Capítulo XXVI: Confessions

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"Nós não podemos simplesmente sentar e encarar as nossas feridas para sempre"
Haruki Murakami

Anahí retirou a capa de chuva, depositando-a sobre a lavanderia com cuidado. Madison estava na escola, seu pai no trabalho e Grace fazendo visita a uma tia. Quanto a Maisie... ninguém nunca sabia onde ela estava, mas Anahí rezava para não cruzar com ela. As duas mal se falavam e quando se encontravam nos corredores da casa, Maisie não economizava nos olhares atravessados e sorrisos debochados.

Infelizmente, nem sempre os pedidos de Anahí eram atendidos.

— Boa tarde, Maisie. – ela cumprimentou quando a irmã entrou na lavanderia e parou ao seu lado.

Maisie não respondeu. Em vez disso, a mediu de cima a baixo, antes de falar:

— Não tem ninguém em casa, então serei breve: Fique longe do meu noivo.

— Eu não...

— Eu conheço o seu tipo. – interrompeu Maisie. — Se faz de inocente, de coitada. Recebe a atenção de todos porque é pobre. Você pode ter conseguido convencer a todos, mas não a mim. – ela pausou, passando a língua nos lábios, enquanto encarava Anahí, que mal se movia. — Dividir a herança do papai com Mads e comigo é pouco, não é? Você está de olho no dinheiro do meu noivo. Desculpa furar sua bolha, querida, mas preciso te contar... Connor não vai herdar a empresa de sua família. Um primo mais novo está sendo preparado para o cargo. Connor vive de seus rendimentos e o que ele recebe não é o suficiente para sustentar seus gastos. Ele ama o conforto e o luxo, não vai trocar a vida que leva por uma morta de fome.

Anahí a encarou, perplexa demais para responder. Sua irmã achava que ela tinha algum interesse no seu noivo? Tudo bem que elas não eram melhores amigas, mas ela não seria capaz de fazer algo assim tão baixo.

— Maisie, você está enganada. Eu não quero a sua herança ou a do seu noivo.

— Ótimo. Já que você não os terá. Connor só tem seu salário e o dinheiro que empresto a ele.

— Você empresta dinheiro a ele?

— Óbvio. – disse Maisie, dando de ombros. — Ele é meu noivo. Ele me ama. Não vejo nada de errado em ajudá-lo. Ele ganha menos do que merece, por isso o ajudo com uma mesada.

O choque se estabeleceu no rosto de Anahí. Maisie e ela eram irmãs, ainda que distantes. Não lhe parecia certo que sua irmã sustentasse o namorado, mas também não parecia certo discutir a questão com ela.

— Não é da minha conta... – Anahí começou, cautelosa. — Mas seu pai sabe disso?

— Não e nem vai. Ele odeia Connor.

Respirando fundo, Anahí resolveu ser sincera. Estava cansada de mentir. Sua irmã merecia sinceridade, mesmo que não estivesse pronta para lidar com ela.

— Bem, eu não sei o que te deu pra me contar tudo isso, mas eu não tenho nada com Connor. Ele é um cara legal e um bom amigo, mas isso é tudo. – era correto colocar os pontos nos is, pensou Anahí, enquanto olhava para a irmã que se segurava para não chorar. — Mas se quiser que eu pare de falar com ele, é o que farei.

Ao ouvir as palavras que tanto desejava ouvir, Maisie ergueu os ombros, enxugou as lágrimas que começavam a rolar do canto dos olhos com as pontas dos dedos e sorriu triunfante.

— Que bom que chegamos em um denominador comum, irmãzinha.

Ela odiava fazer aquilo, pensou enquanto saia da lavanderia e subia as escadas, indo para o seu quarto, mas Connor a forçava. Era sempre a mesma coisa. Amigas, primas, colegas de universidade. Não importava quem fosse, seu noivo parecia ter prazer em expô-la ao ridículo.

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