"Por isso estou aqui
Vim cuidar de você
Te proteger, te fazer sorrir
Te entender, te ouvir
E quando tiver cansada
Cantar pra você dormir"
(Saulo Fernandes-Anjo)Eu não dormi. Por mais confortável e refinado seja um hospital, não consegui dormir. Vi o Domingo nascer com pesar, não me recordo de ver um dia amanhecer nessas circunstâncias. Lucas, ainda não acordou, acredito que seja efeito do sedativo. Minha tia me enviou mensagem dizendo que vem ficar com ele para que eu possa descansar hoje já que vou ter audiência amanhã.
Arrumando minhas coisas e checando pela milésima vez a temperatura do Lucas, escuto batidas sutis na porta.-Entre-Minha tia surge com o sorriso no rosto.
-Bom dia, Minha Querida. -ela me cumprimenta sorrindo-como está o pequeno Lucas?
-Está bem. Rafaela disse que ele vai ficar bem.
Falando no Diabo, ela adentra o quarto, ridiculamente, desfilando. Minha tia olha pra mim, depois para ela...
-Reunião em família e não fui convidada?-diz com desdém.
Minha tia, coitada, olha pra mim visivelmente apavorada e entojada.
Quando cheguei ao Rio pude saber a razão de minha tia ter "virado" as costas para a família. E só então pude sair daquela bolha de farsa.
-Tia, vou em casa, mas volto antes do meio dia.-digo e beijo sua testa as deixando lá.
Chego ao prédio, literalmente, morta. Arrasto meu corpo até o elevador e quando as postas metálicas abrem vejo meu reflexo no espelho e percebo o quanto a noite não dormida me custou.
As olheiras castigaram minha face; meus cabelos desgrenhados, dão um aspecto leonino ao meu estilo largado.
Traumatizada com o que vejo saio do elevador a procura de minhas chaves e vejo um corpo se aproximar.-Veja só quem está horrível-Henrique diz me analisando. -um expresso?
Não respondo. Limito-me a revirar os olhos por ele usar as palavras que em outra circunstância eu disse.
Abro o apartamento e vejo que ele me segue através da parede de espelho do meu hall de entrada.
Eu poderia brigar; discutir e retrucar sua cortesia. Mas me sinto tão cansada e fraca que tudo que consigo pensar é em banho e sono. Jogo as chaves no balcão da cozinha e vou em direção ao meu quarto enquanto Henrique se dirige a cozinha.
Encho a banheira com água e sais, e mergulho nela. Fico um bom tempo lá. Não tempo que me leve a um suicídio, mas tempo suficiente para liberar a sensação de afogar de mágoas. Que a verdade seja dita, motivos é que não me faltam para que eu queira sumir. Não falo de ameaças como acontecia antes, isso me acostumei. Digo da mudança radical que tive em quinze dias.
Primeiro temos o aparecimento de Rodrigo; irei julgar Ricardo; o possível fechamento do orfanato; a queda de imunidade da Iolanda; a doença de Lucas e agora Rafaela com todo o seu veneno. Passado e presente juntos.
Todos esses fatores tiram minha paz. Odeio me sentir impotente e, é justamente assim como eu me sinto. Sabe, lutei muito durante treze anos pela minha zona de conforto, para me tornar quem sou hoje. E de repente, vejo isso balançando em quinze dias sem que eu possa gritar, protestar ou lutar .Pois acima de tudo isso, tive que me abraçar à personagem de madrinha perfeita e isso faz com que eu engula meus sentimentos, que eu os atropele covardemente sem questionar o porquê. Não significa que eu esteja infeliz pelos meus amigos, longe disso. Mas é que me sinto na obrigação de manter a felicidade deles, entende?
Os problemas são meus. Não posso superlota-los ou jogar um balde de água fria no estado de felicidade deles com minhas questões.
Tenho Tanaka, mas não posso correr para seus braços toda vez que eu me sentir pequena e acuada. Ele tem a vida dele também. Então só restamos eu e eu mesma nesse jogo.
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Treinada para não Amar_ Katrina[CONCLUÍDO]
Romance6° lugar em leitura feminina- dia 09/07/2018 10° em leitura feminina- dia 09/08/2018 Katrina González Bitencourt é, sem dúvidas, um dos nomes mais temidos no sistema judiciário penal brasileiro. Com apenas 29 anos e determinação e ousadia surpre...