Capítulo 7 - Anabel

7 2 0
                                    

Como ele podia ser tão idiota?

Ele esqueceu! Será possível que ele tenha conseguido esquecer o horário? Nós não tínhamos passado nem do meio-dia! Ah, deuses! Que raiva! Mas, enfim... O importante é que eu, Perla e Giovana estávamos caminhando (sim, caminhando) para a cidade para chegarmos ao metrô. Segundo meus cálculos chegaríamos ao nosso destino pelo menos duas horas antes do horário necessário.

- Você está brava com o Percy, não é? – Perguntou Perla.

- Brava? BRAVA? Não, eu não estou brava com ele. Eu estou FURIOSA com o seu irmão. Deuses, ele só pisa na bola!

- Eu sei. Mas ele gosta de você. E você sabe.

- Ele gosta? Então ele podia pelo menos demonstrar.

- Ai, Anabel! – Ela reclamou.

- É, sei bem como é ser ignorada. – Intrometeu-se Giovana.

- Pelo menos ele foi se despedir. Ele LEMBROU de se despedir de você.

- É. Sinto muito, Bel. – Disse Giovana.

- Tudo bem. Não é culpa sua.

- Vocês duas são umas azaradas. – Perla disse rindo.

Revirei os olhos. Ia citar aquele garoto, mas eu precisava de mais informações. Ela deve ter entendido o que eu estava pensando pois, discretamente, levou o dedo indicador para os lábios como se dissesse: "Quieta". Eu ri, mas concordei com a cabeça. Continuamos andando e conversando e quando me dei conta já eram três da tarde. Minha barriga roncava.

- Estou com fome. – Eu disse – E vocês?

- Também. – Responderam.

Olhei em volta a procura de uma lanchonete. De repente, vi uma casa. Estranhei, normalmente não haviam casas na beira da estrada. Sim caminhávamos pela estrada, afinal, qual a chance de um monstro achar semideuses (conhecidos também como "lanchinhos") em uma estrada? Então achei mais seguro irmos pelo caminho mais longo. Olhei para a casa. Era simples. Nada muito extravagante. Ela era composta, basicamente por uma janela, uma porta, quatro paredes, um telhado e uma chaminé. A tinta que cobria as paredes era de um lindo tom de verde.

- Vamos lá! – Disse Perla. Ela avançou. A segurei pelo braço.

- Você não acha nem um pouco suspeito uma casa no meio da estrada? – Perguntei.

De repente, um cheiro tomou conta de mim. Fechei os olhos. Me lembrei dos sanduiches que Lurdes fazia para mim. Alface, tomate, cenoura, atum e maionese. Hum... Delicioso! Todas estavam com água na boca. Imaginei que elas também estavam sentindo esse cheiro.

- Suspeito ou não... Eu ainda estou com fome. – Giovana disse.

Cedi. Eu também estava com fome. E aquele cheiro... Deuses! Paramos na frente da porta da casa. Olhei para as meninas. Elas esperavam que eu abrisse a porta. Hesitei, mas avancei a mão para a maçaneta, mas antes que pudesse tocá-la, a porta se abriu sozinha. Entramos. A cada passo que dávamos, o chão abaixo de nós rangia, como se as tábuas do chão estivesse prontas para pularem em nossa direção.

- Estava esperando por vocês. – Uma voz disse no fundo da casa.

- Quem é você? – Perguntei.

- Ah, sim. Que grosseria a minha! Eu sou Deméter. – Ela avançou um passo, e eu pude ver uma das mais belas mulheres que já vi em minha vida.

Ela tinha os cabelos castanhos e os mesmos estavam trançados com umas folhas saindo de alguns buracos. Ela usava um vestido branco longo que abria um pouco acima do joelho esquerdo. Um fino cinto dourado adornava sua cintura lhe dando um corpo extremamente definido. Sua sandália era dourada, assim como a coroa com esmeraldas que ela levava na cabeça. Ela tinha um doce sorriso e andava com os braço abertos como se nos convidasse a abraça-la. Ela se aproximou e veio por trás de nós. Com os braços delicadamente postos sobre nossos ombros nos guiou em direção ao sofá.

- Sentem-se garotas. Vocês devem estar com fome, não é?

- Hã... Lady Deméter... – Começou Giovana.

- Me chame de Deméter, querida. – Ela interrompeu.

- Certo, hum... Deméter.

- Não fale agora. Só comam o que eu preparei para vocês.

Ela se sentou na poltrona em nossa frente e colocou uma bandeja na mesinha de centro da sala. Haviam três pratos. Cada um com dois sanduíches no pão de fôrma. Soube imediatamente qual era o meu. Estava exatamente do jeito que Lurdes deixava. Atum, alface, tomate, cenoura e maionese. A encarei maravilhada.

- Sim. Eu sei de bastante coisa sobre vocês. – Ela disse.

Perla já devorava seu sanduiche. A mesma coisa que o meu, mas logicamente, sem o atum. Giovana comia seu pão com queijo e cebola. Só reparei em como estava com fome quando comi meus dois sanduiches em pouco menos de dez minutos.

- Estavam deliciosos! – Eu elogiei, não querendo ofender a deusa.

- Obrigada. – Ela sorriu.

- Hum... Deméter. – Chamei. Ela já havia se levantado e levava a bandeja com os pratos para a pia.

- Sim? – Ela respondeu, sem nunca desmanchar o sorriso.

- Agradeço por tudo o que fez por nós, mas... Por que?

- Ah sim... Eu queria... Hum. Vocês vão para o mundo inferior, não vão?

- Sim. Nós vamos. – Disse Perla.

- Eu queria que vocês dessem um recado para minha filha.

- Sua filha... – Disse Perla. Revirei os olhos.

- Perséfone. – Completei.

- Que recado? – Perguntou Giovana.

- Digam a ela que vou vista-la em alguns dias.

- Tudo bem. Diremos. – Disse.

- Obrigada. Devido ao favor que prestarão para mim, farei um favor para vocês.

- Obrigada, Deméter. – Disse.

De repente, senti o mundo tremer e senti um enjoo. Fechei os olhos e senti uma forte brisa no rosto.

***

Abri os olhos e demorei um pouco para me acostumar com a claridade. Olhei em volta e de repente me encontrei. Estava no metrô. Levantei em um salto. O relógio da estação marcava 22:18. Tínhamos tempo. Olhei para as meninas. Elas estavam adormecidas naqueles bancos onde se esperam os trens. As deixei dormindo.

Giovana e Perla acordaram por volta das 23:00. Estávamos conversando calmamente quando ouvimos um barulho.

- GRRRRRRRRR...

- Acho que não estamos sozinhas. – Disse, levantando.


O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora