Eu entro em casa e Roberta vem ao meu encontro. Está um tanto assustada.
― Senhor Marcelo, a dona Isabel não está passando bem. Está lá em cima no quarto. Eu disse pra ela chamar...
Eu não espero ela terminar de dizer e subo as escadas correndo.
Isabel está encolhida sobre a cama. Ela se assusta com minha entrada abrupta.
― Não estou passando mal ― diz secamente. ― Roberta é exagerada e já deve ter enchido sua cabeça.
Eu me aproximo dela e sento na beirada da cama. Passo a mão em seu rosto. Ela está ardendo em febre.
― Você já mediu sua temperatura? Está quente como uma brasa.
― É só uma febre. Já tomei um remédio.
Eu olho preocupado para ela. Está abatida. Vejo dor em seus olhos, e bem no fundo um vazio que me corta o coração. Um vazio que venho tentando preencher, mas sei que não posso. E isso me faz sentir impotente. Acho que não estou sabendo lidar com esta situação.
Isabel está cada dia mais instável. Há dias que ela chora muito e se queixa de tudo e de todos, e em outros ela se diz liberta de todas as mentiras do passado e que sua vida terá um novo rumo, mas de repente tudo se transforma em lágrimas e lamentações.
E por mais que eu tente, ela está distante de mim. Sempre me olha de um jeito estranho, parecendo desconfiada. Sinto que está insegura, e tudo o que eu faço para lhe mostrar que estou do seu lado parece em vão.
Tudo isso mexeu muito com seus sentimentos e eu sei que ela tem medo que eu a decepcione. Talvez olhe para mim e pense que sou igual ao pai dela. Não sei o que se passa na sua cabeça. Apenas presumo e faço o melhor para agradá-la.
― Hoje encontrei Laura e ela perguntou se você já começou a fazer a pintura dela.
― Comecei. Apenas pra me distrair um pouco.
― Tudo bem. Vou dizer a ela.
Eu fico com Isabel até a febre baixar e depois descemos juntos para almoçar.
― Se quiser eu não volto para o trabalho, meu amor.
― Não precisa. Eu estou bem.
― Acho que a senhora deveria ir ao hospital dona Isabel ― diz Roberta olhando para ela receosa.
Ela apenas balança a cabeça em sentido negativo.
― Ah! Isabel, amanhã chegará a nova moradora da chácara ao lado. É uma viúva. Ela tem uma linda garotinha.
― Já alugou? Você está bom nos negócios mesmo hein? Faz apenas uma semana que ficou desocupada...
― A nossa equipe de trabalho é muito competente. Eles estão terminando a pintura hoje e amanhã já teremos uma nova vizinha.
― Que diferença faz? ― Indaga com os olhos perdidos. Aquele olhar para o vazio de si mesma. Uma voz quase inaudível, um sussurro talvez.
Roberta me olha preocupada. Sei que espera uma atitude minha, mas o que posso fazer? Eu gostaria de saber, mas no momento não sei. A única coisa que sei é que Isabel está em pedaços e eu não sei como restaurar. Se amor bastar, ela será curada porque eu a amo intensamente.
Isabel está como alguém que se perdeu na estrada e não sabe o caminho pra casa. Ou talvez nem se lembre mais que tem uma casa, um porto seguro onde ela poderá se sentir segura outra vez. Mas eu estou aqui e vou esperar pacientemente até ela voltar.
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Mar de rosas e de espinhos
Misteri / ThrillerQuando a desconfiança entra na vida de Isabel e Marcelo, o mar de rosas em que vivem se transforma num emaranhado de espinhos e ambos podem sair feridos. Com a morte do pai dela alguns segredos do passado são revelados, e só então começam a saber q...