Capítulo 12 - Aurora

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Com certeza deveria ter ido.

Se não por que me sentia culpada por fazer minhas amigas passarem por uma missão perigosa sem a minha ajuda, por que não aguentava mais ter que ficar ouvindo Felipe e Percy reclamando pelos cantos por que as namoradinhas estavam em perigo e estavam bravas com eles. Tudo bem, não eram namoradas deles. Pelo menos, não por enquanto.

Mesmo assim, eu odiava os dois cada dia mais.

Percy estava encrencado. Eu não tinha duvidas disso. Anabel não o encarava desde o primeiro dia de férias no Acampamento e depois que ela partiu na missão sem nem receber um "até logo" dele, ela com certeza estava possessa. Quando eu lhe perguntei – sim, eu que comecei o assunto e, até agora, me pergunto o por que – ele não havia ido, ele me disse que era por que ele achava que ela não queria vê-lo e só ia ignorá-lo e blá-blá-blá. Não era mentira, devo admitir, mas eu conhecia Anabel. Sabia que só de ele ter ido lá, ela já se sentiria melhor. Quando disse isso a ele, o filho de Poseidon fez uma careta. Eu não tinha o poder de Anabel, mas conseguia detectar algumas mentiras de vez em quando. Ele não foi por que esqueceu de ir, não por que ela não ia querer vê-lo.

Percy e eu não tivemos uma conversa séria sobre Anabel ou algo do tipo. Graças aos deuses, por que eu não ia aguentar uma coisa dessas... Mas eu tive uma conversa séria com meu irmão.

Depois do almoço do segundo dia em que as meninas estavam fora, eu fui até a Arena treinar. Por algum motivo, Felipe não apareceu, mas algo me dizia que era simplesmente por que ele havia perdido a hora, cortando os manequins com sua espada.

Eu estava certa ao pensar que ele tinha perdido a hora, mas, para minha surpresa, não foi por causa de um treino pesado.

Quando entrei na Arena, eu arfei em surpresa ao ver a cena que se desenrolava em minha frente. Felipe estava sentado na arquibancada ao lado da filha de Afrodite que, desde o final do verão passado, começou a dar em cima dele tão descaradamente que alguns campistas mais velhos começaram a caçoar da menina. Ela era basicamente um cachorrinho de Felipe. Onde quer que ele estivesse, ela ia atrás, sorridente e alegre. E o pior, é que ele dava corda.

Talvez não fosse de proposito. Talvez a beleza estonteante da menina não o permitisse pensar direito. Mas o que eu sabia, com certeza, é que eu ia por um fim nisso.

Caminhei até mais perto deles, mas parei quando Larissa riu.

- Fê... – Ela revirou os olhos com um sorriso. – Eu não sei.

- Eu muito menos.

Larissa sorriu, mas pude ver que, qualquer que fosse o tópico da conversa dos dois, ela estava desconfortável.

Ela se mexeu na arquibancada, puxando os joelhos para perto do corpo e colocando as mãos de unhas perfeitamente feitas sobre as canelas. Ela encarou meu irmão com seus olhos castanhos e jogou os cabelos loiros por cima dos ombros. Eu não sabia se ela havia passado esse perfume, ou se era algo natural dos filhos de Afrodite, mas o que eu sabia é que eu nunca tinha sentido algum cheiro tão bom em toda a minha vida.

- Mas ela vai voltar. – Larissa continuou. Franzi as sobrancelhas. Eles estavam falando de Giovana? – Aí você fala com ela e vocês voltam a ser amigos.

Ela deu tanta ênfase na ultima palavra que eu arregalei os olhos, surpresa com o fato de Felipe nem parecer ter reagido. Ele somente se moveu quando Larissa colocou uma mão em seu ombro. Ele a encarou e sorriu quando a garota fez o mesmo. Suspirei. Essa era minha deixa. Caminhei até eles e tossi de leve. Felipe levantou os olhos e sorriu ao me ver. Larissa também sorriu, mas, mais uma vez, estava claro que ela não estava nem um pouco feliz.

- Desculpe interromper, mas preciso de um momento com meu irmão. – Eu disse.

- Tudo bem. – Larissa concordou com a cabeça, antes de se levantar. – Vejo você mais tarde.

- Até mais. – Felipe sorriu para ela.

Esperei que ela saísse da Arena para finalmente me virar para meu irmão.

- E o que você pensa que está fazendo? – Eu perguntei. Felipe franziu as sobrancelhas ao me encarar. – Com ela.

- Ela é minha amiga. – Ele respondeu.

- É, eu sei que é. – Revirei os olhos. – Mas ela quer ser mais que sua amiga.

- Eu sei.

- Sabe?

- Sei. – Ele rangeu os dentes, em sinal de irritação. – Mas não quer dizer que eu tenho que parar de falar com ela. Só por que você é a melhor amiga da Giovana, você...

- Eu não estava falando da Giovana, Cabeção! – Eu respondi, no mesmo tom. – Você que insiste em trazer ela pra todos os assuntos. Sinal de que, se você ainda não percebeu, você gosta dela. Eu só estava falando que você tem que deixar bem claro pra Larissa que você não quer nada com ela. Você precisa parar de dar corda para ela!

- Mas eu...

- É claro que dá, não me venha com essa. – Eu o interrompi. – E você precisa parar por que senão, vai acabar machucando a Larissa. E a Giovana. E você sabe disso.

- É, mas eu não sei...

Ele parecia confuso. Suspirei e coloquei uma mão em seu braço.

- Eu sei que você não sabe. E eu não estou fazendo você escolher. Eu só acho que você tem que deixar claro para as duas quais as suas intenções. Por que eu não sei se você percebeu, mas você está afastando a Giovana de você.

- É... – Ele suspirou. – Eu percebi.

- Então muda a atitude, irmãozinho. – Eu provoquei, antes de sacar minha espada e caminhar até um dos manequins da Arena. – E vai comer, por que se não, você perde o horário do almoço.

E assim, Felipe riu e saiu da Arena, me deixando sozinha para – finalmente – treinar em paz.

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora