Capítulo 20 - Anabel

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Estava cansada de esperar.

Não sabia há quanto tempo estava ali, mas sabia que era muito. Na verdade, o fato de eu ser hiperativa não ajudava nem um pouco, mas a questão era que eu não aguentava mais ficar naquela cela. Eu já havia tentado de tudo, desde atacar o leucota, até tentar quebrar o cadeado. Nenhum deu certo e ambos me custaram uns arranhões. Eu já havia dado voltas e mais voltas naquele lugar, tentando achar um jeito de sair, mas não consegui pensar em nada. Isso me frustrava.

Estava ficando estressada. Quando ficava estressada começava a me distrair. Comecei a pensar em tudo. Em nossa missão que certamente acabaria aqui, em minha morte iminente de fome, frio, ou sede... Nas meninas, nos perigos que poderiam estar correndo, no acampamento, em Quíron, em Percy... Percy? Não, ele não. Estava começando a pensar em meu pai quando ouvi um barulho alto. Parecia... Não sei bem o que parecia, mas era realmente muito alto. Tentei imaginar o que era, mas nada me veio em mente. Me levantei em minha cela, esfregando meu anel, pronta para o perigo, mas o que veio seguir não era perigoso. Talvez um pouco desajeitado.

Percy havia caído na frente de minha cela, de cara no chão. Ele levantou o rosto e me encarou.

- Oi.

- Sua "entrada triunfal" foi um tanto desajeitada, não acha, Jackson? – Respondi cruzando os braços e revirando os olhos.

Ele me lançou um sorriso debochado, que foi logo apagado por um leucota que se atirou em sua cabeça. Reprimi um grito, mas não pude deixar de soltá-lo quando Perla apareceu por trás de mim para quebrar o cadeado.

– Deuses! Que susto! Você está bem? E as garotas? De onde o Percy surgiu?

Ela me encarou com uma expressão divertida, como se estivesse rindo da minha cara, o que na verdade ela estava fazendo. Ela estudou comigo por anos. Ela cresceu comigo. Já havia me visto assim milhares de vezes... Estressada. A cabeça cheia. Milhões de questões de uma só vez.

- Você está nervosa? – Ela me perguntou, rindo. Balancei a cabeça em concordância. Ela riu. – Relaxe, nós vamos te tirar daqui e depois eu respondo as suas perguntas.

- Tudo bem. – Respondi. Ás vezes me perguntava quem era a mais velha. Eu ou ela.

- Venham logo. – Ela chamou.

De repente, vi Aurora e Giovana indo ajudar Percy na luta contra o leucota. Um garoto loiro que não reconheci apareceu atrás de Perla, que mexia freneticamente no cadeado para fazê-lo abrir. Felipe e Pólux a ajudavam. Pólux... Ajudava? O garoto que raptou minha amiga estava agora me ajudando? Por quê? Talvez fosse somente mais um truque de Luke, mas resolvi não pensar nisso agora, afinal, ele estava ajudando. De repente, vi Aurora ser jogada de lado. Ela bateu as costas na minha cela e se encolheu pela dor. Ela se levantou e com os olhos cheios de raiva perguntou:

- Ah, então é assim? Vamos ver quem resiste mais. – E avançou em direção ao monstro.

Ouvi um estalo e soube que o cadeado havia sido aberto. Saí rapidamente da cela e corri até o monstro sacando o arco. Preparei uma flecha e soltei. Como o animal estava muito ferido, minha flecha o transformou em pó.

- Graças a Atena! – Soltei, em um suspiro.

Percy veio se aproximando de mim, para um abraço, mas eu desviei. Ele me encarou, confuso. Eu cruzei os braços e o encarei de volta.

- Nem um obrigado? – Ele perguntou.

- Pelo que? – Rebati, ainda com o controle de meu tom de voz. – Por se meter em assuntos que não são seus?

- Eu te salvei. – Ele disse um pouco irritado. Sua irritação serviu para me deixar irritada.

- Eu não precisava disso! – Disparei, mais alto do que gostaria.

- Ah, não? – Ele perguntou, também erguendo a voz. - Com toda a certeza você poderia sair dessa cela sozinha, não é? Sem a ajuda de ninguém. Seu orgulho te deixa cega, às vezes sabia?

- Não foi isso que eu quis dizer... – Eu sussurrei.

- O que você quis dizer, então? – Ele perguntou se aproximando de mim. Eu recuei um passo, mas ele continuava perto.

- Eu quis dizer... – Suspirei. Não havia mais volta. Eu havia começado a "explodir", como Perla dizia, então, agora não havia volta. – Quis dizer que não preciso que você me salve para ser meu herói. Eu só preciso... Só preciso que se importe comigo! Que, ao menos, se lembre de se despedir de mim quando eu saio em uma missão onde eu posso morrer! Em que eu posso... Posso nunca mais voltar!

Um longo silêncio se passou depois disso. Pude sentir uma lágrima escorrer pelas minhas bochechas, mas não me importei. Estava virada para o outro lado. Não sabia se Percy ainda estava perto, ou se já havia se afastado, mas isso não importava. Não mais.

- Vocês podem continuar isso em outro lugar? – Perla perguntou, meio sem-graça. – Quero dizer... Vocês sabem onde nós estamos e sabem que...

- Engulam essa briguinha infantil e vamos embora. Não quero ficar mais um minuto aqui. – Aurora interrompeu, sempre delicada.

- Eu sinto muito, Bel... – Percy soltou, baixinho, mas ainda sem encostar em mim. – Eu não queria...

- Não importa! - O cortei, ríspida.

Então eu me virei, mas para minha surpresa, Percy ainda estava muito perto de mim, o que me fez tropeçar em cair em cima dele. Ele soltou uma gargalhada. Mordi o lábio para não sorrir. Ele não estava bravo comigo, afinal.

– Não importa mais. – Continuei. Tentei me levantar, mas ele me segurava, me prendendo firme em seus braços. – Me solta, Jackson!

- Quem é a desajeitada agora? – Ele brincou me olhando firme nos olhos e colocando uma madeixa solta de meu cabelo atrás de minha orelha.

- O que? Você não pode...

- Você não para nunca, não é? – Ele me interrompeu.

Eu o encarei confusa. Abri a boca para responder, mas ele fez algo que me surpreendeu. Ele me beijou. Não foi um beijo longo. Provavelmente ele fez isso só para me fazer parar de falar. Eu o encarei novamente, confusa.

- Você é um homem morto, Perseu. – Perla sussurrou. Mas eu a conhecia. Sabia que estava sorrindo.

Ele me encarou nervoso. Eu ainda não havia mudado de expressão. Continuava confusa, pensando no que fazer. Então, simplesmente fiz o que deveria. Me levantei, limpei minhas roupas, ergui o queixo e agi como se nada tivesse acontecido. Percy me encarou, meio indignado, meio confuso.

- Vamos embora. – Foi tudo o que consegui dizer.

- Não tão cedo. – Respondeu outra voz.

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora