Capítulo 26 - Anabel

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Precisava ver como Perla estava.

Eu, Percy, Aurora e Pólux havíamos avisado Quíron sobre Harry e Perla, então ele foi conversar com eles. Depois que Quíron saiu da Casa Grande, nós ficamos esperando ele voltar com noticias. Então, reparei que Giovana e Felipe não estavam presentes. Quando perguntei à Aurora o motivo dessa ausência ela somente revirou os olhos. Entendi e soltei uma risada. Eles estavam "conversando". Depois de alguns minutos, Quíron voltou e nos disse que Perla havia ficado um pouco chateada e estava indo para o chalé. Eu precisava falar com ela.

Então, me levantei e comecei a caminhar em direção ao Chalé de Poseidon. Percy veio atrás de mim. Nós não trocamos uma só palavra ao longo do caminho. Quando chegamos ao chalé, eu bati na porta. Nenhuma resposta.

- Perla? – Chamei. Ouvi um resmungo em resposta. – Podemos entrar?

- Bel? – Ela perguntou. - Podemos? Quem mais está ai?

- Bem... Percy.

- Tá, entrem.

Quando entrei ela estava deitada na cama encarando a beliche de cima. Vi em seu travesseiro pequenas manchas de água. Ela estava chorando. Graças aos deuses, Percy não reparou nesse detalhe. Como se ele reparasse em algum detalhe. Me sentei na cama dela, ao seu lado. Ela me encarou. Seus olhos verdes me analisando.

- Você está bem? – Perguntei.

Ela virou o rosto. Ela sabia que não podia mentir para mim.

- Ei. – Eu disse, acariciando seu braço. – Vai ficar tudo bem. Isso vai passar. – Ela me encarou. – Logo. Além disso, você pode ir para o mundo mortal, de vez em quando.

Ela abriu um sorriso.

- Tem razão. – Ela se sentou na cama. – E vocês?

- O que? – Perguntei. Ela me lançou um olhar debochado. Revirei os olhos e cruzei os braços. - Nós nada, tá legal? Nós não...

- Eu preciso falar com você. – Percy me interrompeu.

- Percy, eu já disse que eu não...

- Eu sei. – Ele me interrompeu de novo. – Mas, por favor, só me escute.

Olhei para Perla, ela abriu um sorriso e concordou de leve com a cabeça. Soltei um longo suspiro e levantei da cama. Percy abriu um largo sorriso. Ele saiu do quarto e eu o segui, novamente em direção ao lago. Ele se sentou com os pés na água. Exatamente como da outra vez. Eu não o fiz. Fiquei com as pernas cruzadas na grama. Ele me encarou por um instante e depois votou a atenção para a água e começou a mexer com ela. Suspirei. Eu teria que falar primeiro.

- Eu... Tenho uma pergunta. – Eu disse. Ele me encarou. – Você... Quando você entrou no Mundo Inferior?

- Eu... Não sei... Acho que um dia depois de vocês. – Ele me respondeu confuso.

- Não, eu quero saber... Quer dizer... Naquele lugar não havia como medir o tempo. Eu quero saber, no Mundo Inferior, quando foi a primeira vez que você me viu?

- Quando fui tirar você da jaula.

- Ah... – Respondi, virando o rosto para o outro lado para que ele não me visse morder o lábio.

Então... Quer dizer que não era ele. Eu já sabia que não era, mas queria ter certeza. Afinal, o que eu sei sobre leucotas é que eles podem reproduzir vozes de outras pessoas e que te atraem reproduzindo a voz de alguém especial para você. Percy era especial para mim? É claro que era. Eu só queria ter certeza.

- Bel? – Eu voltei a encará-lo. Ele não estava com aquela expressão tímida no rosto, ele já levava um sorriso divertido. – Você ainda está brava comigo, não é?

- Sim. – Respondi brava por ele me perguntar isso com um sorriso na cara. – E isso é sério!

- Eu sei. – Ele disse, tentando disfarçar o sorriso, mas sem sucesso. – Mas não era essa minha pergunta principal.

- E qual era? – Eu perguntei, com os braços cruzados. Estava irritada.

- Eu queria saber... – Ele se aproximou mais de mim. – Se você gostou do nosso beijo?

Eu sustentei meu olhar bravo para ele, e ele hesitou por um instante. Mas então, tive que morder o lábio para segurar a risada que queria sair. Ele me encarou e riu.

- Eu posso contar aquilo como um beijo? – Perguntei, ainda sem rir.

- Ei! – Ele protestou. Não pude mais, gargalhei. Ele riu. – Eu posso contar isso como um sim, Baixinha?

Ele se aproximou mais, lentamente. Dessa vez, não ia deixar escapar. Avancei poucos centímetros e encostei meus lábios nos seus. Passei meus braços por seu pescoço e ele me puxou mais para si, me segurando pela cintura. Quando nos separamos, eu o encarei e vi um adorável brilho em seu olhar.

- Pode contar como um sim. – Eu disse. Então me levantei e caminhei em direção ao meu chalé. – Ah! E mais uma coisa. – Me virei para ele. – Isso sim é um beijo.

Ele riu. Quando cheguei ao meu chalé, todos me parabenizaram pela missão, e tudo mais, mas o que queria naquele instante era tomar um banho e jantar. E foi isso o que eu fiz. Quando cheguei ao refeitório, Percy não estava lá, mas Perla sim. E ela me encarava com um sorriso divertido. Ignorei. Ele só devia estar atrasado... Depois de alguns minutos ele apareceu. Nós jantamos e eu fui direto para cama. Não aguentaria ficar acordada durante a fogueira. Assim que fechei os olhos, dormi.

***

Quando me levanto, a primeira coisa que faço sempre é prender o cabelo. Coloquei a mão na cabeceira de minha cama procurando o elástico e ouvi um barulho estranho de papel. Peguei e abri. Era um recado.

"Sei que isso não é e nunca será

nenhuma de suas cartas mas...

Eu sinto muito,

Jackson."

Eu ri. Tem razão. Isso não chega nem perto da minha carta. É mil vezes melhor. Mil vezes melhor.

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora