“Lutar as vezes é impossível, então melhor eu apenas aceitar minha derrota e entrar no breu que me chama”
_Vendida para o dono do morro
Nunca havia sentindo uma dor tão forte, que me fizesse apagar daquela forma, acordei poucos segundos depois e quando retomei meus sentidos por completo percebi que estava em uma poça de sangue, o quarto outrora escuro, estava claro com a luz que vinha da porta, tentei me mexer mas não conseguia fazer muita coisa. Olhei para os lados tentando ver de onde vinha tanto sangue mas nada, então passei a mão entre minhas pernas e gritei ao ver a quantidade de sangue que saia de mim, Toni entrou no quarto correndo com uma cara de culpado mas não chegou perto só jogou umas roupas na minha direção e a chave de um carro e saiu sem dizer mais nada.
Quase sem força para me levantar peguei a roupa e com muita dificuldade vesti, eu estava muito fraca por conta da perda de sangue então não conseguia me mover muito bem, andei quase me arrastando até o único carro que estava na frente da casa e dei partida na mão contraria da casa, as dores só aumentavam e minha visão estava ficando turva por conta da fraqueza, então acelerei mais ainda, como o carro era automático facilitou muito. Demorei uns vinte e cinco minutos para chegar na cidade mesmo, só que eu não sabia em qual região estava e nem onde ficava o hospital mais próximo então parei na primeira lanchonete que vi e implorei por ajuda a uma moça que estava na porta, mas com susto ela só saiu andando, então segui mais um pouco e encontrei um carro da polícia e comecei a buzinar para chamar a atenção e funcionou, quando eles chegaram perto eu abri a porta do carro devagar e a minha visão escureceu mas eu ainda ouvia as vozes bem longe “Urgência na Avenida Presidente Ruselvet, levando a vítima para o CTA” senti o policial me pegando e me carregando, mas eu estava sem forças para abrir o olho e ouvi ele dizendo para o outro “Se ela sobreviver será um milagre “ e apaguei totalmente.
“Não entendo o por que não posso ficar... Ela precisa de mim agora! [...] Juro que vou fazer ela me amar assim como eu já amo ela"
— O estado dela é estável agora, mas já se passaram um mês e ninguém a procurou ainda. Nem o pai do bebê veio saber dela – uma voz feminina falava — Me preocupa ela não acordar, não existe nenhum trauma forte na região da cabeça, controlamos a hemorragia e a criança está bem – concluiu enquanto batia em alguma coisa, fazendo um barulho repetitivo, ela parou com o barulho e passou algo no meu pé, eu o movimentei pois sinto cócegas e ela deu um gritinho baixo e soltou um “temos movimento”, com toda a alegria — Solicitem o doutor Fragoso, vamos ver se ela consegue respirar sem aparelhos – a moça disse e ficou um tempo em silêncio até o doutor chegar
— Tem certeza que não foi mais um de seus delírios doutora Guedes ? – perguntou e a moça ficou em silêncio, o médico então solicitou que desligasse os aparelhos e assim fizeram , não demorou muito comecei a fixar sem ar, meu coração começou a acelerar mas foi por pouco tempo, depois que tiraram o tubo da minha garganta voltei a respirar normal, mas meus olhos não abriam por mais que eu tentasse, então tentei mexer a mão e pelo “eu te disse” que a moça falou eu devo ter conseguido — De meio miligrama de adrenalina, o pulso dela está bem fraco ela precisa acelerar um pouco. E parabéns doutora, você conseguiu salvar elas – ele falou e meu corpo começou esquentar, meus batimentos aumentaram e eu finalmente consegui abrir os olhos, mas os fechei imediatamente, a sala que eu estava era muito bem iluminada, tentei abrir novamente só que mais devagar, pisquei algumas vezes até ver as pessoas na minha frente com clareza. A moça que estava falando era baixinha e usava óculos, diferente do doutor que parecia ter o dobro do seu tamanho — Olá, sou o doutor Fragoso, consegue me dizer seu nome ? – eu fui para falar mas minha garganta doía muito e minha voz não saia — Tudo bem, é normal isso acontecer. Vou informar como te trouxeram ok, você estava desmaiada com uma hemorragia interna causada pelas diversas lesões que encontramos na sua vagina, além do início de aborto que a senhora estava, a doutora Guedes é a nossa especialista ginecológica e obstétrica, ela fez uma minuciosa cirurgia para que a sua placenta se realocasse e seus ferimentos parassem de sangrar – ele de uma pausa pois meus olhos estavam cheios d’água, grávida? Não pode ser — Você está de 4 meses, pela última ultrassom é uma menina e estamos te dando vitaminas para que ela fique saudável – concluiu e veio me examinar, ver meus reflexos e pelo que disse estava tudo bem, então eu fiz um gesto para me darem algo que eu pudesse escrever, a doutora me deu uma agenda e uma caneta e eu escrevi “Meu nome é Jane, não sabia que eu estava grávida, por favor ligar no 21 99..... falar com Roberta” a doutora pegou e ligou na hora
— Alô, Roberta? [...] Aqui é a Doutora Guedes, sou médica no CTA Duque de Caxias a Jane deu entrada conosco a um mês atrás e estamos entrando em contato agora pois ela não estava com nenhuma documentação [...] Sim, o endereço é, R. Luís Monteiro, 282 Duque de Caxias, o horário de visita é daqui a uma hora e ela pode ficar com um acompanhante apenas [...] ok estamos aguardando – ela desligou o telefone e sorriu — Ela já está vindo – os dois médico saíram da sala e eu fiquei ali pensando, eu estou esperando uma filha do homem que acabou com minha vida! Por que tudo está dando errado na minha vida? Primeiro perder Rane, depois ser vendida para Toni, como um objeto qualquer, aí quando eu achei que eu teria paz apareceu aquela maldita da Melissa e depois a desgraçada da Camilla eu não aguento mais essa vida, podia ter morrido! Quando disse isso o bebê se mexeu e eu não consegui e voltei a chorar, eu não quero essa criança, não quero me lembrar do pai dela para o resto da minha vida, eu só quero sumir — Jane, te trouxe água para hidratar sua garganta, vai doer já pouco mas vai ajudar você a conseguir falar – a doutora Guedes disse entregando o copo com água — Você é uma guerreira sabia, já vi mulheres menos machucadas que não resistiram – poderia não ter resistido, pensei comigo, a doutora era muito simpática, falou de como era sua família, que ela era a única aqui no Rio de Janeiro, sua mãe e seu pai eram de São Paulo, disse que tinha 4 irmãs e um irmão e que seu pai era carioca, enfim, contou a vida dela e eu gostei de conhecê-la já que ela é tão carismática. Uma hora havia se passado quando entra pela porta do quarto Roberta, Rane, Nayto e Roberto, quando Rane me abraçou eu voltei a chorar, a doutora tirou ela do quarto para dar mais privacidade e disse a eles que eu ainda não conseguia falar muito mas que estávamos bem, a cara de interrogação deles era impagável, então ela explicou sobre a gestação e de espanto foram para ódio.
— Aquele maldito! – Roberto disse, e saiu da sala
— Grávida... Nos vamos cuidar de vocês! – Roberta disse passando a mão na minha barriga e Nayto veio que abraçar — Estamos aqui agora, vai ficar tudo bem – ficaram ali a visita toda e quando acabou disseram que voltariam depois com roupas e um celular novo, eu sorri a confirmei com a cabeça já que não conseguia falar ainda, Rane me abraçou e foi junto com as meninas, já Roberto não voltou deve estar nervoso de mais pra me ver.
A tarde passou rápido, a televisão que tinha no quarto estava passando a novela das sete quando adormeci, estava cansada, não sei se era sonho ou não, senti Roberto acariciar meu rosto e dizer que me amava e que não me deixaria sozinha, mas estava muito fraca e não consegui abrir os olhos.
_____________♡♡♡_____________O CTA, citado no capítulo não está pronto ainda.
Só coloquei pois é o único "hospital" que tem perto da região.Espero que tenham gostado do capítulo, vote e comente o que achou.
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Vendida Para o Dono Do Morro - Livro I
RomanceLivro I Mais um dia me vejo aqui, olhando para a janela e pensando em como o mundo pode ser tão cruel com pessoas tão boas, ou será que eu não era uma pessoa tão boa assim ? O barulho da chuva que caia naquele dia estava me acalmando, mesmo eu s...