quarenta e quatro. matthew espinosa

3.4K 309 282
                                    

Acordei com uma baita dor nas costas e música estrangeira ao fundo. Abri os olhos e logo reconheci o ambiente: eu estava no apartamento da Maile, em Nova York.

— Bom dia! – Maile surgiu na sala de estar, bagunçando meus cabelos e sentando-se na janela.

— Bom dia. – respondi me acostumando com o clima do lugar — Isso definitivamente não é a Califórnia.

— Eu sei. – ela riu sem jeito — Mas você se acostuma, vai por mim. – dei de ombros.

Maile me cedeu sua sala de estar pelos dias que ficarei aqui, o que significava que eu tinha um sofá espaçoso e caminho livre para a cozinha até a terça-feira.

— Como se sente? – perguntei, lembrando que na noite passada ela passou horas para finalmente pegar no sono (por algum motivo que ela não quis compartilhar).

— Eu tô bem melhor. – respondeu com um meio sorriso.

Maile estava gravando uma cena em locação aberta quando cheguei. Toda a informação de localização eu consegui com ela mesma, que estava super ansiosa com a primeira cena fora do estúdio e me contou tudo que podia no dia anterior. Desembarquei no início da tarde e segui para os arredores, tendo a sorte de ter chegado antes de a rua ser interditada. Mantive-me no 'disfarce' e dentro de uma cafeteria próxima até metade das gravações, e quando saí fui orientado a não ultrapassar a área delimitada. Com alguns minutos algumas pessoas me reconheceram e começaram a pedir fotos, e foi exatamente o tempo da gravação da Maile acabar.

O primeiro a me ver foi o Damon, ele olhou pra Maile – que estava animada acenando para fãs – e balançou a cabeça rindo. Ele a chamou e conversou algo, apontando para o lado em que eu estava. Perdida, ela olhou em minha direção e recuou incrédula. O que aconteceu depois... Bem, o que aconteceu depois foi parar no Twitter.

Ela lidou muito bem com a 'rodinha' de fãs que se formou ao nosso redor, e pediu apenas licença. Nada de pânico, o que me deixou feliz. É verdade que ela chorou, e foi só de noite que eu soube o motivo.

"Obrigada por ter vindo. Eu estava nervosa, com medo, ansiosa e até um pouco desistente. Apesar de ter morado por tanto tempo aqui, não é a mesma coisa agora. Nova York se tornou destino de trabalho também, e eu me tornei uma estranha novamente. Estava prestes a enlouquecer sem algum conforto ou lembrança de casa."

Maile me considerava lembrança de casa. Eu não sei se eu sou a única pessoa que se dá conta do quanto isso significa, mas é muito, muito mesmo. E no nosso caso é recíproco, ela só não sabe disso ainda.

Não lembro quando a brilhante ideia de voar da Califórnia para Nova York de uma hora para a outra surgiu, eu só lembro-me de estar desembarcando no JFK e pensando na última vez que tinha feito isso – vulgo viagem no Disney Cruise.

Isso me fez pensar nos últimos meses e em quanta coisa tinha mudado. Era como se tudo tivesse clareado depois da Maile, todos os problemas pareciam esperar a chegada dela para começarem a se resolver. Parece surreal, mas a situação é mais ou menos essa. A garota que pensei jamais dar certo como 'ajuda', hoje já interage comigo de forma espontânea, porque sim, Harry deixou de nos mandar os 'roteiros' – não que a gente seguisse tudo certinho, de qualquer forma.

Isso tudo me preocupava e muito, porque eu sabia que chegaria ao fim. Nós tínhamos um contrato, e o prazo era "até as coisas melhorarem"... Sendo isso bom ou ruim, as coisas estavam melhorando aos poucos.

Enquanto isso, Maile se tornava uma figura essencial e única na minha vida. Ela não se importava em dizer certas verdades, porque mesmo que doessem ainda eram verdades. Ela também não dava a mínima para minha fama, ela só queria minha amizade, ela me via como minha família me via, e isso é raro. Por último, mas não menos importante, ela estava do meu lado. No começo eu achei que fosse por algum motivo maior, mas agora que a conheço estou convencido de que ela sempre esteve ao meu lado por livre e espontânea vontade. Por acreditar em mim.

— Matthew? – despertei do meu momento de reflexão com a Maile estalando os dedos na minha frente — Onde estava? – perguntou sorrindo.

— Ahm, lugar nenhum. – desconversei — O que vamos fazer hoje?

— Você eu não sei, mas eu vou passar a tarde inteira no estúdio. – comentou desanimada — Podemos passear de noite se você quiser. É bem agitado, mas...

— Mas eu não quero. Não tem necessidade, não por mim. Tendo comida suficiente na sua despensa eu tô bem.

— Já que você tocou no assunto...

— Eu não vou fazer compras! – alertei. Se tem uma coisa que eu odeio é fazer compras, de qualquer tipo, até pra mim.

Eu simplesmente não tenho paciência pra esse tipo de tarefa, e quando eu penso em todo o resto que vem junto (filas, crianças chorando, problemas nas máquinas, etc) eu desisto

— Vai morrer de fome, então?

— Eu disse que eu não iria fazer as compras, mas nada impede você. – ela arqueou a sobrancelha e riu.

— Quanta audácia! Eu só não queria ir sozinha, mas tudo bem.

— Eu não vou ficar com pena, pode ir, eu odeio filas. – dei de ombros e liguei a televisão. Ela continuou rindo, mas logo saiu.

✿✿✿

— Cheguei! – Maile anunciou. Ela demorou pouco mais de uma hora com as compras, e eu já estava com fome.

— Podemos almoçar? – perguntei impaciente.

— Mas eu acabei de chegar, ainda vai demorar pra fazer alguma coisa e preciso arrumar as compras tamb... – esperei ela voltar da cozinha e a puxei de volta para fora do apartamento.

— A gente almoça fora, só vamos comer alguma coisa antes que eu morra.

Maile ficou me olhando estranho enquanto andava para fora do apartamento. Eu realmente já estava morrendo de fome, mas não iria sair antes dela voltar e tampouco queria esperar ela fazer algo.

— Para de ser dramático, parece que ficou dez anos preso dentro do apartamento.

— Mas eu tô com fome mesmo. – me defendi.

Enquanto seguíamos para algum lugar, Maile me explicava sobre seu bairro com entusiasmo. Eu tentava desviar minha mente da fome, mas foi só quando nos acomodamos em algum restaurante que eu pude relxar.

E lá, em meio a tantas conversas, consegui me perder em pensamentos e comecei a criar mil e uma desculpas para o término do namoro, afinal de contas isso aconteceria eventualmente. Nenhuma das mil e uma desculpas, porém, me parecia boa o suficiente. Talvez porque no fundo eu soubesse que aquilo não era o que eu queria.






  ★★★★★  

notas da autora: EU PRECISEI EDITAR A BOSTA DESSE CAPÍTULO PORQUE TODO MUNDO MALICIOU AQUELE COMEÇO, vocês precisam de uma trabalho espiritual hein. 

só pra constar, o capítulo passado foi um sábado e esse é um domingo (e o próximo é no mesmo dia ainda), doisbj

1 | faking it · m. espinosa [✔️]Onde histórias criam vida. Descubra agora