Invisible String

29.7K 1.5K 424
                                    

As luzes brancas do hospital se misturam em um borrão diante dos meus olhos cansados. Eu me apoio no balcão da recepção da emergência, tentando ter um breve momento de tranquilidade em meio ao caos do plantão. O zumbido constante das máquinas e os passos apressados dos enfermeiros formam uma trilha sonora peculiar, uma com a qual eu já me acostumei nesses últimos anos.

Fecho os olhos por um instante, deixando escapar um suspiro pesado. Ainda tenho a imagem da pequena Amelie gravada na mente — uma garotinha de quatro anos com bochechas rechonchudas, agora marcadas por lágrimas. Uma queda durante uma brincadeira resultou em um corte na testa. Nada grave, mas suficiente para assustar qualquer mãe.

Abro os olhos e encaro a movimentação constante ao meu redor. Enfermeiros correndo de um lado para o outro, telefones tocando, o ritmo frenético que nunca desacelera. Mas, por um breve momento, me permito saborear o silêncio relativo enquanto folheio uma revista qualquer abandonada no balcão.

— Doutora, aqui está o prontuário que a senhora pediu. — Cindy, uma das internas, aparece com um sorriso largo demais para quem está no meio do caos hospitalar.

— Qual deles? — pergunto, sem tirar os olhos da revista, levando o copo de água aos lábios.

— Como assim qual deles? A senhora só pediu um.

Mordo os lábios, lutando para não soltar algo que possa soar rude. Preciso de paciência com ela, mas às vezes me pergunto como Cindy conseguiu se formar.

— Pedi dois, Cindy. O do paciente do quarto andar e o do quinto também.

— Ah... Me desculpe, Doutora Mellmann. Eu só fiz o do quinto andar.

Respiro fundo antes de responder.

— Suba e faça o que está faltando. Depois vá praticar suturas; você precisa aperfeiçoar os seus pontos.

Ela bufa, mas sai sem retrucar. Não dá para ser complacente com internos. Se eu não for exigente, eles não aprenderão nada.

— Alguém está estressada hoje.

A voz de Jin me tira dos pensamentos. Ele se aproxima com dois copos de café e me entrega um deles.

— Obrigada. — Aceito com um sorriso cansado. — Estou há quase trinta horas sem dormir. Como você quer que o meu humor esteja?

Dou um gole e faço uma careta imediata.

— Meu Deus, isso está horrível!

— Amargo como você. — Ele arqueia uma sobrancelha, rindo.

Antes que eu possa retrucar, Charlotte chega, distribuindo energia por onde passa.

— Oi, amor! Oi, Emma!

Charlotte dá um selinho em Jin e me puxa para um abraço caloroso. Seu perfume floral suave contrasta com o cheiro estéril do hospital. Charlotte é obstetra e esposa de Jin. Eles estão juntos desde a faculdade, o casal modelo que todos admiram. Somos amigos desde os tempos de internos, e essa amizade se manteve firme.

— Como você consegue manter essa energia no fim de um plantão? — pergunto, admirando seu sorriso contagiante.

— É um dom natural. — Ela ri. — Mas o café ajuda.

— Café ruim não deveria contar. — Jin provoca, balançando o copo com o resto do líquido que mal conseguimos engolir.

— Não é tão ruim assim! — Charlotte retruca, cruzando os braços com uma expressão desafiadora.

— Preciso discordar. Definitivamente pareceu óleo de motor. — Faço uma careta exagerada, arrancando uma gargalhada dela.

— Vocês dois são tão dramáticos! — Ela revira os olhos. — Acho que estão precisando de férias.

Hits Different | jkOnde histórias criam vida. Descubra agora