurei não aparentar surpresa então continuei com o meu sorriso.
— Roberto meu querido, como está? Essa é sua mulher ? – perguntou e só então percebi a presença de uma mulher morena bem bonita e um carrinho de bebê sendo guiado pela mesma, Roberto estava mudo sem reação — Gente e esse garotão! Qual o nome ? – o silêncio ainda pairava de Roberto e vi a mulher cutucando ele e o tirando do “coma”
— S-sim, essa é a Camila e esse é o Bento – falou pegando a criança do carrinho — E essa é a tão falada Catarina ? – falou com um pouco de raiva na voz e Toni concordou sorrindo, eu fiquei me perguntando como ele conseguia ser tão calmo naquele momento — Ela fala ? – olhei pra ele e sorri com a alma saindo do corpo
— Já vi que fui muito bem falada – falei e encostei a mão no ombro de Toni — Quando sai de São Paulo não achei que seria tão bem recebida, principalmente pelas crianças – falei tentando não passar nenhuma emoção, mas antes mesmo de entrarmos ouvi alguém gritando “Jane?” e mesmo querendo olhar continuei andando em direção a entrada e ouvi a voz de Roberto falando “essa não é a Jane Roberta”, meu coração se partiu mas eles seguiram a vida e eu não iria atrapalhar isso.
O evento foi lindo, e no meio de tudo aquilo eu me sentia angustiada pois minha antiga vida estava ali, as pessoas que eu sentia falta, as pessoas que eu amava e sentia muita falta. Eu estava sufocada naquele lugar pedi licença da mesa que eu estava e fui até o banheiro onde não consegui e desabei, tudo que eu tinha guardado durante todo esse tempo e assim que eu me acalmei Nayto entra e com sua calmaria de sempre sorri
— Me falaram que seu nome é Catarina – falou indo até a pia e lavando as mãos — A um tempo atrás conheci uma menina, que era sua cara e todos que a conhecem lá fora estão achando que você é ela. Mas eu não acredito nisso, acho que ela falaria se estivesse viva – olhei pra ela mas não falei nada — Foi bom conversar você Catarina – concluiu e saiu e eu saí depois de um tempo, me sentei a mesa e fiquei quieta o resto do evento com Matheus dormindo no meu colo. No palco colocado no centro do salão o anfitrião começa a falar e a premiar os donos de morro e hoje também seria a cerimônia de sucessão onde o dono atual passaria seu “trono” ao seu sucessor e assim foi, o primeiro foi Mauro.
— Hoje se encerra minha jornada no alemão, depois de quase trinta anos servindo e me dedicando aquele lugar com minha alma hoje eu o passo para meu filho que durante esses meses vem me provado ser leal e cabeça para seguir com isso – concluiu e chamou Roberto até o palco e lhe entregou a corrente com o nome alemão – E como Gerente do morro nada mais justo que meu genro, sobe aqui Vini – quando vi Vinícius meus olhos encheram d’água, meu irmão estava tão diferente. Depois dos meninos fazerem o discurso o show continuou até chegar no Vidigal, até então Toni ainda não tem um herdeiro para passar o seu “trono” então achei que ele nem se manifestaria, mas estava errada ele coloca Mariana devagar na cadeira e sobe até o palco.
— Boa noite, o Vidigal ainda não tem um herdeiro com idade suficiente para comandar e não sei se meu filho vai querer essa vida, mas enfim. Hoje eu vou passar o cargo de gerente para a mulher que vem me ajudando a muito tempo, que vem me mudando aos poucos e que cuida tão bem dos nossos filhos que não sei o que seria da minha vida sem ela. Catarina! – falou e eu sem reação apenas andei até o palco e recebi o cordão com o nome Vidigal e apenas agradeci e antes de eu descer ele se ajoelha e me pede em casamento! Não sabia aonde Toni queria chegar com aquilo mas estava se antecipando de mais, porem eu não ia dizer não na frente de todos iríamos conversar em casa. E assim se encerrou a noite, com muitas dores no peito e com muita saudade no coração.
__________________________Capítulo revisado
Espero que tenham gostado
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Vendida Para o Dono Do Morro - Livro I
Roman d'amourLivro I Mais um dia me vejo aqui, olhando para a janela e pensando em como o mundo pode ser tão cruel com pessoas tão boas, ou será que eu não era uma pessoa tão boa assim ? O barulho da chuva que caia naquele dia estava me acalmando, mesmo eu s...