DARK PARADISE

Capítulo XIII: I'll tell you my sins

"Eu te amo. Mesmo. Mas eu tenho medo de tornar esse amor importante demais. Porque você sempre vai acabar me deixando. Não negue. Você sempre vai acabar indo embora."
David Levithan

Assim que conseguiu um tempo livre, Alfonso foi a procura da ex dançarina da Lure que segundo Dulce tinha conversado em particular com o Padre Jordan. Ou coisa pior. Alfonso estremecia só de pensar na possibilidade de descobrir que seu antigo amigo não era tão santo quanto se supunha.

O endereço dado por Dulce ficava numa rua no pitoresco bairro de Beacon Hill. A moça em questão tinha se dado bem, a tomar pelo lugar onde morava, para todos os lados em que olhava, Alfonso só via grandes prédios históricos do período colonial e prédios residenciais imponentes. Parando em frente a um sobrado de tijolos expostos, o padre subiu as escadas, segurando-se no corrimão de ferro e apertou a campainha. A voz masculina no interfone informou que já abriria a porta.

Não demorou muito para que um homem alto e calvo, vestido dos pés à cabeça como um executivo de sucesso aparecesse diante de Alfonso. Ele logo percebeu que talvez aquela tarefa não fosse sair do jeito que planejara, se a carranca do homem fosse um indicativo.

— Quem é você e o que realmente quer com a minha mulher? – o homem cruzou os braços, levantando o queixo na defensiva.

— Bom dia, senhor. – Alfonso esticou a mão em cumprimento. — Me chamo Alfonso Herrera, sou padre e estou atualmente no comando da Trinity Church.

A expressão no rosto do homem mudou como num passe de mágica, enquanto ele levava a mão esquerda a parte de trás da cabeça em um gesto de constrangimento.

— Perdão pela grosseria, padre. Achei que fosse alguém atrás da minha esposa.

— Bem, estou de certa forma atrás da sua esposa. Acontece que preciso conversar com ela sobre uma antiga amiga sua...

O homem não teve tempo de responder, pois Fuzz apareceu atrás dele. Ela não era muito alta, tinha cabelos loiros curtos e lisos, aparados em um corte elegante. Sobre seus cintilantes olhos verdes, uma maquiagem sóbria ressaltava seus traços e no colo, um colar de pérolas indicava seu atual status social. Alfonso lembrou-se então vagamente de ter ouvido Dulce dizer que o marido dela não sabia muito sobre seu passado.

— O que quer comigo? – questionou a mulher, parando ao lado do marido.

— Gostaria de conversar um pouco com você, se não estiver incomodando, claro. – esclareceu Alfonso.

O casal trocou um olhar carregado, antes do marido dizer:

— Tudo bem, meu amor. Ele é padre. – disse, como se aquilo fosse o necessário para ele confiar em um homem perto de sua esposa. — Estava de saída para o trabalho, se me derem licença.

Fuzz assentiu, beijando o marido brevemente nos lábios, antes de vê-lo sair pela porta. Fazendo sinal para que Alfonso a seguisse, ela subiu pelas escadas de madeira, chegando ao andar superior da casa. Como o padre desconfiara, o ambiente era de puro requinte e conforto. Tudo era da mais alta tecnologia, a começar pela TV de plasma gigante na sala de estar e pelos obras de arte contemporânea exibidas nas paredes.

— Fuzz...

— Maria Fernanda. – ela ralhou entredentes. — Não atendo mais por esse nome.

— Seu marido parece um pouco ciumento... entendo porque não deseja compartilhar com ele seu passado. – comentou Alfonso, vendo que a mulher permanecia em silêncio, apenas o encarando. — Foi ele quem te fez isso? – ele apontou para bochecha dela, um pouco abaixo da maçã do rosto, onde um corte maculava a pele clara e começava a inchar.