Capítulo 13 - Anabel

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Será possível que ele tenha vindo até aqui?

Já não era o suficiente aquilo tudo que ele havia me feito passar? Não era possível que ele estivesse aqui. Ele devia estar... Ele está no acampamento. Por que ele estaria aqui? O pior de tudo é que eu já estava confusa o suficiente. Ele me deixava confusa o suficiente.

Nunca havia me sentido assim. Sempre fui daquelas que sabe o que quer e nunca muda de opinião. Nunca muda de direção. Mas com ele... Era diferente. Tentava me manter forte por fora, mas por dentro... Tudo o que ele fazia, mesmo que sem querer, me machucava. E eu sabia que ele sabia.

E agora ele simplesmente aparece no meio da missão, no meio do Mundo Inferior e... Não. Não era possível que ele estivesse aqui. Mas eu o ouvia. O ouvia chamar meu nome. Ele estava aqui. Por quê?

- Bel... – Ele estava fraco. Sua voz tremulava.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Não. Não podia chorar por ele. Não mesmo. Ou será que... Ah, deuses! Chega Anabel, chega, foco.

Continuei andando. Sua voz me fez relembrar tudo. O tempo que passamos em paz no acampamento, suas "aulas extras" de esgrima comigo e a carta. Suspirei e chacoalhei a cabeça. Lembrar disso era a ultima coisa que eu precisava no momento.

- Bel... – Ele estava cada vez mais perto.

Avancei na completa e profunda escuridão, mas não me importava. Nada disso me importava. Precisava encontrar Percy. Precisava ver como ele estava. Ele parecia ferido. Não podia deixa-lo ferido. Mas... Eu estava brava com ele. Fora isso, ele nem deveria estar aqui. Talvez... Talvez pudesse deixa-lo se virar sozinho. Ele conseguiria se virar sozinho. Comecei a me virar.

- Você não vai conseguir fazer isso. – Disse para mim mesma. – E você sabe disso.

- Bel? Você está brava comigo, não está?

Sua voz estava tão perto que senti um calafrio percorrer todo meu corpo. Girei em torno de meu próprio eixo, mas não vi nada. Até mesmo naquela escuridão cortada por eventuais tochas nos corredores, eu deveria ser capaz de ver alguma coisa. Uma silhueta, pelo menos. Mas eu não via nada.

- Percy? – Chamei.

- Aqui. – Ele me respondeu com a voz ainda tremula.

- Está ferido? – Perguntei, me aproximando.

- Não! – Respondeu um pouco alto e rápido demais. Recuei. – Desculpe.

- Por que não sai daí? Preciso te ver... Quero ver se não está mesmo machucado.

- Não estou. Está tudo bem. – Ele assegurou, mas alguma coisa em seu tom de voz ainda não me parecia certo. – Sente aqui comigo.

- O que esta fazendo aqui? – Perguntei enquanto avançava em direção à escuridão de onde saía a voz de Percy.

- Eu... Eu precisava falar com você.

- Falar comigo? – Eu revirei os olhos. Parei de andar e cruzei os braços na frente do peito. – E você acha que é lógico, ou ao menos sensato, você se jogar no Mundo Inferior?

- Você fez isso. – Ele retrucou.

- Eu tinha um motivo. – Cruzei os braços.

- Eu também.

- Um motivo real e importante.

- Eu também.

- Ah, é? E eu posso saber qual?

- Você.

Desmoronei. Todas as paredes que construí ao redor de meus sentimentos se desfizeram naquele instante. Eu. Eu era o motivo dele. Mas... Por que eu me sentia desconfiada assim? Não sentia que era verdade... Ele estava me enganando... Será que ele estava brincando comigo?

Fechei os olhos. As lágrimas já escorriam, mas dessa vez, não as impedi. Cai e chorei. Agarrei as pernas e enterrei a cabeça entre os joelhos.

- O que foi? – Ele perguntou, mas não parecia preocupado de verdade.

- Nada. – Solucei.

- Como assim, nada? É claro que há alguma coisa... Eu posso...

- Percy! – Gritei, o interrompendo. – Chega, tá legal? Se estiver brincando comigo, se estiver mentindo pra mim, pare! Eu só... Eu não quero sofrer.

- Eu não entendo...

- Sinto que está mentindo para mim. Não consigo sentir verdade no que está me dizendo agora. Não consigo. E tudo isso, somado ao fato de que você "perdeu" minha carta...

- A carta! Tudo para você tem haver com a maldita carta! Eu a perdi! Desculpe, mas o que posso fazer? – Ele também gritou.

Eu me encolhi, surpresa.

– Desculpe. - Ele suspirou. Parecia estar se aproximando, mas eu continuei com a cabeça entre os joelhos. - Mas é que eu... – Sentia o calor de seu corpo junto ao meu, mas era um calor diferente, quase como o de um animal. – Não gosto de te ver assim. Não gosto de brigar com você.

De repente, senti uma batida leve em meu ombro esquerdo. Mas sua cabeça estava no meu lado direito. Por algum motivo, me lembrei de algumas "rabadas" que eu levava do cachorro da minha avó quando era pequena. Não! Cachorro... Escuridão... Percy... Submundo... Havia entendido, mas tarde de mais.

Levantei a cabeça a tempo de ver a boca do leucota tentando me abocanhar. Recuei, ainda no chão. Ele avançava em minha direção. Ouvi um som metálico. Olhei para cima e vi uma gaiola cair em cima de mim. Estava presa.

Como pude ter sido tão idiota? É claro que Percy não estava no Submundo. Foi uma armadilha. E eu, como uma boba, cai. E gora? O que eu ia fazer? Esperar resgate? As meninas, provavelmente, também caíram nessa, afinal, toda nós escutamos vozes, mas em caminhos diferentes... E eu consegui deixar essa passar. Não Anabel, nem um pouco suspeito...

Agora não adiantava muito eu ficar me julgando. Nada adiantaria muito. Olhei para o leucota que me atacara. A única coisa que ainda pude ver dele naquela escuridão foram seus olhos com um gélido tom de verde.

Me deitei com um suspiro. Se nãoera Percy, significa que ele pode ainda gostar de mim, afinal, não era ele falando,não era ele mentindo. Isso foi o suficiente para me deixar com um sorriso norosto. Sim, eu estava definitivamente e irremediavelmente, apaixonada.    

O metrô da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora