Eu o ouvia.
Mas como tinha certeza se era realmente ele? Quer dizer, eu falei com ele uma vez e nada que eu pudesse considerar realmente uma conversa. Mas eu o ouvia e ele me chamava. Pensei em gritar o nome dele, mas foi então me dei conta:
- Eu não sei o nome dele. – Eu disse, em voz alta.
- Alguém aí? – Ele perguntou.
Apesar de estar sozinho no Mundo Inferior, sua voz não demonstrava medo. Mas acho que ele não era do tipo que demonstrava medo, principalmente, não na frente de uma garota.
- Estou aqui. – Respondi.
- Perla?
Estava em uma sala escura. Estava sozinha, aparentemente. Mas ele parecia tão perto... Tinha que estar aqui. Então por que eu não conseguia vê-lo.
- Sim. Sou eu. – Eu disse, olhando ao redor, tentando encontra-lo. - Onde você está?
- Aqui.
- Onde?
- Não importa. – Ele disse, quando comecei a me mover na direção em que pensei ter ouvido sua voz. - O importante é que...
- Como assim não importa? – Eu franzi as sobrancelhas. - É claro que importa. Por que não sai da onde quer que esteja para darmos um fora daqui e encontrar as meninas?
- Não posso.
- Como assim, não pode? Você está bem?
- Sim... Eu só...
- Só o que?
Estava desconfiada. Ele me chamou até aqui e agora não queria minha ajuda? O que ele pretendia com isso? Fui me aproximando do local de onde saia sua voz. Quando estava quase tocando nele, uma outra voz me alertou:
- Não! Não! Volta!
Não reconhecia a voz, mas ela me passava mais segurança que a voz do garoto filho de Nêmesis do Acampamento. Recuei um, dois, três passos e pude ouvir o som de metal acima de mim, um pouco mais para minha direita. Recuei mais rapidamente, ainda sem me virar para a voz desconhecida. A jaula caiu a poucos centímetros de meu pé. Reprimi um grito. Ouvi um grunhido diante de mim, de onde antes saia a voz do semideus.
- O que é isso? – Perguntou a pessoa atrás de mim. Tinha a voz de um garoto. Não podia ter muito mais que minha idade.
- Não sei. – Respondi. - E não quero ficar aqui para descobrir.
Me virei e peguei o desconhecido pelo pulso, o puxando pelo caminho que tinha feito para seguir a voz. Ou pelo menos, pelo caminho que eu achava ser o que havia feito para seguir a voz.
- Quem é você? O que é aquilo? – Ele perguntou enquanto corríamos.
- Não acho que esse seja o melhor momento para apresentações. – Respondi. Não podíamos parar, eu ouvia as garras do animal atrás de nós.
- Como vou saber se posso confiar em você?
- Ah, não sei... Você pode confiar em mim ou eu posso simplesmente te deixar aqui, a mercê do monstro. Quem decide é você.
Ele se calou. Imaginei que havia sido um tanto grossa, mas, deuses... Eu o estava salvando e ele não sabia se podia confiar em mim? Ah, me poupe! O animal se aproximava. Parei de correr.
- Fique aqui, entendeu? – Eu disse para o desconhecido. - Não se mova até eu mandar.
- Mas eu...
- Entendeu? – O cortei, severa.
- Entendi. – Ele respondeu bufando e se sentando no canto que eu o levara.
Me posicionei, segurando minha espada. Ela brilhou um pouco e iluminou o ambiente por um instante, tempo suficiente para eu examinar a fera. Seus olhos brilhavam em um horrível tom de azul. Ele parecia um cão, mas um pouco maior, muito mais magro e um tanto mais assustador. Recuei um passo, mas a espada continuava em mãos, pronta para o ataque. O animal avançou e pulou em mim. Cai com as costas no chão. O impacto me deixou meio tonta, mas ainda assim, consegui impedir que ele me abocanhasse colocando minha espada entre meu rosto e seus dentes. Ele tentou de novo, inúmeras vezes, mas eu conseguia apenas evitar as mordidas. Não podia me livrar dele, por ele ser mais forte e mais pesado que eu. Depois de um tempo, o monstro ergueu a cabeça, farejou o ar, me encarou novamente com um grunhido e saiu, simplesmente como se tivesse cansado de brincar.
Me levantei com certa dificuldade e ajeitei brevemente as roupas e o cabelo. Tirei a poeira de meu rosto. Me aproximei novamente do garoto. Ele me encarava curioso. Como ele poderia não estra assustado? Seus olhos azuis me encaravam perplexos. Me senti hipnotizada por um instante, o azul de seus olhos me lembravam o mar. Me agachei ao seu lado. Ele me olhou.
- O que era...
- Eu primeiro. – O interrompi, outra vez, mas dessa vez, tentei lhe lançar um sorriso. - Posso?
Ele simplesmente balançou a cabeça em concordância.
- Obrigada, você... Você conseguiu ver contra o que eu estava lutando?
- Sim. Mas eu...
- Não entendeu o que estava acontecendo, não é?
- Nem por um minuto. – Ele falava comigo, mas eu via em seus olhos que ele não confiava em mim.
- Como chegou aqui?
- Eu... Eu as segui.
- Até aqui? Desde quando?
- Não. Eu entrei naquela portinha do metrô, depois, andei por conta própria por aqui, até... Bem, até te encontrar.
Ele era um mortal. Disso eu tinha certeza, mas como ele conseguiu atravessar o Tártaro e chegar até aqui? Isso foi quase impossível para nós, quanto mais para ele.
- Bem, eu sou Perla, muito prazer. – Eu disse, lhe estendendo a mão. Ele a apertou de leve.
- Harry. – Respondeu, antes de me lançar um olhar desconfiado. Me encarou por alguns instantes, mas depois abriu um sorriso. – Minha vez?
- De que?
- Te fazer as perguntas, ora essa! – Exclamou como se fosse obvio.
- Claro. – Dei de ombros, guardando a espada.
- Quem é você, afinal?
- Como assim? Eu sou Perla, já me apresentei.
- Não, disso eu já sei. Quero saber mais.
- Tudo bem... Eu sou uma semideusa filha de Poseidon e...
- Poseidon? Que máximo! – Havia um divertido brilho em seu olhar. – Você consegue controlar a água?
- Sim, eu consigo. – Respondi, rindo.
- Jura? Me mostra? Eu posso ver?
Ele jogava uma pergunta uma por cima da outra. Queria saber mais, queria ver mais. Ele não tinha medo de mim, nem de nada, só o que via era a minha "incrível habilidade com a água".
- Se aqui tivesse água eu te mostraria, mas...
- Faça aparecer água, então! – Ele disse.
O olhei incrédula, mas ele me lançou um olhar debochado, como se estivesse tirando sarro de mim o tempo todo. E era exatamente isso que ele estava fazendo. Dei uma batida de leve em seu ombro e ele riu. Depois disso, nossa conversa seguiu, como se nos conhecêssemos há anos. Fazíamos piadas, perguntas constrangedoras, mas acima de tudo, ríamos. Só paramos quando eu ouvi passos próximos a nós.
- Pare! – Exclamei. Ele me obedeceu, parando subitamente de rir da piada que ele mesmo havia contado. – Parece que temos companhia.
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O metrô da meia noite
Fanfiction- O que é que está acontecendo? - O filho de Hades perguntou. Anabel deu de ombros e esticou uma das mãos para pegar uma maçã do cesto de frutas da minha mesa. Ela fez um sinal com a mão livre para Aurora e ela suspirou, antes de começar a se expli...