Capítulo 27 - Aurora

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Finalmente havia dormido.

Depois do que pareceram dias no Mundo Inferior finalmente pude dormir tranquilamente em uma cama. Acordei depois de um sono tranquilo e repousante no meu chalé aconchegante. Me levantei e fiz o que tinha que fazer. Escovei os dentes, troquei de roupa, lavei o rosto e esperei meu irmão, que no caso demora mais que eu para se arrumar.

- Vai demorar ainda? – Perguntei.

- Você que se arruma muito rápido. – Ele respondeu.

- Vou te esperar lá fora, tudo bem?

- Tá. – Ele respondeu.

Então, sai do chalé e me sentei na varanda, em cima da grade de madeira que havia do lado de fora do Chalé de Hades. Aqui, nós acordávamos às 7 horas todos os dias. A concha havia tocado à uns quinze minutos. Observei os chalés caminhando em direção ao refeitório. Apolo, Ares, Hermes. Então o Chalé de Zeus saiu. Giovana e Jason. Ela me viu e acenou para mim. Eu acenei de volta. Alguns minutos depois, vi o chalé de Atena sair. Anabel ia na frente, conversando com um de seus meios-irmãos que carregava um livro. Devia ser muito interessante, pois eu podia ver de longe o brilho nos olhos de ambos. O Chalé de Poseidon saiu pouco tempo depois. Perla ainda estava um pouco murcha, mas ainda tinha espirito o suficiente para acenar para mim com um leve sorriso. De repente, Pólux saiu de seu chalé. Ele não era o único filho de Dionísio no acampamento, mas seus irmãos não deviam o aceitar bem, já que saiu sozinho.

- Felipe! – Gritei para ele, que ainda estava dentro do chalé. – Vou indo na frente.

- Mas, Aurora, Por que você... – Ele espiou pela janela e seguiu meu olhar até Pólux. – Não.

- Não preciso da sua proteção, barra ciúme, de irmão, tá legal?

- Não é ciúme, é...

- Vai logo se arrumar! – Interrompi. – Termina suas coisas depois você cuida das minhas.

Ele me olho feio, mas voltou para dentro. Quando ia descer da grade, uma voz falou atrás de mim:

- Oi. – Pólux disse.

- Oi. – Respondi, me virando para ele, com a mão no coração para disfarçar o susto que ele me dera. Ele sorriu. – Não vai para o refeitório?

- E você?

- Já disse que você não sabe responder perguntas?

- Já. – Ele disse rindo. – Sim, você já me disse. E também me disse que ia me apresentar sua amiga Anabel para ela me ensinar a responder, mas parece que ela não confia em mim.

- Ela não confia em muita gente... – Eu disse, para tentar reconforta-lo. Nós havíamos começado a caminhar lentamente em direção ao refeitório.

- Não me refiro só a ela. Me refiro a todos os seus amigos. E ao resto do acampamento.

Eu sabia que ele tinha razão, mas eu confiava nele. Sabia que ele não trabalhava mais para Luke. Sabia que ele não nos trairia. Eu sabia. Mas por que só eu?

- Eu vou embora. – Ele disse baixinho.

- Como assim "vai embora"? Você não pode ir embora! Você vai para onde?

- Eu não posso ficar aqui.

- O que? É claro que pode! – Eu parei em sua frente, impedindo que ele continuasse a caminhar. – Você vai ficar aqui e ponto final, entendeu?

- Aurora... – Ele disse, pegando minha mão. – Sei que você quer "o melhor para mim", ou sei lá, mas acredite... Me fazer ficar aqui não é a solução para o meu problema.

- Que problema? – Nós estávamos na frente do refeitório e muitos campistas se aglomeraram ao redor de nós, mas eu não ligava. Pólux virou o rosto. – Pólux, escute. O que quer que for nós podemos resolver. Podemos te ajudar.

- Não podem.

- Me conte. O que é? – Pólux me encarou por um instante, mas depois desviou o rosto, balançando a cabeça em negativa.

Anabel, que estava na frente de um grupo de pessoas da roda, cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha. Eu a encarei. Ela virou o rosto e bufou, mas desfez a pose. Pólux ainda segurava minha mão e eu sentia cada vez mais seu toque arder em minha pele.

- Você fica então, não é? – Perguntei.

- Você é muito cabeça-dura. – Ele disse, em um suspiro.

- Não. Eu sou persistente... São duas coisas diferentes.

- Não pra você.

- O que você quis dizer com isso? – Perguntei, tentando soar ameaçadora.

- Nada. – Ele respondeu rindo.

- Você vai ficar aqui, certo? – Perguntei.

- Aurora, você já me perguntou isso.

- Mas você não me respondeu. Nenhuma das vezes. – Eu disse. Ele revirou os olhos. – Fique pelo menos até discutirmos seu problema e resolvermos o que fazer com ele, tudo bem?

- Tá. Tudo bem. – Ele disse.

Eu sorri. Ele riu. Algumas pessoas aplaudiram, mas outras (devo dizer, a maioria do Chalé de Atena) não ficaram muito felizes com a noticia. Não liguei. Pólux estava seguro. Eu não havia percebido, mas nós estávamos nos encarando desde que Pólux havia dito que ficaria. Alguém pigarreou e disse:

- Vou sair daqui, por que isso está ficando meloso de mais para o meu gosto...

- Meloso? – Eu disse, virando o rosto para o outro lado. – Não! Eu não gosto de nada meloso!

- Nada? – Pólux perguntou com um sorriso no rosto. – Nem... Isso.

Então, ele me puxou pela mão para mais perto dele e me beijou. Fiquei sem reação por um minuto, tensa. Mas de repente, relaxei e me deixei levar ela sensação (que alias, é maravilhosa). Novamente, os campistas aplaudiram, e novamente, eu não dei a mínima.

***

Tudo havia retornado à normalidade. Felipe lançava olhares para Giovana que virava o rosto, porém, depois de duas tentativas, ele fechou a cara e desistiu. Estranhei. Perla estava chateada. Não levava no rosto seu habitual sorriso. Estranhei. Anabel lia um livro com um de seus companheiros de chalé, mas vez ou outra levantava o olhar para Percy, que respondia com outro olhar. Isso eu não estranhei. Certo, talvez nem tudo tivesse retornado a mais completa normalidade, mas mesmo assim...

O café da manhã de hoje foi o melhor café da manhã que já tomei em anos. Olhando para os campistas, na paz de mais um dia que começava, eu quase pude acreditar que ficaríamos assim para sempre. Quase.

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora