Capítulo VII: What I did for love

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"Se eu te contasse sobre a escuridão dentro de mim, você ainda me olharia como se eu fosse o Sol?

O padre encarou a porta a sua frente, levantando a mão para tocar a campainha. Olhando de canto de olho, percebeu a ansiedade da garota ao seu lado e antes que pudesse racionalizar o que estava fazendo, sua mão encontrava a dela e seus dedos se entrelaçavam.

— Tem certeza que é esse o endereço? – perguntou Alfonso.

— Absoluta.

— Preparada?

— Porra, não.

— Annie, você cruzou o país todo e está mais perto do que nunca de finalmente conhecer o seu pai. – ele umedeceu os lábios. — É uma grande chance. Eu não tive muito contato com o meu pai e eu daria tudo pra reverter isso.

Anahí franziu as sobrancelhas e deslocou o peso de um pé para o outro. Ela tentava identificar o que havia por trás das palavras de Alfonso. Estava confiando cegamente naquele homem, mas pouco sabia sobre ele.

— O que houve com seu pai?

— É uma velha e triste história. Outra hora eu te conto. O que importa é que com você vai ser diferente.

Em silêncio, Anahí se aproximou de Alfonso. Seu hálito quase se confundia com o dele, quando ela ergueu uma mão e traçou o contorno de seu rosto, desde a testa franzida até o maxilar bem esculpido. Ele a observou, também em silêncio, prendendo a respiração.

— Como é possível? – perguntou Anahí.

— O que?

— Alguém com tanta luz decidir viver nas sombras.

— É assim que vê o sacerdócio? – questionou ele, com genuína curiosidade.

— Não, Alfonso. Por incrível que pareça eu fui uma menina de igreja, mais que isso, eu era enteada de um pastor. – ela soltou um riso irônico, quando os olhos dele aumentaram de tamanho pela surpresa. — Nunca perdi um encontro escolinha dominical e fui até batizada. Não, meu problema não é com o sacerdócio. A falta de vocação é meu problema. É como misturar água e vinho, fazendo duas bebidas boas ficarem ruins.

Alfonso tragou o ar pra dentro dos pulmões com força. Algo dizia que as palavras de Annie tocariam em looping em sua cabeça quando fosse dormir naquela noite.

— Você acha que eu não tenho vocação?

Alfonso ficou sem aquela resposta, porque a porta se abriu e diante deles um homem na casa dos 40, calvo e um pouco acima do peso, os media de cima a baixo, antes de perguntar:

— O que desejam?

— Boa tarde, sou Anahí. – disse, estendendo a mão para o sujeito, ignorando a cara surpresa de Alfonso ao seu lado. — Eu tô procurando o senhor Enrique Puente Portilla. Me disseram que ele se mudou pra esse número.

— Hum. – o cara olhou desconfiado para Alfonso. — O que vocês querem com ele?

Vendo que Anahí não sabia como responder, Alfonso interveio:

— Somos amigos de sua ex esposa.

— Rick jamais foi casado. – desdenhou o o homem. 

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