Ah, perfeito!
Graças à briguinha do casal, ficaríamos ali mais um bom tempo. Aquela voz era de Hades, eu tinha certeza. Somente ele teria uma voz tão forte e tão grossa assim. E agora que ele estava aqui, não nos deixaria ir embora.
- Nunca achei que receberia vistas tão... Inesperadas.
Então ele saiu das sombras. Engoli em seco. Ele me assustava um pouco. Usava um sobretudo preto e várias joias. Ouro, rubis, esmeraldas, tudo isso reluzia nas mais variadas partes de seu corpo. Sua pele era pálida, mas ele era surpreendentemente grande e musculoso. Seus cabelos e olhos pretos eram tão intensos quanto os de Aurora e Felipe. Ele estava em sua forma de tamanho humano, mas mesmo assim, ele era muito grande. Olhei para Harry e reparei que seus olhos expressavam medo, mas ao mesmo tempo, surpresa e admiração.
- Nunca imaginei que receberia vocês dois com amiguinhos em meu castelo... – Ele disse, com certo nojo ao dizer "amiguinhos".
- Se não queria que eles viessem, podia não tê-los capturado. – Aurora respondeu, um pouco grossa demais, já que se tratava de um deus. Pai dela, aliás.
- Na verdade, minha filha, eu só capturei aquele ali. – Ele apontou pra Pólux. – O capturei por que achei que se você achasse que ele estava em perigo, você viesse. Não elas. Eu só as capturei por que se elas o resgatassem, meu plano não daria certo.
Ele dizia isso como se estivesse ensinado uma criança a andar de bicicleta. Pacientemente e com uma incrível monotonia.
- Bem... – Aurora disse. – Pensou errado. E afinal, que plano é esse?
- Eu queria falar com meus filhos. Queria vê-los.
- Já pensou em mandar um convite, ou sei lá?
- Aurora, sei o que está pensando, mas veja bem...
- Que raiva! – Ela gritou. – Posso falar com você um instantinho? –
Todos nós demos um passo à frente para ouvir a discussão.
– A SÓS!
Felipe avançou e parou ao lado da irmã.
- Posso ficar aqui se quiser. – Ele ofereceu. - Você sabe, para o caso de...
- Não, Fê... Obrigada, mas preciso mesmo falar com ele.
O filho de Hades não pareceu muito confortável ao deixar a irmã sozinha com o pai, mas não discutiu. Ele caminhou até nós e nos dirigimos até fora da sala onde nos encontrávamos.
Quando todos saímos, Anabel fechou a porta atrás de si. Ficamos um tempo somente nos encarando, sem assunto nenhum. Estávamos quase sem-graça. Isso nunca acontecia conosco. Nos conhecíamos tão bem e sempre tínhamos assunto. Não importava o quão banais fossem, eram sempre assuntos. Nós ficamos correndo os olhares de uns para os outros, sem nada para falar.
Foi então que ouvimos os gritos. Primeiro uma voz grossa. Hades. Depois uma voz menor, mais delicada, quase chorosa. Aurora.
Felipe começou a ficar preocupado. Ele andava de um lado para o outro, nervoso. Devo admitir, até eu estava começando a ficar preocupada. Com ele e com Aurora. Encarei Anabel, que continuava encostada na porta. Tivemos uma rápida "conversa de olhares", como costumávamos chamar os momentos em que trocávamos ideais somente pelo olhar, onde eu perguntei se poderíamos entrar e ela negou. Engoli em seco quando vi o estado de Felipe. Ele não poderia ficar para fora por muito mais tempo.
- Ei, cara. – Percy disse, se aproximando dele. – Vai ficar tudo bem... Ela sabe se cuidar.
- Sim ela sabe, mas... – Ele foi interrompido por outro grito. – Não posso! Não posso esperar aqui.
Ele avançou em direção a porta.
- Felipe! – Giovana o interrompeu. - Aurora nos pediu para ficar aqui. Nós temos que...
- Vocês têm! – Ele disparou. – Eu não! Tenho que entrar e ver o que está acontecendo.
Giovana o encarou feio, mas Felipe somente desviou e caminhou até a porta, que Anabel ainda guardava. Ela então apelou para seu "lado-mãe". Ela tinha isso. Sabia quando estávamos nervosos ou com medo e sabia como nos acalmar.
- Escute... – Ela disse com a voz calma e suave. – Eu sei que...
- Você não sabe de nada! – Ele gritou.
Então, mesmo com Anabel na frente, Felipe empurrou a porta, escancarando-a. Anabel caiu no chão. Fui até ela e a ajudei a se levantar. Aurora me encarou, pedindo uma explicação. Somente dei de ombros. Felipe avançou em passos largos e pesados em direção ao pai. Ele estava muito nervoso. Nunca havia o visto assim.
- Escute bem! Você não tem o direito de gritar assim com ela! – Ele gritou, quando estava cara-a-cara com o pai.
- Fê... Está tudo bem... – Aurora disse, com a mão em seu ombros.
- Não, não está! – Ele respondeu, sem tirar os olhos do pai. – Você desapareceu! Simplesmente nos jogou em um orfanato qualquer! Nunca se importou conosco e agora, depois de raptar nossos amigos, quer dar uma de pai? Você não tem o direito!
- Felipe. Você está assim por causa dela, não é? – Hades perguntou, com a voz calma, considerando que seu filho estava gritando com ele.
Giovana arregalou os olhos e todos a encaramos, menos Felipe.
- Quem se importa? Se eu estou bravo por tê-la capturado? Sim, eu estou. Mas não é só por isso que estou brigando com você! É por tudo que você nos fez!
- Felipe... – Aurora tentou novamente, mas ele não lhe deu atenção.
- Você não vê? – Hades havia perdido a paciência, mas ainda não gritava. – Você me critica, mas é igualzinho a mim. O motivo de você se estressar tanto e de repente desse jeito? É por que você é meu filho.
Ele recuou um passo digerindo a informação que lhe foi dada. Faz sentido afinal, de vez em quando, Felipe era tão explosivo quanto Anabel.
- Que gritaria é essa? – Uma voz feminina ao fundo perguntou. – Estou querendo dormir.
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O metrô da meia noite
Fanfiction- O que é que está acontecendo? - O filho de Hades perguntou. Anabel deu de ombros e esticou uma das mãos para pegar uma maçã do cesto de frutas da minha mesa. Ela fez um sinal com a mão livre para Aurora e ela suspirou, antes de começar a se expli...