Capítulo VIII: A scar in the horizon

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"Eu vou olhar para a lua e limpar meu coração" Zeami

Aquela não era a Boston que Alfonso conhecia. De fato, enquanto seguia Velasco e Christian, notava cada vez mais a semelhança do bairro em que se encontravam carregava com Nova Iorque. Era a grande megalópole que era lembrada por seus recantos escuros, escadas de incêndio e caçambas de lixo amontoadas em seus becos estreitos.

— Já estamos chegando, Derrick não mora muito longe daqui. – informou Christian, enquanto cruzavam mais um beco cheio de poças d'água.

Os três homens continuaram em silêncio enquanto cruzavam as ruas escuras. Nada escapava ao olhar de Alfonso; a quadra de basquete onde dois jovens garotos jogavam, tendo como uma plateia, um grupo de outros adolescentes, o som pesado de hip-hop que saia das caixas de som de alta potência e e ecoava por todo o quarteirão, o cheiro de comida chinesa no restaurante da esquina, os grafites das gangues de rua em vermelho e amarelo nas paredes e portas de ferro das lojas.

De repente, de uma moto saltou um homem alto com tatuagens no pescoço e nas mãos. Alfonso desconfiava que elas cobriam também os braços e peito do rapaz, mas não podia ter certeza, já que ele estava vestindo um casaco preto com capuz.

De capacete na mão, ele parou na calçada diante dos três e disse:

— Chris, há quanto tempo não te vejo! Recordar é viver, não é mesmo?

Christian revirou os olhos, mas não caiu na provocação do velho conhecido.

— Derrick, precisamos de sua ajuda. Annie está desaparecida e já não sabemos a quem recorrer.

— Estou vendo. – o tatuado lançou um olhar entre Velasco e Alfonso, demorando-se mais no último. — Até nosso prezado chefinho está aqui. Como vai, Velasco? Já conquistou o coração da gata?

— Pode apenas nos dizer onde ela está? – perguntou Alfonso, irritado. — Não temos tempo pra esse tipo de gracinha!

— E você quem é? Esse bairro tá ficando importante com tanto cara rico por aqui...

Os punhos de Velasco se fecharam, mas Christian segurou a manga de seu casaco, numa mensagem clara de que não adiantaria arrancar as informações de Derrick a força e de que deixasse que ele resolvesse tudo. Poucos sabiam, mas os dois tinham um passado em comum, foi por culpa de Derrick James que alguém muito importante para Christian estava preso naquele momento. E ele prometera tira-lo daquele lugar horroroso algum dia.

— Cala a boca, Derrick! Vai nos dizer o que sabe ou não? – perguntou Christian novamente, mantendo seus próprios sentimentos pra si.

O rapaz riu despretensiosamente.

— Relaxa, Chris. Tô vendo que os amiguinhos da Annie estão realmente preocupados. Vou falar o que eu sei, ok? Eu a vi sim, faz uns três dias. Ela veio aqui, pegou o pó e se mandou. É só o que eu sei, doutores.

Em passos lentos, porém decididos, Alfonso caminhou até Derrick e segurando o colarinho de sua camisa, o empurrou contra a parede. O padre manteve a pressão na garganta do homem mais alto e o encarando com firmeza, avisou:

— Eu não confio em você e nem vou com a sua cara. Acho bom que esteja dizendo a verdade, porque se eu descobrir que está me escondendo alguma coisa, eu mesmo volto aqui e te mato. – Derrick engoliu em seco, sentindo o ar faltar, quando as mãos de Alfonso apertaram mais sua jugular. — Fui claro?

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