Quando estou voltando da minha caminhada matinal, Sandra me grita do seu portão.
― Posso falar com você?
Digo que sim e começo a fazer uns alongamentos. Ela se aproxima de mim.
Estou suada e sôfrega.
― Eu andei pensando nas suas propostas...
― Vamos entrar?
― Agora não. Isabel ainda está dormindo.
Eu passo uma toalha no rosto e fico esperando que ela continue. Dentro de mim há uma torcida para que ela tenha escolhido deixar a pequena comigo. Estou ansiosa pra ouvir esta resposta. Não sei por que, mas criei uma expectativa.
― Sabe, acho que preciso ficar mais tempo com Isabel. Eu viria aqui ontem te dar a resposta, mas tive um dia tumultuado no trabalho e...
― Com quem você deixou Isabel? ― interrompo desapontada.
― Deixei com minha sogra.
― Eu adoraria ter cuidado dela, mas entendo você. Também sou uma estranha.
Ela fica sem graça e evita olhar em meus olhos.
― Não é isso. É que... como eu ia dizendo, meu dia ontem foi complicado. Estou defendendo um sujeito acusado de matar a esposa e a família dela está me pressionando a deixar o caso.
Eu paro de me alongar.
― Estão te ameaçando?
― Não. Só me pressionando mesmo. Mas eu não vou abrir mão, até porque eu acredito na inocência dele. Eu o conheço da faculdade. Estudou com meu marido.
Ela olha para a sua casa e depois se vira pra mim.
― Eu vou ficar com minha filha. Já conversei com um colega e ele vai assumir todos os meus processos. Só vou cuidar deste que eu acabei de te falar. Então o dia que eu precisar, se você não se importar é claro, eu deixo Isabel com você.
― Que ótimo!
Ela me agradece e se afasta.
Fico imaginando aquela pequena correndo pela minha casa e falando coisas engraçadas.
* * *
Marcelo sai do banheiro e eu sinto o cheiro de sua loção pós barba. Ele me encara e vem em minha direção.
― Precisamos conversar.
― Você está atrasado, meu amor.
Ele sorri.
― Eu te amo. Quero te pedir desculpas por causa do lance da aposta. Eu agi como um tolo.
Lembro-me da mensagem de Laura e da ligação daquela outra mulher e me afasto um pouco.
― Vou tomar um banho. Estou muito suada. Ah!... Sandra decidiu ficar um tempo em casa com a filha, portanto lembre de não cobrar o aluguel dela.
Ele coça a cabeça e diz que está tudo bem. Eu subo a escada e não consigo ouvir direito o que ele falou. Talvez tenha dito que me ama. Não consegui entender mesmo.
Eu olho pela janela e vejo Marcelo saindo. Ele para diante da casa de Laura. Ela aparece no portão e olha em direção a minha casa, depois abre a porta do carro e entra.
É só uma carona. Ela estuda de manhã.
Eu insisto nisso, mas há uma voz sussurrando em meu ouvido que não é só isso. A dúvida me invade a alma e eu fico extremamente agitada. Tenho vontade de ir atrás dele e tirá-la do carro.
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Mar de rosas e de espinhos
Mystery / ThrillerQuando a desconfiança entra na vida de Isabel e Marcelo, o mar de rosas em que vivem se transforma num emaranhado de espinhos e ambos podem sair feridos. Com a morte do pai dela alguns segredos do passado são revelados, e só então começam a saber q...