Capítulo 20 - Isabel

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Quando estou voltando da minha caminhada matinal, Sandra me grita do seu portão.

― Posso falar com você?

Digo que sim e começo a fazer uns alongamentos. Ela se aproxima de mim.

Estou suada e sôfrega.

― Eu andei pensando nas suas propostas...

― Vamos entrar?

― Agora não. Isabel ainda está dormindo.

Eu passo uma toalha no rosto e fico esperando que ela continue. Dentro de mim há uma torcida para que ela tenha escolhido deixar a pequena comigo. Estou ansiosa pra ouvir esta resposta. Não sei por que, mas criei uma expectativa.

― Sabe, acho que preciso ficar mais tempo com Isabel. Eu viria aqui ontem te dar a resposta, mas tive um dia tumultuado no trabalho e...

― Com quem você deixou Isabel? ― interrompo desapontada.

― Deixei com minha sogra.

― Eu adoraria ter cuidado dela, mas entendo você. Também sou uma estranha.

Ela fica sem graça e evita olhar em meus olhos.

― Não é isso. É que... como eu ia dizendo, meu dia ontem foi complicado. Estou defendendo um sujeito acusado de matar a esposa e a família dela está me pressionando a deixar o caso.

Eu paro de me alongar.

― Estão te ameaçando?

― Não. Só me pressionando mesmo. Mas eu não vou abrir mão, até porque eu acredito na inocência dele. Eu o conheço da faculdade. Estudou com meu marido.

Ela olha para a sua casa e depois se vira pra mim.

― Eu vou ficar com minha filha. Já conversei com um colega e ele vai assumir todos os meus processos. Só vou cuidar deste que eu acabei de te falar. Então o dia que eu precisar, se você não se importar é claro, eu deixo Isabel com você.

― Que ótimo!

Ela me agradece e se afasta.

Fico imaginando aquela pequena correndo pela minha casa e falando coisas engraçadas.

* * *

Marcelo sai do banheiro e eu sinto o cheiro de sua loção pós barba. Ele me encara e vem em minha direção.

― Precisamos conversar.

― Você está atrasado, meu amor.

Ele sorri.

― Eu te amo. Quero te pedir desculpas por causa do lance da aposta. Eu agi como um tolo.

Lembro-me da mensagem de Laura e da ligação daquela outra mulher e me afasto um pouco.

― Vou tomar um banho. Estou muito suada. Ah!... Sandra decidiu ficar um tempo em casa com a filha, portanto lembre de não cobrar o aluguel dela.

Ele coça a cabeça e diz que está tudo bem. Eu subo a escada e não consigo ouvir direito o que ele falou. Talvez tenha dito que me ama. Não consegui entender mesmo.

Eu olho pela janela e vejo Marcelo saindo. Ele para diante da casa de Laura. Ela aparece no portão e olha em direção a minha casa, depois abre a porta do carro e entra.

É só uma carona. Ela estuda de manhã.

Eu insisto nisso, mas há uma voz sussurrando em meu ouvido que não é só isso. A dúvida me invade a alma e eu fico extremamente agitada. Tenho vontade de ir atrás dele e tirá-la do carro.

Mar de rosas e de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora