Capítulo 9 - Giovana

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Eu nunca tinha visto nada parecido.

Alguns metros a nossa direita, um enorme monstro se erguia, dos trilhos do metrô. Quando apareceu por completo em nossa frente, eu arfei surpresa. Eu não tinha certeza, mas parecia muito um dragão. Tinha escamas por todo o seu corpo que se estendia por quase 30 metros e era quase tão largo quanto o próprio trem. Ele se movia lentamente, mas a cada passo, eu sentia o chão em meus pés vibrar. Ele se virou para nós três e os olhos roxos brilharam, antes de ele abrir suas asas.

Eu não tinha certeza do que os mortais ao nosso redor estavam vendo, mas quando a asa direita do monstro bateu em uma parede da estação e quase a derrubou por completo, eu imaginei que não faria muita diferença. Todos ao nosso redor correram para fora do metrô e eu pude jurar que ouvi uma moça gritando que o trem havia descarrilhado.

Honestamente, o poder da névoa ainda me surpreendia.

- Pelos deuses... – Anabel murmurou, enquanto se punha de pé e tirava o anel do dedo. – É um drakon.

- Um dragão? – Perla perguntou, também sacando a arma.

O monstro provavelmente não gostava de ser confundido o tempo todo com um dragão, pois assim que a palavra deixou os lábios da filha de Poseidon, ele rugiu. O barulho foi tão alto que fez toda a estação de metrô em que nos encontrávamos tremer.

- Um drakon. – A filha de Atena corrigiu. – Eles são uma geração anterior aos dragões. Alguns não soltam fogo, mas todos são venenosos.

- Venenosos como? – Eu perguntei.

Acho que nosso amigo drakon queria participar da conversa, pois assim que fiz a pergunta, ele cuspiu em nossa direção. Peguei Perla pelo braço e a puxei para o lado, evitando que a gosma verde do drakon a atingisse por pouco. Quando a substancia atingiu o solo, ele começou a queimar. Engoli em seco.

- Venenosos assim. – Anabel respondeu.

Ela preparou uma flecha no arco, mas ao invés de mirar no corpo do monstro – que, alias, era um alvo considerável – ela acompanhava o movimento da cabeça do drakon, provavelmente tentando uma mira boa para seus olhos.

- O que está fazendo? – Perla perguntou.

- Não adianta acertar o corpo. – Ela respondeu. – As escamas são mais fortes do que titânio. Temos que mirar nos olhos ou na boca.

Perla olhou para a espada de bronze em sua mão e depois para mim.

- Ela só pode estar brincando...

Se eu não estivesse prestes a morrer, com certeza teria rido.

Anabel soltou a flecha, mas o drakon se virou para mim naquele momento. A filha de Atena xingou baixinho quando seu tiro ricocheteou nas escamas da cabeça do monstro, que nem pareceu ter sentido alguma coisa. Ele rugiu para mim e eu fui forçada a cobrir os ouvidos. Perla aproveitou o momento de distração que eu estava oferecendo – não de proposito, devo admitir – e escalou o flanco do monstro. Ele se debateu, mas parou e me encarou outra vez quando atirei minha adaga em seu pescoço.

- Ei, feioso! – Gritei. O drakon inclinou a cabeça para o lado, quase confuso com minhas ações.

Tinha que concordar com ele. Se eu estivesse em sua situação, também me perguntaria por que uma semideusa me chamou de feioso sendo que ela não tinha arma nenhuma para me matar.

Mesmo assim, a confusão do drakon durou pouco. Antes mesmo que Perla pudesse tentar fincar sua espada no lombo do monstro, ele usou uma de suas asas para jogá-la para longe dele. Perla voou com um grito e caiu no vagão do trem. Anabel correu até ela para tentar ajuda-la. Enquanto isso, eu estava frente-a-frente com um drakon enorme que se preparava para cuspir seu veneno em mim. Senti um vento vindo da entrada da estação e tive uma ideia.

Fechei os olhos e me concentrei. Eu só tinha uma chance. Comecei a controlar o ar ao meu redor até ele rodopiar sob meus pés. O drakon cuspiu seu veneno e eu ergui a cabeça para encara-lo.

- Giovana! – Anabel gritou, ainda tentando ajudar Perla a sair do vão do trem.

Mas eu ainda não tinha morrido. Consegui controlar o vento ao meu redor o suficiente para manter as gotículas de veneno do monstro paradas no ar. Toda minha concentração estava em não deixar que a gosma saísse do lugar, mas para que meu plano desse certo, eu precisava de ajuda.

- Anabel! – Gritei. – A boca!

- O que? – Ela perguntou de volta.

- Faz ele rugir!

A filha de Atena então, pareceu entender meu plano. Quando se assegurou de que Perla estava em uma altura suficiente para escalar para fora do vão sozinha, ela se levantou e sacou o arco mais uma vez. Correu até ficar a uma distancia segura de mim e preparou uma flecha. Quando a soltou, conseguiu finca-la no focinho do monstro, que rugiu de dor. Era agora.

- Abaixa!

Anabel não pensou duas vezes. Se jogou no chão e cobriu a cabeça com as mãos enquanto e movi o ar mais uma vez, mandando de volta todo o veneno que o drakon tinha cuspido para mim. A maior parte dele caiu em sua enorme boca e eu rezei para que isso fosse o suficiente. E aparentemente foi. O drakon soltou um grunhido esganiçado de dor e começou a se debater. Perla se abaixou a tempo de não ser jogada outra vez no vão do metrô pela cauda do animal. Anabel me puxou para baixo pela mão e nós três assistimos enquanto o drakon agonizava antes de virar pó.

Quando decidimos que estávamos a salvo, Anabel se levantou e esticou a mão para mim.

- Foi muito inteligente. – Ela sorriu.

Eu ri. Esse era o jeito de Anabel de nos parabenizar. Dei de ombros.

- Foi muito legal! – Perla correu até mim e me abraçou.

E esse era o jeito de Perla de nos parabenizar. A abracei de volta. Assim que nos separamos, ouvimos o barulho típico do metrô de Nova York. Olhei para o relógio da estação. Meia-noite. O trem parou em nossa frente e abriu as portas. Nos entreolhamos rapidamente antes de corrermos para o ultimo vagão. Anabel seguiu as instruções de Aurora e achou a portinhola escondida. Ela a abriu e uma luz sinistra vermelha saiu do buraco. A filha de Atena engoliu em seco.

- Próxima estação, Submundo.

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora