Capítulo 2 - Anabel

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Obviamente ela queria nos deixar sozinhos.

Eles sempre tentam nos deixar sozinhos, mas nos interrompem na melhor parte, por isso, eu não entendo o propósito de nos deixarem sozinhos. Se for para me deixar desconfortável. Parabéns! Vocês conseguiram.

- Hum... – Comecei – Como foi de férias?

- Bem, e você? – Disse se sentando na cama e colocando sua mochila a seu lado.

- Eu fiquei no Acampamento, então... Nada muito extraordinário.

- Ah, tá. Mas você... Hum...

- Se eu tenho pai? Sim, eu tenho. Mas digamos que ele não goste muito de mim.

- Hum... Sinto muito.

- Não. Não sinta. Enfim... Como foi com sua mãe?

- Muito legal! Nós saímos e conversamos bastante. Ela é muito boa para mim. – Disse ele animado.

- Legal.

- Você está brava?

- Não. – Ele arqueou uma sobrancelha – Tá legal. Sim, eu estou brava.

- Por quê?

- Por que... Hum... Você não tem nada para falar para mim? Nada?

- Hum... Bel, eu...

- Você não leu? – Eu disse. Estava claramente irritada.

- É que eu... Bem...

- Não acredito nisso.

- Eu perdi.

- O que? – Me levantei da cama e o encarei de cima – Eu escrevi tudo lá. Tudo o que eu sentia estava lá. E você ainda tem a coragem de me dizer que perdeu?

- Bel... – Sentia o peso em sua voz. Eu via seu rosto. Ele estava realmente triste. Quase me fez sentir pena. Quase. Ele segurou de leve meu pulso – Bel... Não foi por querer. Eu...

- Me solta Percy! – Gritei, me afastando dele. Fui em direção à porta – E eu não quero saber! Independente do que tenha para me dizer... Eu não quero saber! – Me virei e bati a porta atrás de mim.

Eu corri. Estava muito triste. No inicio das férias, eu havia entregado para ele uma carta. Uma carta que eu havia escrito, com todo o meu sentimento lá. Havia lhe contado o quanto gostava dele, mas sendo filha de Atena, eu tenho certeza que não conseguiria dizer metade do que escrevi. Eu lhe entreguei a carta e ele me prometeu que leria e me responderia. Passei a maior parte do verão de coração apertado esperando dele uma resposta, mas nada. Pensei que ele não sentisse o mesmo por mim e não me respondera por que não queria me magoar. Ou por que sentia, mas não conseguia me dizer. Ou por que sentia, mas estivesse escrevendo uma carta de resposta. Mas eu nunca imaginei que ele a tivesse perdido. Estava pensando nisso quando esbarrei em alguém. Ambos caímos.

- Sinto muito. – Disse, levantando.

- Bel, tudo bem. Sou eu. – Disse Giovana.

- Gi! Ah, desculpe, eu estava distraída.

- Pensando.

- É. Pensando. – Ri – O que está fazendo? A Perla não foi te ver?

- A Perla? Não. Não, por quê?

- Obvio que não. Não sei nem por que perguntei. O que está fazendo aqui fora?

- Ah. Não sei. Não tinha nada para fazer, então... Resolvi dar um volta.

- Você ainda não aprendeu que não pode mentir para mim?

- Tá legal. Eu estou brava com o Felipe.

- Por quê? O que foi que ele fez?

- Na verdade, foi mais pelo que ele não fez.

- Você está brava com ele por que ele não te pediu em namoro?

- É. Eu sou muito louca por isso?

- Não. Não mais que eu.

- Como assim? O que quer dizer?

- Ah... Nada. Só digamos que eu tenho tanta sorte no amor quanto você. – Começamos a caminhar em direção a colina. Sem um rumo certo, só caminhávamos e conversávamos.

- Como assim?

- Bem... Digamos que eu tenha brigado com o Percy.

- Por quê?

- Por que ele perdeu.

- Hã? Espera, perdeu o que?

- Eu havia dado para ele uma carta, onde estava escrito tudo o que sentia. Mas ele a perdeu. Nem chegou a ler.

- Ah, Bel... Sinto muito.

- Não. Não. Tudo bem. Não vou ficar triste por ele. – Ela me encarou – Tá bem. Pelo menos não em público. – Ela riu.

De repente, avistei Rachel de cima da colina. Ela acenava para nós.

- Olhe – Eu disse para Giovana – A Rachel.

- Hum... Lembrei-me que tenho que... Tchau. – Se virou e saiu. Ela ainda não me contara seu segredo do semestre passado. Mas eu iria descobrir.

Subi a Colina e cumprimentei Rachel. Dessa vez, mais que um aperto de mão. Durante as férias, eu e ela havíamos conversado bastante e nos tornamos grandes amigas. Aurora também, mas Giovana sempre a evitava.

- Giovana não gosta de mim? – Rachel perguntou.

- Não é isso. É que... Ela é um pouco ocupada. – Menti.

- Hum... Enfim... Você parece chateada. O que houve?

Então contei para ela toda a história. Conversar com ela me fez muito bem. Ela me disse que já havia namorado Percy uma vez e me disse que ele era meio atrapalhado. Ela me contou alguns casos e me fez rir. O tempo voou e de repente ouvi o som da concha.

- Hora do almoço. – Ela disse. A abracei.

- Obrigada, Rachel. Essa conversa me fez muito bem.

- Disponha. Sempre que quiser falar mal de Percy pode me procurar. Eu vou adorar.


O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora