Capítulo II: Breathe, just breathe

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"Eu não me arrependo pela pessoa que tive que me transformar pra que pudesse sobreviver"
Schuyler Peck

O despertador do celular tocou várias vezes antes que Anahí criasse coragem para abrir os olhos. Ela sabia que dia era aquele, mesmo sem precisar olhar o calendário e ela odiava o fato de não ter conseguido esquecer a data por completo. Do lado do colchão onde dormia, afinal, perdera sua última cama em uma noite mais selvagem com Adam... ou seria Nate? ela não fazia questão de lembrar e nem se importava... de qualquer forma, ali haviam alguns livros empilhados, um isqueiro e um mini cacto que comprara quando estivera em Portland, em mais uma tentativa frustrada de encontrá-lo. Cactos, por algum motivo lhe davam a sensação de familiaridade; eram pequenos, frágeis, requeriam pouca atenção e cuidados (o motivo exato pelo qual eram suas plantas favoritas), mas podiam machucar quem os abraçasse com demasiada força.

— Oi, amigão! – ela sorriu, levantando-se e olhando-se no espelho quebrado. Havia dormido com uma camiseta regata e calcinha de algodão, mesmo estando um pouco frio naquela época do ano.

Sobre sua jaqueta preta jogada sobre a arara de madeira improvisada, ela viu o terço de ouro, lembrando-se do encontro nada convencional que tivera na noite passada. Alfonso... o cara comprometido que a havia levado para jantar em sua casa, que tinha até mesmo cozinhado para ela e oferecido sua própria cama pra que ela dormisse... algo não se encaixava, ninguém era tão bom assim. Sua experiência com homens dizia que ela sempre devia esperar o disfarce se desfazer, a máscara cair. Sua mãe costumava dizer que todo o cavalheiro era um lobo paciente. Por isso mesmo, Anahí não se permitia sentir remorso. O cara podia muito bem ser um psicopata caçando sua próxima vítima, ela via aquele tipo de estória o tempo todo nos documentários da TV. Caminhando com a escova de dentes até a escada de emergência, Anahí observou a calmaria na rua lá em baixo. Poucas pessoas estavam despertas naquele horário, a cidade aos poucos acordava para um novo dia. Talvez fosse aquele o dia em que ela o encontraria...

— Hey, Annie... está livre sexta à noite? Depois do seu turno no Victoria's? – gritou Simon, um de seus vizinhos.

Ela riu, sem deixar de reparar na forma como o rapazinho quase torcia o pescoço para escanear cada parte de seu corpo. Também pudera, ela estava mesmo de blusa curta e calcinha em cima da escada de incêndio, segurando-se as barras de ferro enquanto escovava os dentes.

— Estou sim, Simon!

Os olhos do rapaz brilharam.

— Te busco no Victoria's as oito e meia, você não vai se arrepender... conheço um bar super legal onde toca o tipo de som pesado que você curte! Eu não acredito que disse sim! – ele quase pulava.

— Eu não disse essa sexta, Simon... quem sabe na próxima? – ela sorriu maliciosa e virou-se para entrar para o seu apartamento, deixando-o quase vesgo com o seu rebolar. — Tenha um bom dia!

Anahí enfiou o celular na mochila, junto com seu uniforme e saiu apressada. Por sorte, tinha conseguido aquele emprego pouco depois de chegar em Boston e ganhava mais ou menos o suficiente pra se manter, com certo aperto. Manuel Velasco, o mexicano dono do Victoria's era um homem sério e reservado, mas que a acolheu e protegeu quando ela mais precisou. Na verdade, Anahí tinha quase certeza que ele estava interessado nela, mas até o presente momento, não dissera ou fizera nada a respeito. Era melhor assim. Se o patrão tentasse alguma coisa, ela poderia perder o emprego e aquilo a deixaria com uma mão na frente e a outra atrás.

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