Capítulo 1 - Perla

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Minha mãe me deixou na entrada do Acampamento.

Quando ia entrar, ela me puxou para um abraço e me deu um beijo na testa. Ao longo dos últimos meses, ela tinha realmente tentado se reaproximar de mim. Ela passou menos tempo no mar e mais tempo comigo. Procurou uma escola em que eu me encaixasse pelo menos um pouco e fez questão de me perguntar todos os dias como meu dia havia sido.

- Você vai voltar depois das férias, não vai? – Ela me perguntou.

Eu franzi as sobrancelhas. Jamais poderia imaginar que passando nove meses com minha mãe, ela ia se tornar sentimental desse jeito. Ela estava quase chorando.

- Vou, mãe. – Respondi. – Pode ficar tranquila.

Ela sorriu e concordou com a cabeça. Esperou que eu passasse pela barreira para ir embora. Eu me virei e acenei para ela com um sorriso. Apesar de ela não ser a melhor mãe do mundo, ela estava tentando e era isso que importava.

Quando me virei novamente para o Acampamento, suspirei satisfeita. Minha casa, meus amigos... Tudo o que eu precisava estava aqui. Passei os olhos pela clareira procurando por minhas três melhores amigas que passavam todo o ano no Acampamento. Assim que vi os cabelos negros de Aurora voando ao vento ao lado dos fios castanhos de Giovana, peguei minha mala e corri até elas.

Me joguei nas costas da filha de Zeus e ela quase caiu do banco em que estava sentada. Com seus reflexos de luta, ela se pôs de pé em um segundo e quase sacou a adaga, mas quando me reconheceu, ela relaxou. Aurora ria a seu lado e Anabel, que estava sentada na frente de Giovana e, por isso, fora do meu alcance de visão da colina, sorria.

- Ei, sumida. – A filha de Zeus me cumprimentou antes de me puxar para um abraço. – Como foi em casa?

- Foi bom. – Eu respondi, indo abraçar Aurora em seguida. – E por aqui?

- Nada demais. – A filha de Hades deu de ombros. – Jogamos Captura a Bandeira varias vezes.

- E nem me chamaram? – Brinquei.

Elas riram. Abracei Anabel e nós ficamos algum tempo conversando. Quando decidi ir até minha cabine para arrumar minhas coisas, Giovana e Aurora disseram que iam para a Arena treinar um pouco enquanto Anabel me ofereceu ajuda.

Nós duas caminhamos até a Cabine 3, carregando minha mala entre nós para dividirmos o peso. Quando chegamos e eu abri a porta, percebi que estava sozinha. Percy não havia chegado ainda. Franzi as sobrancelhas, mas Anabel suspirou, aparentemente aliviada. Eu a encarei confusa, mas ela desviou os olhos dos meus, caminhando até minha cama e jogando minha mala lá.

- O que aconteceu? – Eu perguntei.

Anabel abriu minha mala e começou a tirar minhas roupas dela. Nem me importei. Havíamos crescidos juntas e Anabel sempre foi responsável e organizada. Já tinha arrumado meus armários diversas vezes. A filha de Atena tirava minhas camisetas amassadas e franzia o nariz, antes de dobrá-las corretamente e colocadas a seu lado na cama.

- Anabel! – Chamei.

Minha amiga revirou os olhos.

- Não aconteceu nada, tá legal? – Ela rebateu, irritada.

- Não mente pra mim, Anabel...

- Não estou mentido. – Ela respondeu. – Literalmente, não aconteceu nada.

Franzi as sobrancelhas, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, a porta do Chalé se abriu e Percy entrou. Ele sorriu quando me viu e correu até mim para me abraçar. Retribui o gesto com o mesmo entusiasmo.

- Quanto tempo, maninha. – Ele brincou, quando nos separamos. Eu ri.

- Faz tempo mesmo. – Concordei. – Você não corta o cabelo não?

Passei os dedos pelos cabelos longos e negros de meu meio-irmão. Estavam caindo sobre os olhos. Percy deu de ombros.

- Só quando minha mãe me obriga.

- Eu imaginei. – Sorri.

Ele piscou para mim com um sorriso, mas assim que seus olhos viajaram por cima de meus ombros, sua expressão mudou. Ele fechou o sorriso e pareceu, de repente, envergonhado. Me virei e vi Anabel, ainda sentada em minha cama, dobrando minhas roupas, sem levantar os olhos, mas eu podia ver que ela estava com as bochechas vermelhas. Eu só não sabia dizer se era por timidez ou por raiva. Olhei entre os dois e engoli em seco.

Decidi que não queria descobrir.

- Eu, hã... – Balbuciei tentando criar uma mentira decente na minha cabeça. – Eu preciso falar com Giovana.

- Perla... – Anabel murmurou. Eu sabia o que aquele tom de voz queria dizer. Ela estava me alertando.

Nem pense em fazer isso, era o que ela queria dizer.

Já fiz, eu quase respondi.

- Eu já volto. – Sorri para Percy antes de me virar e correr para fora do Chalé.

Eu sabia que no momento Anabel queria me matar. Mas ela também queria matar o Percy, aparentemente. Anabel normalmente queria matar alguém, mas ela nunca matava de verdade, então achei seguro deixar meu meio-irmão com ela. Ela não mataria o garoto que gostava.

Pelo menos, eu esperava que não.


O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora