Capítulo 24 - Giovana

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Tínhamos um pequeno problema.

Harry era mortal. Ele não conseguia atravessar a barreira da Árvore de Thalia. Perla começou a se desesperar um pouco, pois ela não acreditava que havia esquecido desse detalhe. Finalmente, Anabel e Aurora apareceram. A filha de Atena reparou no desespero da amiga e perguntou por que ela estava daquele jeito. Ela lhe contou.

- Ei, relaxe! – Anabel disse, rindo. – Vamos falar com Quíron e resolver isso. Sempre resolvemos, não é?

Perla abriu um sorriso e concordou.

- Certo, vocês entram, falam com Quíron que eu espero aqui fora.

- Aqui fora? – Percy perguntou. Anabel o encarou. – O que foi? Ela não pode ficar aqui sozinha.

- Por que não? – Ela perguntou.

- Por que... Ora essa, os monstros.

Anabel revirou os olhos.

- Claro. – Então se virou e caminhou em direção a Casa Grande. – Quero você aqui, Perseu. – Ela disse, sem nem olhar para ele.

Ele bufou, mas caminhou até ela. Todos nós soltamos uma risada. Passei o braço pelos ombros de Aurora, me virei para Perla e disse:

- Vou com eles. Fique bem, certo?

Ela concordou com a cabeça. Eu, Aurora, Felipe e Pólux começamos a caminhar em direção à Casa Grande. De repente, senti um calafrio percorrer meu braço. Felipe. Ele me puxou de leve para trás. Aurora deve ter entendido que o irmão queria falar comigo, por isso, continuou andando, sem nem ao menos olhar para trás. Endireitei o corpo. Mesmo assim, ele era mais alto que eu, por isso, não teve dificuldade alguma ao cochichar em meu ouvido:

- Preciso falar com você.

- Sobre o que?

- Só venha comigo, tudo bem?

Suspirei. Ele pegou minha mão e me guiou pela floresta até para ao pé de uma árvore qualquer. Ele se apoiou no tronco e me encarou. Sustentei seu olhar somente por educação, mas houve um momento em que tudo ficou desconfortável. Desviei o rosto e limpei a garganta. Somente então ele começou a falar.

- Queria te pedir desculpa.

- Pelo que, exatamente?

- Pelo modo como te tratei quando... Você sabe... – Seu rosto estava corado.

- Quando o que? – Eu realmente não estava entendendo.

- Quando eu... Lá no Mundo Inferior... Quando eu libertei meu "lado Hades".

Ah, era isso? Era por isso que ele estava se desculpando? Por ser igual ao pai? Bem... Tudo bem que eu não gostei nem um pouco do que ele fez comigo quando libertou seu "lado Hades". Mas não era só por isso que eu estava brava com ele.

- Só isso? – Perguntei.

- Como assim "só isso"?

- Só isso? – Repeti.

- Pelo que mais você quer que eu me desculpe? – Ele gritou. – Não sei mais o que fazer Giovana! Estou cansado de sempre correr atrás de você e você simplesmente pisar em mim. Eu não aguento mais isso! – Ele estava muito irritado. Seu rosto estava vermelho, mas não de vergonha. De raiva.

- Então você devesse fazer menos burrada! – Soltei. Estava irritada também. Estava gritando.

- O que?

- É isso mesmo! – Disse, com a voz mais controlada.

- Giovana... – Ele me disse em tom de advertência.

- O que foi? Vai libertar seu lado Hades? Você acabou de se desculpar por isso. Vai fazer de novo?

Assim que as palavras saíram de minha boca, eu me arrependi delas. Ele me encarou com os olhos arregalados. O queixo travado, os punhos fechados tremendo. Seu olhar era o mais assustador que já vira. O negro deles quase me engolia por inteiro. Levei as mãos à boca.

- Desculpe... – Eu disse, quase em um choramingo. – Fê, eu sinto muito... Eu não quis.

- Você está se desculpando? Não acredito. – Ele se virou e começou a caminhar em direção ao seu chalé. – Você é insuportável, sabia? – Ele gritou, quando se virou para mim. Depois, voltou a tomar seu rumo.

Fiquei parada, somente encarando a arvore em que há alguns segundos atrás, Felipe estivera apoiado. Uma lágrima escorreu. Eu sabia que havia passado dos limites, mas... A culpa não era minha. Não era! Ele também havia passado dos limites. Ele que estava dando em cima de outra garota, ele que mesmo sabendo que eu gostava dele não me pediu em namoro. Ele.

Bom, ele sabia que eu gostava dele, mas será que ele ainda gostava de mim? Depois de tudo isso? Não que eu tenha feito algo que ele não merecia... É só que... Talvez eu tenha exagerado um pouco.

Não importa. O que importa é o agora. O que vem depois, fica para depois. O que eu sabia é que eu não ia deixar barato. Eu não ia terminar uma briga sem dar a ultima palavra. Disso eu sabia, eu só não sabia qual seria a ultima palavra, por isso, disse o que estava em minha mente.

- Você também é! – Gritei. Suspirei quando percebi que ninguém além das ninfas da floresta me ouviriam. – Insuportável. 

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora