Quando o mundo real voltava para nos assombrar, ambas sabíamos que o retorno a ele não seria tão simples. Sobretudo para mim. Eu tinha abdicado de toda a minha vida para escapar dos meus sentimentos, mas ao voltar para a área comercial de Dublin, sabia que teria de enfrentar os meus chefe, o meu professor, a minha mãe e a minha senhoria, dar explicações que precisariam ser boas o suficiente.
E dentro daquele carro, com o sinal já reestabelecido, aquelas várias ligações perdidas e mensagens na minha caixa eram mais preocupantes do que tudo durante o nosso retorno silencioso. Por um momento, pensava naquela cama e nos nossos instantes de prazer, mas aquilo era ocultado quando comecei a pensar nos gritos de Clark quando eu chegasse a IMS.
— Estou com medo, Johanna — digo sem tirar a cara da tela do celular.
— De que, meu bem? — ela põe a mão no porta luvas e de lá recolhe um maço de cigarros chiques. — Acenda para mim. Por favor.
— De voltar ao meu dia a dia, sabe? Eu perdi três dias de aula na universidade e na IMS. Simplesmente não sei como vai ser quando retornar.
Coloco o cigarro em seus lábios enquanto estralo o isqueiro até ele luzir.
— Faltas são consideradas se o motivo for de saúde, querida. Não fique amedrontada.
— Eu sei, mas... eu não estava doente, Johanna. Apenas tomei uma decisão impensada e agora tenho que pagar por ela.
— Não se preocupe, vou estar com você se precisar.
— Vou ligar para o Barnes antes de ir até a IMS.
Digito rapidamente seu número e aperto no ligar, ela tem um olhar de expectativa sobre mim enquanto ouço os bipes intensos de ligação encaminhada. Até um ruído assumir.
— IMS, gerente de ER, Barnes. Bom dia?
— S... senhor Barnes, sou eu, Cecilia.
— Oh, Cecilia! Pelo amor de todos os deuses. O que houve com você? Está tudo bem?
— E... esta sim, mas eu... queria saber qual a minha situação na empresa. Faltei 3 dias consecutivos por... — eu olho para Johanna. — Motivos de saúde... mas não cheguei a ir no hospital. O senhor poderia considerar, por favor? Esse trabalho é muito importante para mim.
— O RH considera a sua situação extremamente delicada, Cecilia, mas venha até mim para conversarmos. Sim?
— Sim! Obrigada. Vou estar ai em alguns minutos.
— Certo. Nos vemos.
Ele desliga antes de mim e eu estou comemorando por pelo menos ter a chance de ir falar com ele antes de ser destruída, mas Johanna por outro lado, parece não ter gostado de algo. Sua expressão rígida dizia que algo estava errado e não era em Barnes e sim em mim, ela balançou a cabeça e fez um som de negação.
— O que foi, Johanna? Você parece ter mudado de uma hora para outra.
— Não, sweetheart. É que um comportamento seu me é preocupante.
— Perdão... eu... não entendi. Disse ou fiz algo errado a você?
— Não, a mim não, mas ao seu chefe. Você se mostra totalmente submissa quando usa de muita necessidade e suplica por julgar que algo é tão importante e que você precisa. Pedir por favor para ser ouvida é muito baixo. Você me entende? Não deve suplicar para ter o que quer ou garantir o que já tem.
— Desculpa — abaixo a cabeça, envergonhada por ser tão 0. — Nunca fui boa com esse negócio de posicionamento. Principalmente na minha empresa onde sempre fui o assalariado e ele e Clark os chefes.
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Meu Indomável Desejo (Livro 1) - CONCLUIDO
Literatura FemininaSinopse Cecilia Winsloe é vista por todos como uma estranha e reclusa garota. Aos doze anos descobriu ser hermafrodita - uma anomalia genética em seu corpo que a faz ter caracteristicas de ambos os orgãos; masculino e feminino. E que transforma sua...