Capítulo 18 - Giovana

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Soltei um suspiro frustrado.

Já tinha tentado de tudo. Nada parecia conseguir abrir o cadeado. Não tinha ideia de quanto tempo já havia se passado, mas não me importava. Eu só queria sair. É claro que o lobo-mal do lado de fora da minha jaula não me ajudava em nada com a ansiedade, mas não conseguiria ataca-lo daqui. E se eu tentasse, quem sabe o que poderia acontecer?

Enquanto andava de um lado para o outro no meu pequeno cubículo, eu repassava as últimas horas em minha cabeça. Tentava pular a parte em que ouvia minha mãe, pois, toda vez que me lembrava dela, eu chorava outra vez. Grunhi quando me lembrei de Anabel e Perla. Ela estavam por aí. Será que estavam presas? Será que estavam me procurando? Íamos morrer aqui?

Que irônico... Morrer no Mundo Inferior. Pensando pelo lado positivo, não ia ter que interagir com Caronte outra vez.

Soltei um grito de pura irritação. Pude sentir a eletricidade pulsando dentro de mim. Faíscas e pequenos raios brancos saltavam por entre meus dedos, iluminando por alguns segundos meus arredores. Além de presa em uma jaula, também estava dentro de um salão enorme com uma porta trancada. Ótimo.

Quando olhei para o monstro que me atacou, vi seus olhos amarelos refletirem meus raios. Ele rosnou e avançou em minha direção. Passou uma parte de seu focinho pelas grades e fincou seus dentes afiados em minha perna. Soltei outro grito, mas dessa vez, de dor. A eletricidade em meu corpo, porém, pareceu ter afetado o animal, que se retraiu assim que me mordeu, ganindo, também dolorido.

Conjurei um raio e o lancei em direção ao monstro, mas meu ataque não fez muito mais do que jogar o animal contra a parede. Talvez, por eu estar no domínio de Hades, meus poderes ficassem mais fracos. O monstro chacoalhou a cabeça e rosnou para mim. Começou a circular minha jaula, mas eu me pus de pé, segurando a adaga em uma mão e rezando aos deuses que o sangramento na perna parasse logo.

Antes que o monstro pudesse me atacar mais uma vez, porém, a porta do salão em que eu estava foi ao chão, com um barulho alto de explosão. Dei um passo para trás, surpresa, mas cambaleei quando me apoiei na perna machucada.

O monstro passou a me ignorar quando cinco formas apareceram na porta. Franzi as sobrancelhas. Cinco? Quem era que estava ali?

- Giovana!

Arregalei os olhos. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

Felipe. Mas o que, em nome de Santa Deméter, ele estava fazendo aqui? Será que estava sendo enganada outra vez?

Não tive tempo de pensar sobre isso, porém. O monstro avançou em direção as silhuetas e duas delas sacaram espadas. Também conhecia aquelas espadas. O brilho fosco do Bronze Celestial quase queimava meus olhos, tão acostumados a escuridão. Outra forma, um pouco menor do que as duas armadas também se colocou em uma posição de luta.

Aproveitei a distração do meu guarda para cortar um pedaço da minha camiseta com a adaga e enrola-la em minha perna, para diminuir o sangramento da mordida do monstro.

- Giovana! – Ouvi outra voz conhecida atrás de mim. – Graças aos deuses você está bem...

- Perla? – Perguntei. – É você?

- Sou eu. – Ela respondeu. Ouvi um barulho metálico. Ela parecia estar mexendo no meu cadeado. – Está tudo bem. Vamos te tirar daqui.

- Mas é você de verdade, por que...

- Eu sei. – Ela me interrompeu. – Eles imitam outras pessoas, eu sei. Mas sou eu mesmo. Prometo.

Mais uma vez, ouvi um barulho de metal contra metal, mas dessa vez, Perla suspirou de alivio e minha jaula rangeu quando ela a abriu. A filha de Poseidon caminhou até mim e me deu um abraço. Me ajudou a sair da jaula, mas assim que eu vi o monstro que me guardava atacando Felipe, eu me soltei de Perla.

- Se afastem. – Sussurrei.

As duas outras formas que ainda não havia reconhecido obedeceram. Respirei fundo e conjurei mais um raio. Dessa vez, usei ambas as mãos para direciona-lo contra o monstro e, talvez por meus salvadores terem o machucado um pouco, consegui transformá-lo em pó.

- Finalmente... – Murmurei. Meus olhos já acostumados com a escuridão, escanearam meus arredores. Vi Felipe, Aurora, Perla, Percy e um outro garoto que eu não conhecia. – Vocês podem me explicar o que está acontecendo?

- Viemos ajudar. – Aurora respondeu.

- É, eu percebi. – Respondi. – Mas como? Por que? Eu achei que você não queria vir.

- Não queria. – Minha melhor amiga deu de ombros. Se não estivesse tão escuro, eu tinha certeza de que poderia vê-la corando. – Mas Felipe teve um sonho que vocês estavam em perigo e...

Ela parou de falar de repente. Vi sua cabeça mover-se em direção a porta pela qual entrou.

- Nós só queríamos ter certeza de que estavam bem. – Felipe terminou a frase da irmã.

Eu concordei com a cabeça, antes de me virar para Perla.

- E ele? – Perguntei, apontando para o menino novo.

- Ele... Eu achei ele no caminho. – Ela respondeu. Também tive certeza de que ela estava corando.

- No caminho? Ele estava andando por aí no Submundo?

- É mais complicado que isso. – Perla suspirou. – Na verdade...

- Não importa. – Aurora interrompeu nossa amiga. Franzi as sobrancelhas ao me virar para ela. – Eu sei para onde temos que ir agora.

- O que você...

- Vem. – Ela disse, me pegando pelo pulso e correndo comigo para fora do salão. – Sei para onde vamos.

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora