Mar de rosas e de espinhos

Capítulo 15 - Isabel

Eu vou esperar mais dois dias. Se Marcelo não me procurar vou propor separação. Tenho certeza que ele ficará assustado e então fará as pazes comigo. Nunca ficamos tanto tempo brigados assim. Ele sempre me procura e tudo se resolve, eu sempre perdoo. Não sou uma pessoa difícil, nunca relutei em perdoá-lo por nossos desentendimentos.

Ele está muito estranho de uns dois dias para cá. Ele me olha com ternura e parece que espera que eu diga algo, mas eu não tenho nada pra dizer enquanto ele não se pronunciar. Quer dizer, enquanto ele não me pedir perdão.

Marcelo me ama, eu sei. Ele está pensando nas palavras certas pra me dizer, pois com certeza não quer me magoar de novo. Ele sabe que foi muito rude comigo e me insultou friamente sobre aquela história da aposta. Eu fiz mesmo uma aposta, mas...

Ouço um celular tocando. Olho para os lados e vejo o celular de Marcelo sobre a bancada da cozinha.

Número desconhecido.

Atendo.

― Marcelo, por que não atende minhas ligações? Você disse que me retornaria e...

Eu fico muda. A mulher continua:

― ... nada. Por que está me evitando? Eu preciso de você. Vamos nos encontrar hoje?

Eu apenas desligo o celular. Fecho os olhos e sinto meu coração acelerar. Ele não pode estar me traindo. Se ele fizer isso comigo eu o mato. Acabo com a raça dele.

Eu não me controlo e vasculho o celular.

Há várias chamadas daquele mesmo número, mas uma mensagem me chama a atenção. É de Laura.

"Quando ela não estiver em casa me liga! Beijos"

Quem é o homem que dorme comigo todas as noites? Quem é o homem que jurou fidelidade a mim até os últimos dias de nossas vidas? Eu não posso acreditar no que estou vendo.

Minha cabeça começa a girar, meu mundo cai mais uma vez sobre mim. É por isso que até hoje ele não me procurou. Está saindo com estas vadias, ou só com uma delas?

Quando ela não estiver em casa me liga!

O que eu faço agora?

Tenho vontade de quebrar o celular, tenho vontade de quebrar a casa toda.

Isso não está acontecendo.

Saio desorientada e sento no primeiro degrau da escada.

A ideia de estar sendo traída faz o meu sangue ferver e alimentar um monstro adormecido que há dentro de mim: o ódio.

Eu não quero explicações de Marcelo. Não quero nem tocar no assunto. Sei que ele vai inventar um monte de desculpas como todos fazem e no fim das contas eu ainda sairei como culpada. È assim que sempre acontece.

Eu não suporto a ideia de ser trocada, de ser passada pra trás. Será que a vida toda serei trocada por outra?

Sinto lágrimas banharem meu rosto. Levanto-me agitada e fico andando de um lado para o outro. Preciso agir com naturalidade quando ele chegar. Daqui a pouco ele chega do seu jogo de tênis.

Será que é lá que ele tem se encontrado com suas amantes? Desde quando?

Tenho vontade de ir até a casa de Laura e quebrar a cara dela, mas vou fazer pior. Preciso mostrar a ela que não se mexe com homem casado. Preciso mostrar que Marcelo é meu. Será sempre meu e de mais ninguém.

Isso é loucura. Não está acontecendo nada disso. Marcelo é fiel a mim. Ele me ama. Não seria capaz de me trair. Eu o conheço.

A voz daquela mulher ao telefone não me sai da cabeça. Ela me pareceu tão íntima dele. Por que não perguntei quem era? De repente foi engano. Não. Não foi. Ela disse Marcelo. Ah! Que merda! Quantos Marcelos há no mundo?

Acho que não quero ver o que está claro pra mim por medo de ser abandonada, rejeitada e humilhada.

O que há de errado comigo? O que fiz para merecer isso? Eu sou uma boa esposa, uma boa companheira. Onde foi que eu deixei a desejar? Quando foi que dei espaço para outra mulher entrar na vida do meu marido?