Capítulo XIX - A man of God

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"O amor não é uma coisa
que você precisa merecer"
Jennifer Echols

Anahí buscou uma mesa afastada e encostada a parede para se sentar, pediu um capuccino e aguardou, enquanto checava as notícias no celular que seu pai havia lhe obrigado a comprar. O dia estava correndo bem até o presente momento. Ela tinha pulado da cama de manhãzinha – cedo o bastante para não cruzar com Maisie –, e chegado ao local de seu curso no mesmo momento em que a coordenadora deixava seu carro no estacionamento. Enrique insistira para levá-la, mas ela recusou a oferta, garantindo ao pai que sabia se virar muito bem com a linha de metrô de Boston. Ele insistiu mais ainda, mas acabou aceitando os termos da filha, quando esta cedeu em encontrar com ele mais tarde para que pudessem fazer algumas compras. Como não possuía muitas roupas, Anahí acabou aceitando. Já que tinha que conviver com os caprichos de Maisie, que ao menos estivesse bem vestida para isso.

Ela tinha que aprender a lidar com a irmã de um jeito ou de outro. Ela entendia a garota. De verdade. Nenhuma delas queria estar naquela situação, mas Anahí não tinha culpa pelo que acontecera no passado. Nem Maisie. Uma hora ou outra, ela teria que entender.

Por outro lado, a visita ao curso que faria naquele semestre foi fascinante para Anahí. Ela percorreu os corredores encantada. Em cada sala que entrava acompanhada pela coordenação, seus olhos eram presenteados por belas obras de arte e até mesmo por alunos trabalhando em telas e esculturas. Ela sabia que teria que se esforçar para acompanhar o ritmo de seus colegas, mas se aquele curso iria ajudá-la a entrar na universidade, que assim fosse. Ela estava preparada.

Seu pai já devia estar ali, pensou Anahí. Ela tinha marcado de encontrar o pai na pequena cafeteria que ficava na esquina da escola de artes. Olhando mais uma vez para a porta, ela precisou se ancorar com as duas mãos no assento da cadeira para não cair pra trás.

Não podia ser.

Como ele descobriu onde ela estava?

— Será que posso sentar aqui? – a voz grave e melódica de Alfonso soou, tragando-a para a órbita dele com a força de mil buracos negros.

O buraco negro sou eu... Não ele. Nunca ele.

O que faz aqui? – seu lábio inferior tremia.

Alfonso apenas deu de ombros, ajeitou-se ainda mais na cadeira e fez um sinal para a garçonete. Anahí observou cada movimento dele, sorveu cada detalhe daquele homem, sem entender nada.

— Estou pensando em pedir um café. Me acompanha?

Indo mais além em sua observação, Anahí percebeu que haviam marcas profundas sob os olhos de Alfonso, olheiras que só podiam resultar de noites e noites mal dormidas, enquanto sua voz estava rouca. Ela pensou em lhe oferecer uma das pastilhas de garganta que sempre carregava na bolsa, mas achou melhor não. Tinha tanta coisa suspensa entre eles, tantas palavras não ditas. Uma pastilha não seria capaz de desatar aqueles nós. Ela duvidava mais do que nunca que naquele momento qualquer coisa fosse capaz de desatar aqueles nós.

Fechando os olhos, ela fez o mais difícil:

— Eu fui sincera naquele bilhete. – começou, imprimindo uma firmeza no tom de voz que não condizia em nada com o que ela sentia no momento. — Eu quero... não... eu preciso seguir o meu caminho e você o seu. Não podemos mais nos ver.

— Você não pode decidir por nós dois. Eu não vou deixar você desistir de nós!

— Escute a si mesmo, Alfonso. Olhe o que você está vestindo! – ela apontou para a batina e ele seguiu seu movimento com os olhos, antes de abaixar a cabeça. — Depois de todo esse tempo, você ainda está na Igreja. É a sua missão. Eu não posso ferrar com a sua vida mais do que já ferrei!

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