Capítulo 19 - Aurora

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Sentia algo esquisito.

Alguma coisa dentro de mim me guiava, me dizia que tinha que ir naquela direção. Não sabia por que, mas sentia que estava fazendo a coisa certa. Corria em diferentes direções e o grupo me seguia.

- Ei, ei, Aurora, pelo amor dos deuses, onde você está indo? – Giovana perguntou, quando conseguiu soltar o pulso de minha mão e parou de correr, inclinando-se contra a perna não machucada.

Eu olhei para ela, confusa. Ela não estava sentindo? Olhei para Felipe. Ele me encarou de volta e deu de ombros. Ele também não estava sentindo... Por que só eu?

- Onde está indo? – Giovana repetiu a pergunta.

- Por favor, confie em mim. – Respondi.

- Tudo bem, mas... – Perla começou.

- Por favor.

Todos soltaram um suspiro e Felipe me encarou, meio confuso, meio preocupado. Somente dei um leve sorriso para ele, o que serviu pra deixa-lo mais confortável.

- Tudo bem. – Sorri, quando percebi que eles não discutiriam. - Me sigam.

Corri na direção que meu coração mandava. Eu sei isso é meio brega, mas nesse caso, era literalmente. Eu sentia uma coisinha no coração que me mandava seguir por ali. Depois, por lá. Era como uma "pontadinha" e eu sei que provavelmente você está me achando louca nesse momento, mas eu não estou nem aí. Era o que eu estava sentido e ponto.

De repente, bati com força em uma parede. A pancada foi tão forte que cai sentada no chão. Felipe veio até mim, mas eu vi que ele estava segurando o riso. Assim como todos os outros. Giovana até mordia o lábio para não rir. Ela era sempre a que ria primeiro dos outros no Acampamento e no orfanato. Olhei para ela e revirei os olhos. Foi então que ela riu. E os outros também. E eu também. Ficamos assim por algum tempo, até que ri tanto que minha cabeça começou a latejar um pouco.

- Ai. – Reclamei, ainda rindo.

- O que foi? – Giovana perguntou, também rindo. – Você está bem? Machucou?

- Acho que foi só um galo.

- O que aconteceu? – Percy perguntou.

- Eu sinto que devemos entrar aqui – Eu respondi, apontando para a sala da parede em que bati.

- Você... Sente? – Perla perguntou, desconfiada.

- É, sinto.

- Tudo bem... – Ela disse, dando a volta na sala. – Mas são quatro paredes, não há como passar.

- Hum... O que faremos agora? – Giovana perguntou.

Meus amigos começaram a discutir ideias mirabolantes e talvez um tanto idiotas sobre como atravessar quatro paredes, mas eu tinha um plano. Quer dizer... Quase um plano.

- Pessoal... – Chamei. Ninguém me deu ouvidos.

- Como vamos fazer? – Felipe perguntou. – Temos que achar um meio de entrar.

- Pessoal!

Ninguém me deu atenção outra vez, por isso, simplesmente fiz o que queria desde o inicio. Peguei minhas bombinhas e joguei uma contra a parede. Ela explodiu, abrindo um buraco grande o bastante para todos nós passarmos. Eles me encararam, perplexos.

- Tá bom assim? – Perguntei, apontando para o buraco na parede com um sorriso irônico.

- Hum... Talvez. – Perla deu de ombros. Revirei os olhos.

- Entrem.

Eles obedeceram. Entraram. Era um salão escuro com uma jaula no meio. Diferente da de Giovana, esta estava um tanto mais iluminada por algumas tochas de fogo grego e, aparentemente, não havia cachorros do mal para vigia-lo.

Olhei ao redor e foi então que o vi. O encarei por um segundo e ele fez o mesmo comigo. Fui para trás de meus amigos. Eu o olhava de relance, por cima do ombro de Felipe. Ele me encarou com um sorriso divertido, como sempre.

- É feio espionar os outros, sabia?

Foi a primeira frase que ele me disse, quando me encontrou espionando Giovana e Felipe uma vez. Saí de trás de Felipe e fui até a jaula dele. Com a adaga de Giovana, Tentei quebrar o cadeado.

- Jura que você sentiu a direção que nos levaria a ele? – Felipe perguntou meio mal – humorado.

- Não sabia que era ele. – Respondi, meio na defensiva.

- Você sentiu a minha presença? – Pólux perguntou, com um pequeno sorriso malicioso.

- Não senti a sua presença. – Estava ficando nervosa, e o cadeado não cedia. Comecei a mexer a adaga um tanto rápido de mais. – Eu senti... Não sei o que senti, mas não foi VOCÊ, tá legal? Estamos no reino do meu pai. As vezes ele quis que eu encontrasse você. Ou o maldito castelo resolveu pregar uma peça em mim. Quem sabe?

- Tudo bem, mas é melhor você pegar leve aí, ou vai abrir o cadeado só quando não tiver mais sua mão. – Ele disse, enquanto pegava a adaga de minha mão.

Nós nos tocamos e eu o encarei por um instante. Ele sorriu para mim e eu revirei os olhos. Ele mexeu um pouco mais no cadeado e o rompeu. Pólux saiu e parou ao meu lado, passando o braço por meus ombros.

– Tome. Isso é seu. – Ele disse, enquanto me entregava a adaga.

- Não. Isso é dela. – Eu resmunguei, entregando a adaga a Giovana. – E como saiu tão rápido?

- Nem tudo é força. Existe uma coisa chamada "jeitinho".

Tirei seu braço de meus ombros e parei ao lado de Giovana. Ela era meu porto seguro, às vezes. Quer dizer, na maioria delas. Ficamos em um silêncio desconfortável por um instante até que Percy o quebrou.

- E agora? Nenhum grito, nenhum modo de senti-la... Como vamos achar a Bel?

Ele a chamou de Bel, o que me assustou um pouco, pois somente chamava Anabel de "Bel" quem ela dava permissão para fazê-lo.

- Bem... Eu ouvi uma garota chorando alguns metros adiante, mas não sei se isso ajuda.

- Chorando? – Percy parecia preocupado.

Eu também ficaria. Acho que nunca vi Anabel chorar. Só uma vez... Um incidente com uma aranha no meu chalé.

- Calma. Nós vamos acha-la. – Perla assegurou. – Por onde devemos ir?

Pólux começou a caminhar para fora do salão e pediu que nós o seguíssemos. Meus amigos se entreolharam, desconfiados, mas eu suspirei e o segui. Ninguém podia saber, mas eu estava extremamente feliz por termos o encontrado.

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora