Talvez eu devesse ter ido.
Quem sabe assim eu conseguisse fazer alguma coisa que não fosse andar de um lado ao outro no meu Chalé. Eu balançava a cabeça de leve, fazendo com que o cabelo negro deslizasse contra o pescoço. Respirei fundo. Precisava me acalmar.
As meninas tinham saído do Acampamento a algumas horas somente não havia passado nem hora do jantar ainda. Eu não tinha com o que me preocupar. Elas ainda não tinham entrado no Submundo e sabiam se cuidar. Estavam bem. Fora isso, esse era uma missão simples. Era entrar e sair. Bom, entrar, descobrir um jeito de chegarem ao castelo de Hades, encontrarem Pólux, o tirarem da gaiola, e descobrir um jeito de voltar ao mundo mortal. Pouca coisa.
Eu estava tão ocupada em minha própria cabeça que nem ouvi a porta do meu Chalé se escancarar.
- Deuses! – Gritei, alcançando o bolso da calça para pegar uma de minhas bombinhas. Suspirei aliviada quando vi meu irmão na porta. – Felipe! Quer me matar do coração?
- Não? – Ele respondeu, confuso. Provavelmente não entendeu o por que de eu estar tão alterada. – Eu só vim... Você está bem?
- Estou ótima. – Respondi. – Por que?
- Não parece.
- O que quer dizer? – Revirei os olhos, quase rezando para Apolo que meu teatro fosse bom o suficiente para que Felipe me deixasse em paz. – Eu estou bem.
Aparentemente Apolo estava ocupado demais em sua carruagem do Sol para atender minhas preces, pois Felipe me encarou com uma sobrancelha arqueada antes de jogar a espada que segurava em um canto qualquer do quarto e caminhar até sua cama ao lado da minha. Se sentou e apontou para o espaço em frente dele para que eu fizesse o mesmo. Suspirei mas obedeci.
- O que? – Perguntei, cruzando os braços na frente do peito.
- Eu é que pergunto. – Ele rebateu. – Qual o problema?
Engoli em seco. Tentei formular uma mentira na minha cabeça.
- Eu só... – Franzi as sobrancelhas. – Estou preocupada com as meninas.
- Elas sabem se cuidar. – Felipe deu de ombros. – Vão ficar bem e você sabe. SE alguém consegue ir até o Submundo e voltar, são elas.
- É, mas, mesmo assim, eu...
- Não é isso que está te incomodando. – Felipe me interrompeu. – Você confia mais nas meninas do que qualquer outra pessoa. Eu tenho certeza que estou bem mais preocupado com a segurança delas do que você.
- Tá legal, tem razão... – Eu rangi os dentes. Por que, em nome de Poseidon, esse menino me conhecia tão bem? – Eu estou me sentindo culpada por que não fui com elas.
Menti outra vez, mas dessa vez, quando Felipe inclinou a cabeça para o lado, sem tirar os olhos dos meus, percebi que havia conseguido. Quase sorri em vitória. Não teria que me explicar de verdade.
- Elas disseram que te entendem. – Felipe disse. – E disseram que não tem problema.
- É. – Eu concordei com a cabeça. – Mas mesmo assim, Quíron tinha razão. O sonho foi meu e a missão deveria ser minha. Elas estão lá passando por sabe-se lá o que enquanto eu estou aqui com cama, comida e banho todos os dias.
- Não é culpa sua.
- Eu ainda deveria ter ido.
- Mas você disse que não queria ir.
- E não queria! – Gritei um pouco. Felipe arregalou os olhos, surpreso com minha pequena explosão. - Mas eu... Eu deveria. Faz sentido?
Meu irmão me encarou como se eu fosse completamente louca.
- Nenhum.
De repente, ri. Talvez eu estivesse rindo simplesmente por que precisava de uma válvula de escape para todo o estresse que estava sentindo? Talvez. Mas mesmo assim, Felipe pareceu satisfeito consigo mesmo. Provavelmente achava que tinha conseguido me fazer relaxar.
Ah, se ele apenas soubesse...
- Ótimo. – Ele comentou com um sorriso se pondo de pé outra vez. – Agora que está se sentindo melhor, vamos jantar.
Concordei com a cabeça e, quando parei de rir, me levantei também, seguindo meu irmão em direção ao Refeitório. Sentamos na mesa do nosso Chalé e comemos em silêncio.
Eu sempre dizia que gostava de comer sem conversar com ninguém, mas, no momento, eu daria qualquer coisa para que Perla ou Giovana viessem correndo até minha mesa me contarem alguma coisa engraçada que aconteceu com elas durante a tarde. O silêncio só me fazia pensar e, no momento, pensar não era exatamente o que eu estava querendo fazer.
Eu sabia que as meninas iam ficar bem. Tinha certeza de que essa missão de resgate ia ser fácil para elas, mas o que me preocupava era o depois. Elas iam tirar Pólux da gaiola de meu pai e aí o que?
Traze-lo para cá? Deixa-lo no meio da estrada por que ele vai querer voltar para Luke? Força-lo a vir até aqui para que possamos manter um olho nele? E ele se ele não quiser falar comigo? Pior: e se ele quiser falar comigo? Suspirei, antes de comer mais um pedaço do meu bife.
Talvez eu devesse ter guardado meu sonho para mim mesma.
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O metrô da meia noite
Fiksi Penggemar- O que é que está acontecendo? - O filho de Hades perguntou. Anabel deu de ombros e esticou uma das mãos para pegar uma maçã do cesto de frutas da minha mesa. Ela fez um sinal com a mão livre para Aurora e ela suspirou, antes de começar a se expli...