Julgamento|Capítulo 18

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Entramos todos juntos no auditório que está cheio. Por se tratar de crime sexual, o julgamento será em sigilo. Infelizmente ou felizmente, os crimes de corrupção e os esquemas fraudulentos competem a jurisdição do STJ.

—Vamos lá, daremos início a audiência de Ricardo Muniz Mazzaropi que foi preso sob a acusação de Estupro de Vulnerável e violação sexual.

—Ricardo, na cirurgia do dia 12 de março de 2015 que realizaste ,desnecessariamente, na senhora Beatrice Cardoso, em depoimento você afirma que após a cirurgia o senhor se ausentou a deixando desacordada com sua equipe. No entanto, as câmeras do hospital mostram que o senhor retorna assim que a equipe sai, quinze minutos depois, e demora dentro da sala trinta e oito minutos. O que o senhor fez nesse intervalo de tempo?

—Eu fui examinar a paciente.

—Esse procedimento não é feito no pós-operatório com a paciente acordada no quarto?—Henrique indaga e vejo Ricardo comprimir os lábios. Claramente irritado por sua falha. Óbvio que viria uma mentira ali.

—É um procedimento regimental do hospital. É feito antes da paciente voltar para o quarto.

—Então por que o senhor não realizou o mesmo procedimento com a segunda cirurgia do dia com o senhor Severino?

—Deixei que os residentes fizessem.

—Meses depois o anestesista que trabalhava em sua equipe abriu um processo administrativo contra o senhor acusando-o de manda-lo aumentar as doses de sevoflureno para que as pacientes dormissem por mais tempo. Por que?

—Porque o procedimento era demorado e doloroso. Prezo pelo bem-estar de meus pacientes.

—Ainda em depoimento, o senhor alega que não teve mais contato com a paciente, mas há registros de sua entrada em seu quarto às 00:43. Sete minutos depois a segurança é acionada e pessoas testemunharam gritos de socorro. O que o senhor foi fazer lá?

—Eu não fui.

—Esse claramente é o senhor.—Henrique entrega uma foto datada a Ricardo que olha para Rodrigo em mero desespero.—então o que o senhor fez?

—Estava encerrando meu plantão e fui ver a paciente.

—Senhor Ricardo, o senhor havia terminado o plantão há treze minutos antes de sua entrada no recinto. Aqui mostra o horário que bateste o ponto e a ata de responsabilidade das cirurgias e atendimentos feitos no dia—ele mostra.—Por que a paciente gritou socorro com o senhor ainda no quarto?

—Ela estava tendo pesadelo, seu sono estava inquieto e eu tentei acalma-la.

–Curioso senhor Ricardo, uma vez que ,para a polícia o senhor alega não  ter tido contato com a vítima, e após treze minutos de ter encerrado seu plantão ser visto no quarto da mesma e ser escutado por testemunhas o grito de socorro. O senhor concorda que a incoerência em seu depoimento?--Henrique arqueia as sobrancelhas acusatórias e vejo Ricardo apenas com o olhar implorar por socorro.

--Protesto Meritíssima! Ele está coagindo e guiando o depoimento de meu cliente.

Infelizmente, não pude fazer nada a não ser concordar.

--Mantido!

--Terminei Meritíssima.--Henrique retorna para seu acento e se cala.

Chamo a vítima para depor e é a hora de Rodrigo atuar. Ricardo quando retorna para seu lugar, tem a audácia de piscar para mim. Minha vontade é de prende-lo imediatamente. Mas, não o faço.

—Senhorita Beatrice, a senhora poderia nos dizer o que a senhora se lembra do processo cirúrgico e o pós-operatório.

Beatrice contou tudo que aconteceu: ela teve sonho no qual Ricardo a tocava e efetivava o ato sexual. Ela contou as dores que sentiu e quando ele entrou no quarto e ela contou o que estava acontecendo ele ficou nervoso e ameaçou matá-la com uma seringa. Por isso os gritos de socorro.

Treinada para não Amar_ Katrina[CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora