vinte e seis. matthew espinosa

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A primeira noite no cruzeiro estava sendo um pesadelo, mais para a Maile do que para mim, mas ainda assim um pesadelo.

Os problemas não começaram com a demora para – finalmente – nos alojarmos na cabine,  ou com o treinamento de emergência – que realmente deixou a Maile desconfortável –, ou com a multidão durante a celebração de "boas-vindas" no deck, de forma alguma. Os problemas começaram mesmo foi pela madrugada, quando ela acordou passando mal e eu não tive ideia do que fazer.

Ela colocou para fora tudo que tinha ingerido desde o aeroporto no dia anterior, e eu tenho certeza de que ela não vomitou mais porque não tinha forças – nem comida, mas com certeza era mais pela fraqueza. Eu sabia que aquilo podia acontecer, nunca tínhamos passado tanto tempo em alto mar, mas eu esperava que o remédio para enjoo fizesse algum efeito. De fato ele fez, foi o efeito contrário, mas fez.

Maile passou pouco mais de meia hora vomitando, e depois levou mais meia hora trancada no banheiro tentando se acalmar. Depois de um banho e roupas limpas, ela voltou pra cama mais pálida do que um albino. Eu simplesmente não sabia o que fazer.

— Para de olhar pra mim desse jeito, por favor. – ela pediu.

— Eu não sei o que fazer. – dei de ombros e soltei os braços ao meu lado, talvez um pouco dramático — Eu não sei o que fazer. – repeti pausadamente.

— Eu não estou morrendo, Matthew. – ela tossiu ao terminar a frase e eu me alertei — Eu só preciso me acostumar com isso. – se referiu ao navio.

— Você quer alguma coisa? – ofereci, tentando ser útil.

— Minha bolsa, por favor.

Fui até o pequeno armário onde nossas coisas estavam. Peguei a bolsa dela – relativamente pesada – e coloquei ao seu lado. Eu me sentia uma criança que não entendia do mundo e não sabia qual utilidade tinha, era patético.

— Água. – ela pediu mais uma vez e tirou uma caixinha com comprimidos de dentro de outra bolsinha. Onde cabe tanta coisa?

— O que são esses comprimidos? – perguntei curioso.

— Analgésicos. – ela respondeu e engoliu um com a ajuda da água.

Ficamos uns minutos em silêncio, e logo Maile começou a se remexer na cama. Ela tentava se deitar bem devagar, talvez para evitar o mal estar, mas logo sentou-se.

— Eu não consigo. – respirou fundo — Não consigo me deitar.

Senti-me mal por ela, dormir sentado não era a melhor das experiências. Percebi que ela estava tentando não chorar, talvez de raiva... Pelo menos esse seria meu caso.

— Eu tô morrendo de sono e não consigo nem me deitar sem querer colocar para fora tudo que eu não tenho mais.

Se eu já estive incerto sobre essa viagem em algum momento, agora eu me sentia um completo idiota. O que era pra ser algo legal estava se tornando um pesadelo, onde todos estão bem acordados – e talvez prestes a desmaiar de fraqueza.

— Você quer ir lá pra fora? A gente pode pegar um ar fresco. – sugeri.

— São duas da manhã, Matthew. – ela respondeu frustrada.

— E daí?

— E daí que eu estou cansada, sem forças, com fome e com dor; além de sono, muito sono. Eu quero dormir, eu não quero pegar um ar fresco. – antes que eu pudesse pensar em reagir, ela completou — Não, eu também não quero comida.

Suspirei pesado, o que raios eu deveria fazer? Com certeza alguém saberia; alguém útil, alguém normal. Qualquer outra pessoa saberia o que fazer, mas ela estava presa comigo, um completo inútil. Maldita hora em que eu achei que tudo daria certo como Kristen previu, parecia tão simples, mas só parecia mesmo.

1 | faking it · m. espinosa [✔️]Onde histórias criam vida. Descubra agora