Capítulo 23 - Aurora

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Estávamos no metrô.

Nós não achamos sensato sairmos, afinal, estávamos em um grupo de sete semideuses e um mortal, o que já seria suficiente para atrair pelo menos, uma dúzia de monstros. Fora isso, Anabel continuava descordada, o que nos tiraria dois dos semideuses, já que Percy não a deixaria sozinha. Ele estava bastante preocupado com ela, mesmo ela tendo desmaiado somente há uns cinco minutos atrás. Tentei curá-la, mas não pude, pois, só posso curar ferimentos. Anabel não estava ferida, somente cansada. Isso serviu para deixar Percy um pouco mais relaxado. Ele estava sentado em um dos bancos com Anabel em seu colo. Eu estava ao lado deles. Giovana e Perla estavam no banco em nossa frente. Pólux, Felipe e Harry estavam, de pé, próximos de nós.

- E agora? – Giovana perguntou. – Vamos ficar aqui?

- Sim. – Perla respondeu. – Até Anabel acordar. Ela provavelmente ainda vai estar fraca, mas não temos escolha.

- E depois? – Felipe perguntou.

- Voltamos ao acampamento. – Respondi. – Só não sei como.

- Do mesmo jeito que viemos. – Percy disse.

- Andando? – Giovana perguntou.

- Não temos escolha. – Eu disse, dando de ombros.

Ouvi alguns protestos por parte deles, mas logo percebi um olhar surpreso no rosto de Percy. Ouvi um resmungo baixo e vi que Anabel se mexia. Percy deu um sorriso enorme. Ela resmungou mais uma vez e então acordou. Seus olhos cinzentos, fixos no meu, demonstraram confusão. Sorri para confortá-la.

- O que aconteceu? – Ela perguntou.

- Você usou seus poderes, mas acho que exagerou um pouco e acabou desmaiando. – Percy respondeu antes de mim.

Anabel levantou o olhar para encará-lo e acho que só então percebeu que estava em seu colo, pois seu rosto ficou vermelho e ela se levantou rapidamente, se apoiando em uma das barras de metal para manter o equilíbrio, já que ela estava meio atordoada.

- Ainda está brava comigo? – Percy perguntou.

Anabel limpou a garganta.

- Onde estamos? – Ela o ignorou. Perla revirou os olhos.

- No metrô. – Ela respondeu. - Estávamos esperando você acordar para podermos sair.

Anabel simplesmente balançou a cabeça concordando.

- Saímos na próxima? – Perguntei.

- Sim. – Ela respondeu.

Quando o trem parou na estação, nós descemos. Todos estavam prontos para o perigo, afinal, que monstro não se deliciaria com um prato cheio como sete semideuses? Perla havia mandado Harry não sair de perto dela, e foi o que ele fez. Não que fosse um sacrifício muito grande para ele, mas...

Andamos algumas quadras. Anabel parava de vez em quando, se apoiava na parede, respirava fundo e fechava os olhos, para fazer passar a náusea que sentia. Em uma dessas paradas, ela abriu os olhos de repente e perguntou:

- Quanto já andamos?

- Umas... Hum... Vinte quadras, eu acho. - Respondi.

- E nenhum monstro nos atacou ainda? O que está acontecendo?

Pólux recuou um passo, mas deixei isso para lá. Anabel não gostava dele... Eu não podia dar-lhe mais um motivo para desconfiar dele. Ela o encarou, e ele se encolheu um pouco. Ela o analisou de cima a baixo, com um olhar reprovador, mas virou o rosto e disfarçou. Ela suspirou.

- Bem... Quanto menos monstros melhor, certo? – Eu disse, para quebrar o gelo. – Podemos ir?

Ela balançou a cabeça, concordando. Anabel nos fez voltar ao acampamento pela estrada, o que eu achei um tanto desnecessário, já que nenhum monstro havia nos atacado no centro da cidade, mas eu não discutiria. Não com Anabel. Ela já estava melhor. A pele mais corada, o sorriso de volta ao rosto e a alegria e a força de volta ao espírito. Ao longo do caminho, riamos de piadas bobas, ou histórias engraçadas, o que fez o caminho parecer muito mais curto.

Caminhamos por mais algumas horas. Estávamos famintos, com sede e sujos. Precisávamos chegar logo ao acampamento. O Sol estava se pondo. Deviam ser umas seis da tarde. De repente, avistei a colina e soltei um pequeno grito de alegria.

- De volta ao lar. – Sussurrei para mim mesma, mas para minha surpresa, Pólux me ouviu.

- Seu lar. – Ele disse. – E eu? Esse não é o meu lar.

- Não. Você tem razão. Não é. Mas pode ser. Você pode ficar aqui.

- Aurora...

- Eu confio em você. Sei que não vai nos trair. Sei que não vai me trair. Eu confio em você.

- Não deveria... – Foi tudo o que ele me disse, antes de se afastar.

Suspirei. O que eu iria fazer? Sabia que não seria fácil, afinal, eu me apaixonei pelo garoto que trabalhou para meu inimigo, mas... Ele o traiu não foi? Ele não trabalha mais para Luke, não é? Se trabalhasse, meu pai não o teria raptado ou começaria uma guerra. Pólux não trabalhava mais para Luke. Ele estava do nosso lado. Eu sabia que estava.

Estava tão distraída com meus pensamentos, que esbarrei em Anabel. Ela estava parada, pouco antes da barreira do acampamento, olhando para o lado oposto de sua casa, olhando para o mundo mortal. O pouco dele que víamos daqui de cima.

- Foi fácil demais, você não acha? – Ela perguntou, sem nem olhar para mim.

- O que quer dizer?

- Quero dizer... Onde estão os monstros? Por que eles não nos atacaram, afinal, nós erámos um prato cheio. Não necessariamente um alvo fácil, mas valeria a pena o risco.

- Você está reclamando? – Perguntei indignada.

- Não! – Ela pareceu um tanto ofendida. – Eu só me pergunto... Para os monstros não terem nos atacado, eles têm de estar fazendo algo mais... Importante.

Ela me encarou e eu entendi o que ela quis dizer. E eu sabia que ela tinha razão. Mas eu não podia (na verdade, não queria) me preocupar com isso agora. Não agora que nossa missão tinha dado certo, que todos estavam bem. Acho que ela entendeu, pois sorriu para mim e disse:

- Acho que podemos discutir isso mais tarde... Agora, tudo o que eu quero é comer, tomar um banho e dormir.

Eu ri. Então subimos o restanteda colina juntas em direção ao acampamento.   

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora