trinta e um. matthew espinosa

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E então, estávamos prestes a voltar pra casa.

Eu não imaginava que precisava tanto de um tempo sozinho até, de fato, tê-lo. Era bom poder desacelerar a vida e esquecer todas as responsabilidades por um tempo, e eu definitivamente estava precisando. No final das contas, o presente da Maile estava servindo para mim também.

No dia sete nós fizemos outra parada em Castaway Cay, e dessa vez ela quis parar no correio postal. Não entendi, afinal já estávamos quase de volta, mas não fiz perguntas. Andamos de bicicleta e aproveitamos um pouco de Serenity Bay antes de voltarmos para o navio. Naquela noite tivemos uma festa pirata e Maile tirou muitas fotos com os personagens devidamente caracterizados – até eu fui forçado a me produzir por completo.

Na última noite, dia oito, o navio não fez mais paradas e passamos o dia explorando cada centímetro dele. O clima era meio estranho, talvez todos estivessem tristes pelo fim da viagem assim como Maile e eu. Acabamos encontrando a fã de dias atrás no mesmo restaurante que o nosso e ela nos entregou duas lembrancinhas compradas em Nassau, que veio junto com uma mensagem escrita à mão. Depois do jantar, quando voltamos para a cabine, Maile decidiu fazer uma maratona de clássicos da Disney e obviamente me obrigou a assistir. Essa péssima ideia resultou em dois jovens adultos debatendo sobre os enredos dos filmes e pedindo lanches pelo serviço de quarto até as duas da manhã do dia seguinte, o dia do desembarque.

O lance todo com a Maile já tinha passado de um fingimento. Ela se tornou uma amiga de verdade pra mim, alguém importante demais para perder, e eu espero que quando toda essa farsa de namoro acabar a gente possa continuar com a amizade.

Quando acordamos foi tudo bem calmo e até meio melancólico, o café da manhã foi no restaurante em que jantamos na noite anterior, e eu percebi que Maile ficou amolando para não precisar sair dali. Eu iria sentir falta de tudo também, mas eu me sentia pronto para voltar, e tenho certeza de que, mesmo relutante, a Maile também se sentia da mesma maneira.

✿✿✿

O desembarque foi bem tranquilo, rápido até, e a sensação de estar em terra firme nunca foi tão boa. Por sugestão da Maile, atrasamos a volta para Los Angeles para almoçar e andar um pouco em Miami. Ficamos num desses hotéis pago por hora e compramos passagens para um vôo no início da noite. Dessa vez, tudo por conta dela, que insistiu.

Visitamos algumas lojas depois do almoço e Maile pediu para que eu tirasse algumas fotos dela por ali, mas só. Logo em seguida já estávamos a caminho do aeroporto. O dia passou muito rápido.

— Eu estou oficialmente morta de cansada. – Maile comentou quando nos acomodamos no avião, horas depois de termos saído do hotel.

— Você vai ter pouco mais de sete horas para dormir antes de chegarmos em Los Angeles, acha que é o bastante? – perguntei irônico.

— Talvez sete horas exatas resolvessem meu problemas, pouco mais de sete eu já não sei. – revirei os olhos — Brincadeira, pode ter paz enquanto eu durmo. Até mais tarde.

— Até. – me despedi já me preparando para assistir algum filme no monitor.

Uma hora.

Duas.

Três e meia e Maile continuava hibernando ao meu lado, impressionante.

Só quatro horas depois, quando eu já estava em meu segundo filme, ela finalmente deu sinal de vida. Começou a se remexer e falar umas coisas sem sentido, ainda dormindo. Tentei acordá-la e ela gritou apavorada.

Algumas pessoas começaram a olhar e outras até a resmungar, enquanto duas aeromoças me perguntavam se eu precisava de ajuda.

Ela enfim acordou (lê-se abriu os olhos) e parecia mais perdida do que eu. Estava assustada, inquieta e prestes a chorar. Sua respiração começou a falhar e ela saiu correndo em direção ao banheiro.

Tudo isso aconteceu em menos de cinco minutos. E eu não fazia ideia do que fazer, como de praxe.

— Maile abre a porta, por favor. – ela não respondeu — Maile, por favor, eu preciso saber se você está bem. – ainda sem resposta.

Passei a mão pelos cabelos, nervoso e sem nenhum norte. Eu nunca tinha presenciado nada parecido, e sendo bem sincero era assustador. Não fazia ideia do que tinha acontecido nesse pesadelo, mas tinha certeza que envolvia sua fobia.

— Maile, por favor, sou só eu, por favor. – pedi mais uma vez e ela cedeu, abrindo a porta devagar e olhando para o chão.

Respirei fundo e puxei-a para um abraço. Os batimentos dela estavam descompassados e ela estava chorando. Eu não fazia ideia do quão angustiante aquilo deveria ser, mas sabia que não era pouco, ela não choraria por pouco.

— Eles estavam me perseguindo num labirinto. – ela começou nervosa — Todas elas riam de mim ou cochichavam quando eu passava, eu era minúscula perto delas, elas riam de mim e eu corria e corria e não saía do lugar, eu senti que ia morrer. – ela falava tanta coisa ao mesmo tempo, que as palavras disputavam vez com sua respiração.

Ela começou a soluçar, e pelo fato de estar me contando isso bem baixinho, os soluços se misturaram com a respiração falha e com as poucas palavras sussurradas. Ela estava uma completa bagunça.

— Foi só um pesadelo, tá tudo bem agora. Não tem ninguém te perseguindo, respira. – comecei a respirar fundo e devagar, na intenção de que ela me imitasse. Atrás da Maile, que ainda estava agarrada a mim, uma das aeromoças pedia sem jeito para que voltássemos aos assentos — Temos que voltar agora, certo? – a afastei para olhá-la.

— Não. – ela balançou a cabeça freneticamente e ameaçou voltar para dentro do banheiro, mas eu consegui impedir – Eu não vou passar por todas essas pessoas de novo, eu não posso.

— Maile, você precisa, a gente precisa. Por favor, vamos lá. Eu prometo que não vai acontecer nada.

— Eles estavam olhando pra mim, eu senti. Todos me encararam igual elas fizeram... Matthew você não entende. – ela tentava me convencer. Apesar de não querer forçá-la a voltar (porque, de fato, todos estavam a encarando) eu não tinha muitas escolhas.

— Apenas ignore, ok? Pode fechar os olhos se quiser. Eu não vou deixar ninguém falar nada, é só fingir que estamos sozinhos aqui. – não dei tempo de resposta e fui conduzindo-a até as poltronas.

Ela se encolheu ao meu lado o máximo que pode, quase como se quisesse se esconder dentro de mim, e voltamos para nossos assentos. Pedi um copo de água a uma das aeromoças e tentei acalmá-la quando nos sentamos.

— Me desculpa Matthew.

— Shhh, não precisa pedir desculpas, Maile. Você não fez nada de errado. Apenas descanse. – ela não respondeu, apenas bebeu sua água e virou-se de costas para o corredor. Faltava pouco menos de uma hora para o pouso, então preferi deixá-la em paz.

Vê-la chorar não era a surpresa da vez, mas sim o estado em que ela estava, como se ela nem soubesse quem era. Era intrigante e triste, porque a garota espontânea e extremamente alegre que horas atrás estava me enchendo com músicas e filmes Disney, também era a mesma que sofria com ataques de pânico.






  ★★★★★  

notas da autora: papo sério aqui!!!

eu não faço ideia do quão angustiante um ataque de pânico nesse nível deve ser, então mil desculpas se alguém se sentiu ofendido pela forma que retratei.

1 | faking it · m. espinosa [✔️]Onde histórias criam vida. Descubra agora