Capítulo 13 - Isabel

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Ontem Marcelo não foi para o quarto. Esperei que fosse, mas desta vez ele deve ter dormido no sofá ou no quarto de hóspedes. Mas foi escolha dele e eu respeito.

Quando ele retornou da praça eu vi pela janela quando parou e ficou conversando com Laura. Ela estava indo em direção à praça e os dois se encontraram pelo caminho. Conversaram uns dez minutos e vi os dois rindo várias vezes. Depois se despediram e ela olhou para trás. Tenho certeza que era pra ver o bumbum dele.

E hoje iremos à casa dela para o tal churrasco. Não sei como será. Na hora do almoço, Marcelo mal me cumprimentou, mas diante dos outros somos peritos na arte do fingimento. Ninguém perceberá que estamos brigados, e principalmente aquela menina não poderá perceber nada de anormal.

Eu me afasto um pouco da tela e contemplo meu trabalho. Falta pouca coisa para terminar o retrato de Sr. Osvaldo. Não vejo a hora de terminar e ficar livre da presença dela aqui.

Hoje logo que Marcelo saiu, ela veio aqui querendo ver o quadro. Ficou encantada e deu gritinhos de euforia. Olhei pra ela reprovando aquela atitude medíocre e ela se conteve. Odeio essas bobagens de adolescentes. Ela já deve ter uns dezoito anos, mas às vezes age como uma menina de quinze. Deve ser mimada demais. Não tenho paciência com isso.

Encerro meu trabalho por hoje e vou até o jardim. Vejo minha mãe saindo de sua casa, mas ela não me vê. Tenho vontade de ir até lá, mas fico só observando e depois entro em casa novamente. Vou para o meu quarto.

Marcelo chega daqui a pouco, então vou para a banheira e tomo um banho relaxante.

Ele precisa conversar comigo. Precisa me pedir desculpas. Sei que vai pedir. Ele sempre faz isso. Não consegue ficar brigado comigo por muito tempo. Ele é dependente de mim. Ele me ama...

* * *

Quando chegamos à casa de Laura eu seguro na mão de Marcelo. Ele me olha e balança a cabeça reprovando minha atitude, mas o que importa é que ele não solta minha mão.

Logo após tocar a campainha, o irmão de Laura aparece na porta e pede que entremos.

Laura vem ao nosso encontro. Ela está usando um vestido vermelho com flores brancas pequenas. Ela sorri e diz para ficarmos à vontade.

― Precisa de ajuda pra alguma coisa? ― indago sorridente e percebo Marcelo me olhar furtivamente.

― Não, obrigada. Podem ir se sentar lá na área de churrasco.

Sr. Osvaldo nos conduz até uma área bem arejada e decorada com muito bom gosto.

Marcelo solta minha mão e se senta em uma cadeira de madeira. Imediatamente Laura se aproxima e pergunta o que queremos beber.

― Cerveja ― Marcelo diz.

― Dois copos ― eu digo e sorrio maliciosamente para Marcelo.

Laura sai rebolando e eu fico atenta para ver se Marcelo olhará para seu bumbum, mas ele está concentrado com o paliteiro na mesa. Gira-o para um lado e para o outro e não diz nada até ela voltar com a cerveja e dois copos.

― Fiquem à vontade. Se precisarem de alguma coisa.

― Não se preocupe conosco querida ― digo. ― Estamos bem. Não é, meu amor?

O irmão dela chega até nós e coloca um prato de carne assada. Eu pego um pedaço e ofereço para Marcelo. Ele falta pouco me matar com o olhar, mas eu finjo que está tudo bem e dou o melhor sorriso que consigo.

― Não force a barra, Isabel! ― sussurra ele.

― Está uma delícia, não está, meu amor?

Ele se levanta e vai em direção a Sr. Osvaldo.

Eu o acompanho com o olhar e fico desconcertada com o que vejo em seguida.

Amanda e Júlia, a mulher que nunca foi minha mãe.

Quando elas me veem ficam paralisadas, mas agora é tarde pra voltar. Assim como é tarde pra mim, mas daqui a pouco invento uma dor de cabeça e vou embora.

Elas se aproximam de mim e nos cumprimentamos entredentes. Acho que nenhuma de nós quer expor a situação que estamos vivendo diante daquelas pessoas.

Sinto meu sangue ferver. A perna parece que vai se desgarrar de mim de tanto que ela treme.

Marcelo retorna e senta-se. Acho que ele pensa que vou fazer alguma besteira, mas é claro que não estou pensando nisto. Sou educada e ele sabe disso.

― Que surpresa boa encontrá-los aqui! ― diz Amanda olhando para Marcelo.

― Muito! ― Sorrio e tenho vontade de quebrar todos os dentes dela.

Marcelo fica inerte. Não consegue disfarçar o embaraço.

― Vamos colocar mais uma mesa aqui. Aí ficaremos todos juntos ― disse Laura toda sorridente e eu chego a pensar que ela sabia de tudo e armou este encontro. Mas com que propósito?

Eu olho para ela e fico pensando o que se passa em sua cabeça. Será que não percebe que nos colocou no meio de um emaranhado de cordas e quanto mais nos debatemos mais nos prendemos nelas?

Marcelo se levanta e aproxima do churrasqueiro. Ele me deixa de propósito junto de Amanda e...

― Você não parece bem ― diz Júlia interrompendo meus pensamentos.

― Eu deveria estar? ― respondo em um sussurro, mas quem me vê de longe enxergará um lindo sorriso em meu rosto.

Depois me viro para Amanda e pergunto por que ela contou ao Marcelo sobre nossa aposta.

― Ele precisava saber. Mas não se preocupe eu não falei que você só está com ele porque tem medo de perdê-lo pra mim. E você sabe muito bem que a nossa química é vulcânica.

Eu trinco os dentes e viro meu pescoço para os lados. Tenho vontade de dar um tapa bem dado bem no meio da cara dela.

Laura nos serve mais um pouco de carne e sai.

Vejo ela e Marcelo conversando perto da churrasqueira. Ela sorri e coloca a mão na cabeça dele bagunçando seus cabelos. Ele se vira para mim e percebe que eu estava observando. Dá um sorriso sem graça e vem em minha direção.

― Vamos embora!

* * *

Eu entro na frente e vou direto para a cozinha. Abro a geladeira e pego uma jarra de água. Sirvo um copo e bebo como alguém que estava em um deserto.

Marcelo vai direto para o quarto e não troca uma palavra sequer comigo.

Eu ligo a TV e assisto um telejornal. Depois começa a passar um filme de comédia, mas não acho graça nenhuma então desligo e subo. Sei que ele está me esperando e vai me pedir desculpas e tudo voltará ao normal entre nós de novo. Ele sabe que na hora da raiva eu digo coisas que não queria dizer. Ele já está acostumado. Eu também. Nós sempre nos entendemos quando ele me procura pra conversar. Sempre nos perdoamos e voltamos a ser o casal feliz de sempre porque nos amamos.

Abro a porta do quarto e acendo a luz. O quarto está gelado. O ar condicionado deve está abaixo de zero. Eu me encolho e aproximo da cama.

Ouço Marcelo ressonando. Tenho vontade de acordá-lo e perguntar até quando continuará me ignorando. Ele está cansado. Talvez acorde no meio da noite e me abrace e me deseje. E então faremos amor depois que ele me pedir desculpas. Eu me entregarei toda a ele.

Quase não há espaço para mim, ele está deitado em transversal. Parece que fez de propósito. Parece que não me quer do lado dele. Ah! Mas eu não vou sair daqui. Queira ou não eu vou deitar na minha cama.

Mar de rosas e de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora