— Alguns dias depois.
O meu cabelo estava liso e com um pouco de volume depois que sai do banheiro e passei chapinha — era a primeira vez em dez anos que usava essa coisa, até mesmo doeu por alguns instantes, pois estava quente e eu não estava acostumada, mas me fixei que os resultados que isso traria, seriam incríveis.
Sai para comprar alguns produtos de beleza sobre a supervisão de Brigith do outro lado da cidade, ela me explicou o uso de cada acessório e eu complementei vendo tutoriais na internet sobre o assunto. O resultado? Minha bochecha rosada e a boca na cor do outono — um vermelho alaranjado.
Me encarei no velho espelho.
Com o fundo do meu quarto escuro, ficava um pouco difícil saber se eu estava bonita, mas estava confortável no vestido caro que comprei na loja em Riverdale, o traje perfeito de cor azul bebe com babados, sem mangas e com o decote que até caia bem em meus seios já que não eram tão grandes quanto os de Dakota ou de Johanna, só tinha o formato de V deixando a amostra os lados, quem sabe Johanna não tivesse uma reação ao meu ver dessa forma.
Alguém toca a minha porta.
— Mamãe.
Vejo sua pessoa entrar no meu quarto, através do espelho enquanto tento separar as mechas do meu cabelo e ajustar cada uma ao seu devido lugar, eram 21h50 quando olhei no visor do meu celular e sabia que tinha dez minutos para manter a pontualidade.
— Filha, por deus, o que é isso? Para onde vai vestida dessa forma?
— Vou sair com Johanna Mitchel, ela diz ter uma surpresa para mim.
— E espera estar bonita para o lugar onde vai, mas você... nunca se vestiu dessa forma, minha filha. Você se sente bem dessa forma?
— Sim, mamãe! Eu estou realmente sentindo energias boas e sei que só tenho a ganhar com essa mudança de visual. Johanna me incentivou a ficar bem comigo mesma para estar bem comigo mesma.
— Johanna... eu posso estar errada querida, mas... não sente por Johanna o que sente por Nowa, estou certa?
Ela se senta na beirada da minha cama apoiada por sua bengala e com sua roupa de dormir, bobs no cabelo e as pantufas rosas nos pés miúdos.
Me viro na direção da minha mãe, solto os meus cabelos e enfim estou sentada ao seu lado, tomando seu ombro entre as minhas mãos e suspiro, olho-a sutilmente.
— A verdade, mamãe — engulo em seco, sinto o temor de levar um tapa na cara quando seu olhar se fixa no meu e ela aguarda que eu diga algo, de preferência a resposta para a sua dúvida. — Eu... eu... descobri que... estava... gostando de Johanna Mitchel, que a amizade entre amigas era na verdade um estranho desejo... uma atração do tipo que homens e mulheres tem... descobri que me sinto atraída por mulheres, uma lésbica.
Mamãe fica sem palavras, ela se levanta com um pequeno gemido me deixando de lado, vira as costas para mim enquanto busca apoio no lastro da minha cama e depois se vira na minha direção com um olhar vazio e sem sorriso, as rugas e pontos do seu rosto se tornam mais profundos e rígidos, como numa carranca enraivecida.
— Lésbica? É assim que chamam esse estranho mundo onde uma mulher se apaixona por outra? — o seu tom é elevado pelos velhos costumes, como se dissesse que aquilo era uma loucura só de existir e dela estar ouvindo isso.
— Sim, mamãe... e isso não é estranho, na nossa sociede é muito normal que coisas assim aconteçam e para a gente só basta assumir. Johanna me seduziu, me deu o carinho e a atenção que eu tanto me ensinava, me ensinou a beijar e... até foi capaz de... me causar ereções.
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Meu Indomável Desejo (Livro 1) - CONCLUIDO
ChickLitSinopse Cecilia Winsloe é vista por todos como uma estranha e reclusa garota. Aos doze anos descobriu ser hermafrodita - uma anomalia genética em seu corpo que a faz ter caracteristicas de ambos os orgãos; masculino e feminino. E que transforma sua...