Capitulo 32

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Eu toquei a campainha uma, duas, três vezes. Estava começando a ficar escuro a ponto da região já ter acendido suas luzes noturnas, as ruas estavam sendo pontuadas e lentamente se esvaziavam. O frio e a fome me assaltavam, mas uma luz surgiu na sacada da casa e ouvi o trinco da porta se abrindo. Engulo em seco, sentindo o tremular do meu peito.

Então vejo um rosto conhecido que me agrada.

— Tia Betty... pode me ajudar?

O último recurso era ninguém menos que a minha tia Betty. Por quase três horas eu rodei a cidade com pouco dinheiro, sem esperança e com apenas um objetivo que fugir e ir para longe do contato com Johanna após me sentir tão abalada pelo o que fiz com ela. Não queria mais faze-la sofrer, ou pior, me fazer sofrer por faze-la sofrer.

A casa dela ficava ao noroeste de Dublin, próximo a Smithfield e a ponte Frank 1982 que também dava acesso a aba superior do River Liffey — cujo Riverdale ficava ao Leste. A maior parte do tempo eu passei de bonde, depois de ônibus e por fim de metro economizando o máximo e fazendo baldeações intermináveis.

Então, eu finalmente me vi segura na casa da minha tia que não mediu esforços para permitir a minha entrada.

* * * * *

— Então... você não suportou o peso do seu segredo vindo para essa moça naquele momento?

Tia Betty me serve um chá bem quente enquanto dá a volta em uma mesa de centro feita em carvalho e se senta ao meu lado em um pequeno sofá.

A sua casa não é grande, mas é confortável por ser extremamente organizada e não havia nada fora do lugar na sala de estar. Os moveis eram caros, mas ela comprou em estoque. Eles tinham um toque clássico, delicado e feminino. A cozinha era separada da sala apenas por uma bancada e uma moldura de porta, enquanto que do outro lado estavam seus moveis prateados; fogão, micro-ondas, geladeira e outras coisas. Aos fundos no lado esquerdo havia um par de portas com entalhes chineses muito bonitos.

Eu me fechei em uma concha e dei uma golada no meu chá enquanto ainda tinha tia Betty aguardando uma resposta. Ela não chegava aos quarenta anos. Alta, com longos cabelos em cachos loiros, rosto fino com uma pele de leite e uma testa grande, olhos castanhos como os meus, um corpo feminino, vestes discretas, apenas alguns agasalhos de ficar em casa e meias.

— Não, tia, eu entrei em pânico porque não sabia qual seria a reação dela... e o pior foi não ter dado chance dela dizer nada porque eu estava com medo de ouvir algo mais que não queria.

— Passou por muita coisa, Cecilia, muito estresse emocional. Você desejava essa garota, mas não estava pronta para revelar o seu segredo mais profundo.

— Eu acho que a culpa foi minha porque mesmo a minha mãe me questionou sobre isso e eu desviei. Achei que teria a oportunidade de contar no momento certo mas estava empolgada com a primeira vez que até mesmo me esqueci das coisas.

— Eu sei, Cecilia, mas a verdade é que o seu temor de não ser aceita foi pior que a sua reação de desespero. Isso assustou Johanna, assim como a você.

— Johanna é diferente da maioria das mulheres. Um tipo excêntrico, sabe? Ela é rica, sempre teve o que queria e já teve outras experiências tanto com homens quanto com mulheres, mas isso... o que construímos era novo e especial. Não sei se ela me aceitaria como sou. É tão estranho. Não me espantaria nada se ela tivesse mesmo se assustado quando me tocou.

— Ela conhece o seu interior, Cecilia e sabe que você é assim; sensível, delicada, inocente. No máximo, vocês seriam elevadas a uma conversa difícil e nada mais, minha querida — ela acaricia uma mecha do meu cabelo enquanto está virada na minha direção com os pés sobre o sofá. — Eu só quero dizer que você não estava pronta para se aceitar naquele instante e só permitiu que o medo te tomasse.

Meu Indomável Desejo (Livro 1) - CONCLUIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora