O metrô da meia noite

Capítulo 22 - Anabel

Aquela voz me assustava.

Era doce, mas ao mesmo tempo, havia nela certa rispidez. Nós todos nos entreolhamos, buscando respostas, mas ninguém as tinha. De quem era essa voz?

- Estamos somente conversando! – Hades gritou de volta.

- Ah, é? Não é o que parece. – A voz respondeu, se aproximando.

- Você não precisa vir até aqui... – O deus do Submundo tinha certa urgência, como se não quisesse a presença da dona da voz na sala. – Você só vai perder seu tempo e...

- Perder tempo? É claro que não... Quero conhecer meus lindos... Afilhados...

Afilhados... Mas é claro! A dona da voz era Perséfone.

Foi então que ela apareceu. Ela era muito bonita. Seus cabelos castanhos caiam em belíssimos cachos nos ombros, até a metade das costas. Entre alguns fios, havia pequenas flores brancas, fora isso, ninguém diria que ela era a deusa da primavera. Acho que o lugar em que se encontrava, afetava sua personalidade, pois, no momento, ela usava um vestido negro que caia em camadas por todo corpo, mas deixava a mostra suas pernas por um corte na coxa esquerda. Ela estava com um belíssimo e brilhante salto preto. Suas unhas também estavam pintadas de preto, mas pequenas flores estavam desenhadas em alguns dedos. Ao longo de seu braço, flores se enroscavam. Seus olhos negros eram penetrantes e analisavam cuidadosamente cada um de nós. Ela correu os olhos pela sala até que travou o olhar em Aurora e Felipe.

- Têm a cara da mãe. – Ela disse, com uma careta.

- Perséfone chega! – Hades gritou.

- O que? – Ela perguntou, com falsa surpresa. - Foi só uma observação.

Ela deu um passo para trás e dois leucotas apareceram trazendo o trono de Perséfone. Um deles era o de olhos verdes, que havia me atacado. Soltei um grito e recuei alguns passos. Ela se deliciou com o desespero em meus olhos enquanto se sentava.

- Más recordações, querida? – Ela sorriu, depois de estar completamente confortável em seu lugar. – Desculpem-me pela recepção... Hum... Digamos, pouco calorosa. Eu precisava de algum tipo de diversão.

- Desculpe se você não gosta daqui. – Hades revirou os olhos. – A culpa não é minha! Não fui eu quem fez esse estúpido acordo!

- Não. Não foi você mesmo. – Ela concordou. Ela estava com raiva, e seus leucota deviam ser capazes de sentir isso, pois mostraram os dentes. - Você teria me raptado! Se não fosse por minha mãe, eu nunca mais veria a luz do dia!

Vi os punhos de Hades tremerem de raiva, mas ele não podia fazer nada. Não na frente dos filhos, que felizmente, não repararam nesse detalhe.

Mãe de Perséfone... Quem era? E por que eu me importava tanto.

- Estavam discutindo o que, afinal? – Ela perguntou, após um longo silêncio.

Ela não se sentava como uma dama, muito menos como uma rainha do submundo. Suas pernas estavam apoiadas no braço do trono e ela, vez ou outra, transformava qualquer coisa que tocasse em uma flor.

- Estávamos discutindo sobre...

- Precisamos ir embora! – Felipe interrompeu Aurora, antes que ela falasse demais.