A casa está vazia.
O silêncio é perturbador. Jogo-me no sofá e me pergunto onde está Isabel. Tiro o celular do bolso e ligo. Ela demora atender.
― Cheguei ― digo.
― Já estou indo pra casa ― ela diz e desliga em seguida.
Subo até o quarto e visto uma sunga de banho. Quero nadar um pouco. O dia está nublado e continua abafado.
Passo pela cozinha e vejo que o almoço está pronto e intocado.
Onde será que elas foram?
Sigo até a piscina e ensaio o meu melhor mergulho. Água espirra para todo o lado.
Vou bem rente ao fundo da piscina e nado até a outra borda. Fico de pé e balanço a cabeça pra tirar água do cabelo. Ele está um pouco grande. Apoio os braços na beirada da piscina e fico olhando as plantas à minha frente. Lembro-me de quando construímos esta casa. Isabel estava toda eufórica e fazia mil planos para nós dois. Seu pai sempre aparecia e dava sugestões.
Como a vida pode mudar tão de repente? Como o brilho do nosso olhar pode se apagar em questão de minutos! Ou talvez segundos... Nada é definitivo nesta terra, nada é imutável. Ah! Meu Deus! Não quero pensar nessas coisas. Quero relaxar, estou de férias.
Nado mais um pouco e vou para dentro ao ouvir o carro chegando. Troco de roupa rapidamente e desço.
Isabel continua sentada e não olha em minha direção. Roberta olha para ela e fica desconcertada, depois vira para mim e me diz:
― Bom dia! Sente-se, eu já vou servir a comida. Estou esquentando, pois acho que esfriou muito.
Eu me sento ao lado de Isabel e enlaço sua cintura. Ela permanece fria e de cabeça baixa. Eu dou um beijo em seu rosto.
― Está acontecendo alguma coisa?
― Sandra foi embora ― diz Roberta. Eu me assusto e volto minha atenção para ela. ― Nós fomos até a rodoviária levar, Isabel. Eu tive que ir porque não tinha cadeirinha para a menina, então...
― Mas o que aconteceu? ― Eu interrompo. ― Você se desentendeu com ela, Isabel?
Ela se vira para mim e balança a cabeça. Não sei o que ela quer dizer com este sinal, mas sei que não é nada bom.
― Está pronto ― diz Roberta aproximando-se da mesa e pegando meu prato. ― Vou servir para o senhor.
― O que aconteceu, Isabel?
Ela se levanta e me encara furiosa. Sinto sua respiração alta e sei que vai explodir.
― Muitas coisas. Mas você não estava aqui para ver.
Eu raspo a garganta e olho para Roberta, que para no meio do caminho e não sabe se sai da cozinha ou se continua a nos servir.
― Eu não sei o que dizer ― é a única coisa que consigo falar. Não sei o que aconteceu e muito menos o que se passa na cabeça de Isabel agora.
― Eu já imaginava que não tinha nada a dizer. Mas eu tenho muito a dizer, Marcelo.
― Senta, meu amor, vamos comer primeiro. Depois a gente conversa. Eu também tenho um assunto sério pra falar com você.
Ela fica estática e senta-se devagar, parecendo um efeito de câmera lenta. Fica silenciosa durante toda a refeição.
* * *
Isabel entra e senta-se na cama.
― Diz o que tem pra me dizer!
― Não. Primeiro quero saber o que está acontecendo com você. Eu passei a noite fora e quando chego você me recebe com uma frieza como se eu estivesse feito algo abominável.
― Não está acontecendo nada. Sandra é uma assassina mentirosa. Só isso. Está fugindo da polícia.
Ela me conta toda a história e eu fico assustado. Não pra acreditar. Ela parece tão delicada, tão frágil.
― Mas você não podia ter ajudado aquela mulher! Se a polícia descobrir...
― Fiz por causa da menina! Não quero que ela seja criada longe da mãe. Ter uma mãe na cadeia não deve fazer bem a uma criança.
Eu fico sem palavras por um momento. Eu compreendo sua atitude e a contemplo com orgulho.
― Com certeza ter uma mãe na cadeia não é nada bom para uma criança. Você fez muito bem.
Ela me olha encabulada e eu penso que vai fazer alguma pergunta, mas ela se levanta e vai até a janela, depois se vira para mim. Eu sei que ela quer ouvir o que eu tenho pra dizer.
― Eu preciso falar com você sobre Iolanda.
Ela me olha assustada, os olhos parecem que vão saltar de suas órbitas.
― Não estou preparada para ouvir. Por favor!
― Mas eu preciso falar. Não é justo...
― Marcelo! ― Ela coloca as mãos nos ouvidos. ― Não diga mais nada! Agora não!
Eu espalmo as mãos e digo que está tudo bem, mas não entendo sua reação. Tento me aproximar dela, mas Isabel me afasta e diz pra eu deixá-la sozinha.
― Meu Deus! Eu não sabia que você estava tão envolvida com Sandra pra ficar desse jeito com sua partida.
Ela me lança um olhar indecifrável e eu acho melhor descer.
Roberta me olha desconfiada e continua a arrumar a cozinha.
― Vou sair. Se ela perguntar, diga que fui resolver um assunto urgente.
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Mar de rosas e de espinhos
Mystery / ThrillerQuando a desconfiança entra na vida de Isabel e Marcelo, o mar de rosas em que vivem se transforma num emaranhado de espinhos e ambos podem sair feridos. Com a morte do pai dela alguns segredos do passado são revelados, e só então começam a saber q...