Capítulo XVIII - Lost girl found

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"Um filho perdido é chamado de pródigo. Uma filha perdida é apenas perdida."
Emily Rose Cole

A casa onde Enrique vivia com a mulher e a filha era cada centímetro o que Anahí nunca tinha tido a chance de ter, um lar. Era ridículo, realmente. Conforme ela corria os olhos pelos porta-retratos na estante da sala e pelos quadros na parede, tudo ali parecia rir da cara dela, exibindo-se como o sonho de uma vida que ela nunca teria. Em cada foto sorrisos refletiam a infância que ela perdera. Uma família saudável e funcional, uma casa arejada e confortável, piqueniques no parque no fim de semana e o almoço de domingo na casa dos avós. Anahí se lembrava de como costumava sonhar com todas aquelas coisas. Em sua ingenuidade de criança, ela pintava em cores vivas um mundo bom e gentil. O mundo não era bom para garotas como ela. Nem gentil.

Um filho perdido é chamado de pródigo. Uma filha perdida é apenas perdida.

Fazia menos de dez minutos desde que seu pai tinha ido chamar a esposa, mas para Anahí décadas tinham se passado. Ela queria sair de sua própria pele tamanho desconforto que sentia em estar ali parada no meio daquela sala de estar. Era a casa de seu pai, mas ela não se sentia em casa.

— No que eu fui me meter? – perguntou a si mesmo, enquanto percorria o ambiente com os olhos.

De repente, seu olhar se cravou em um retrato em particular: Uma linda garota de cabelos loiros e olhos castanhos sorria vitoriosa enquanto segurava no alto da cabeça um enorme troféu. Os olhos da garota brilhavam em êxtase, enquanto ela se mantinha altiva no pódio em primeiro lugar.

A foto era antiga, observou Anahí. Não tinha como aquela garotinha que aparentava ter no máximo dez anos na foto ser a mesma Madison que seu pai havia mencionado.

A não ser que...

— Grace, essa é a Annie. – a voz de seu pai chamou sua atenção e Anahí se virou num salto. Ela mal percebera que tinha se aproximado da estante para ver melhor a foto. — Ela é minha filha.

Um sorriso sincero surgiu iluminando o rosto da mulher ao lado de seu pai. Ela tinha cabelos loiros assim como os da garotinha da foto, mas enquanto os da menina eram compridos, os de Grace eram curtos e ondulados de um jeito despretensioso e elegante. Anahí notou que a mulher usava um avental de cozinha e cheirava a tempero de ervas.

— Muito prazer, querida. – disse Grace, abraçando a recém chegada. — Que bom que aceitou morar com a gente. Seu pai estava com medo que você recusasse, mas eu deixei o quarto de hóspedes arrumado pra você. Espero que esteja do seu agrado, mas se não estiver, você pode mudar o que quiser. Essa é sua casa agora.

— Obrigada. – Anahí deu um sorriso amarelo. — É muito... gentil da sua parte.

Enquanto seu pai e Grace lhe apresentavam o resto da casa, Anahí tentava disfarçar o embrulho no estômago que sentia. Tudo era acolhedor demais, caloroso demais... sufocante demais. Ela não merecia morar naquela casa e conviver com aquelas pessoas. Eles eram perfeitos e ela era, bem, ela era ela. Uma pessoa quebrada buscando um pouco de paz de espírito num mundo decadente. Ela não se encaixava ali. Inferno. Ela não se lembrava de ter se encaixado em lugar nenhum. Nunca.

— Grace e eu queremos que você se sinta a vontade. Como ela disse, essa casa é sua também. – Enrique parou diante da porta branca que dava para o quarto de hóspedes.

— Esse é seu quarto. – acrescentou Grace, com um sorriso que poderia curar um câncer. — Vamos deixá-la a sós para arrumar suas coisas em paz, enquanto eu termino o jantar e seu pai prepara suas aulas.

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