Desde muito pequenas as crianças são educadas a seguir horários, desenvolver certos comportamentos e maneiras de ser. Eu, não fui diferente delas. Por muito tempo me vi na obrigação de seguir àquilo que fui "adestrada" a fazer. E veja só no que deu?Tive uma adolescência conturbada que acabou respingando na minha vida adulta.
Por anos vivi guardando tudo para mim, enfrentei ataque de pânico, pesadelos... e, por mais que minha tia movesse o céu a terra em busca de psicanalistas renomados, nada mudava. Com o passar dos anos me tranquei. Psicólogo já não era mais útil em minha jornada, eu ia para as consultas e ficava encarando a parede remoendo tudo que passei.
A culpa era minha. Eu não fui suficiente para minha família.
Não fui a melhor namorada para Ricardo.
Ele estava certo. Como eu queria que ele me amasse se eu não dava o que ele queria?
Fiquei presa em uma cela de culpa. Decidi cursar direito porque eu não queria lembrar do que era medicina, tanto que criei uma resistência a médicos.
Ao chegar no Rio e ser amparada por minha tia, a primeira coisa que ela fez foi me levar no médico. Fiz todos os exames possíveis, e ficou tudo muito claro quando com o passar do tempo, minhas cólicas se tornaram intensas e ao investigar, descobri o comprometimento em uma das trompas. Filhos? Nem pensar.
Mas também, tanto faz... eu só queria ter filhos com Ricardo, se não fosse com ele a minha família margarina, não possuía interesse.
Uau! O mundo dá voltas. Quando fiz aquele trabalho sobre violência doméstica, tudo mudou.
Lembro como se fosse hoje, eu não queria amigos, achava que iriam fazer comigo o que Rafaela fez, então eu me afastava. Homens? Nem em sonho.
A lei Maria da Penha estava para entrar em sansão e quando o professor passou o trabalho e fomos pesquisar, vi que várias mulheres passaram pelo o que passei. Não me refiro a levar surras, mas toda aquela cobrança psicológica de ser a mulher/namorada perfeita, e se não fosse, eram brigas, dias ignorada e quando voltámos ao "normal" recebia flores com o pedido de promessa de tentarmos ser melhor e atender ao pedido do namorado apaixonado. Isso me fazia sentir culpada. Nós brigamos porque eu não fiz o que ele quis. A sensação de insuficiência assolava e as lágrimas desciam. Mas o bom homem vinha me consolar dizendo que me amava, só ele era capaz de me amar. Que por eu ser inexperiente e nerd, não me encaixa no gosto masculino. Que se não fosse sua compaixão, eu viveria sozinha. Com medo de perder o príncipe encantado do cavalo branco, sempre eu estaria a sua mercê.
Quando vi que eu não era a única, aquilo me despertou. Não fui a única. Ele que foi um filho da puta. Meu travesseiro não merecia secar minhas lágrimas. Ao ver Luana contar sua história na sala percebi o quão mal o homem é.
Algo de útil eu teria que fazer. Era meu dever. Então a chamei para jantar, contei tudo para a minha tia e ela sorriu ao me ver com o sorriso nos olhos e não com lágrimas. Contei a ideia que tive de criar um grupo de apoio e Luana aceitou, minha tia comprou o espaço e nos cedeu e assim nasceu a UTPNM.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Treinada para não Amar_ Katrina[CONCLUÍDO]
Romance6° lugar em leitura feminina- dia 09/07/2018 10° em leitura feminina- dia 09/08/2018 Katrina González Bitencourt é, sem dúvidas, um dos nomes mais temidos no sistema judiciário penal brasileiro. Com apenas 29 anos e determinação e ousadia surpre...