APOSTA|Capitulo 2

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"Aposta: Todos os dias apostamos algo. Seja com alguém, em alguém ou em nós mesmos. É uma maneira de esconder e disfarçar algo que já sabemos a resposta e tememos simplesmente por ter o álibi do acaso"

Quando finalmente abri os olhos na manhã seguinte, raios de sol ultrapassavam as frestas da janela de meu apartamento como se estivessem felizes em esfregar na minha cara que mais uma Quinta-feira teria início.

Eu não tinha um alarme. Seria desperdício de dinheiro pois em alguns dias ele logo seria arremessado de encontro a parede por me deixar tão irritada. Não me entenda mal. Eu jamais tivera problemas em acordar cedo, na verdade, meus pais costumavam me chamar de passarinho quando criança pois sempre que o sol nascia eu estava de pé fazendo barulho pelos cômodos da casa.

O meu problema era o som que era emitido por essa maldita máquina de tortura conhecida como alarme. Gosto de acordar em paz, sem ninguém para me apressar ou reclamar do meu rosto inchado pela manhã. Não existe nada melhor do que a privacidade.

Lembro-me que em algumas experiências amorosas cheguei a acordar mais cedo do que o normal apenas para lavar o rosto, arrumar o cabelo e, muitas vezes, até passar um maquiagem básica. Dessa forma, nenhum ex namorado meu teria o prazer de afirmar que já me viu desarrumada ou algo do tipo. Eu fingia ser perfeita até mesmo para dormir!

Talvez foi daí que surgiu esse meu trauma de alarmes e obrigações. Sim, eu sou responsável, mas jamais aceitarei ser controlada por algo ou alguém novamente. Não depois de tudo o que aconteceu na minha vida.

Fui arrancada de meus devaneios quando o toque de meu celular ecoou pelo cômodo.

-Katrina, você já está chegando? A primeira reunião jurídica foi adiantada 20 minutos e você ainda nem leu os papéis do caso de hoje!

Minha cabeça latejou com o tom de voz e sotaque pernambucano de minha assistente e melhor amiga, Gabriela Freire. Conheço Gabi há mais de 10 anos, nos conhecemos ainda no colegial e nos tornamos ainda mais unidas quando ambas descobrimos que queríamos estudar direito. Eu conquistei minha vaga como juíza e ela como uma das atuais assessoras do meu gabinete. Na verdade, uma das mais importantes. É ela quem faz as sentenças dos casos repetidos e prepara os papéis para a elaboração de um novo caso. A minha vida profissional basicamente depende de sua responsabilidade.

-Bom dia para você também, lindinha.

-Vá para merda com o seu bom dia... -Agora ela estava sussurrando para impedir os que estavam ao seu redor de escuta-la. Eu adorava o jeitinho dela.

-Já te falei que adoro o seu bom humor matinal? -Provoquei.

-Olha, Kat... Eu te adoro... Mas eu juro que se você não parar com essa palhaçada toda eu enfio esses papéis...

-Epa! Epa! Pode parar por aí, amiguinha. Estou a caminho.

Desliguei a chamada soltando uma gargalhada ao correr até o banheiro.

Foram precisos exatos 15 minutos para eu tomar um banho e vestir uma camisa branca de botões e saia plissada verde. Era uma maneira distinta de se vestir mas acabava não importando porque, no final, a mulher alegre e colorida que adorava provocações, ao vestir a beca, se transformava na pessoa mais durona daquele tribunal. Então ninguém questionava o meu visual alegre. Eu não precisava de roupas formais para impor respeito.

Em 30 minutos eu já saía de meu apartamento com o copo de café expresso na mão direita, a bolsa pendurada em dos ombros e os papéis do caso mais importante do dia na mão esquerda.

No relatório constava um processo sobre uma mulher acusada de abandono de menor.

Sarah Mendonças Natucci.

Treinada para não Amar_ Katrina[CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora