Capítulo X: Servatis a periculum, servatis a maleficum

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*Servatis a periculum, servatis a maleficum: Livrai-nos do perigo, livrai-nos do mal.

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"Eu não vi paraíso algum,
a não ser nos olhos dela"
Edgar Allan Poe

Apenas um freixo de luz se infiltrava pelas cortinas pesadas do quarto, enquanto Alfonso analisava alguns documentos. Entre eles, estavam correspondências e atas que pertenciam ao Padre Jordan. Alfonso esperava encontrar alguma coisa que lançasse uma nova luz sobre o assassinato brutal do amigo. Ainda que todos na igreja se opusessem a decisão de Alfonso, o padre estava disposto a descobrir a verdade. Se a polícia de Boston não era capaz de sozinha encontrar e punir os responsáveis pela morte do antigo padre da Trinity Church, cabia ao seu sucessor e amigo íntimo, a missão de fazer justiça.

Quando o cansaço finalmente se abateu sobre ele e Alfonso sentiu suas pálpebras pesarem de sono, o padre levantou-se da cama e caminhando até uma prateleira cheia de livros, escolheu um.

O título tratava-se de "O Paraíso Perdido" de Milton.

Alfonso puxou o livro pesado e voltou a deitar-se, recostando-se contra a cabeceira. A maioria dos livros que preenchiam as prateleiras pertenciam ao padre Jordan, os livros que eram seus mesmo haviam ficado em Santa Fé devido à mudança às pressas.

Suspirando, o padre abriu o livro, esperando encontrar nas leituras do amigo, algum conforto para seu coração atormentado. Mal tinha virado as primeiras páginas, quando um recibo fiscal caiu de dentro delas, direto em sua mão.

— O que pode ser isso? – ele questionou a si mesmo, enquanto lia o que estava escrito no recibo. — Lure? Que tipo de estabelecimento comercial tem esse nome?

Levantando-se novamente da cama, o padre dirigiu-se a cozinha e ligou a máquina de café. Ele precisava de muita cafeína se resolvesse mesmo desafiar todos ao seu redor pra descobrir o que estava acontecendo. Estava claro que não seria fácil e mais claro ainda que ninguém na igreja estava disposto a mover uma palha. Depois de encher uma caneca com café fumegante, Alfonso pegou o celular da bancada e jogou na barra de pesquisa o nome "Lure" e também a palavra "Boston", rapidamente os resultados surgiram e ele arregalou os olhos em espanto.

Lure era uma boate, uma casa noturna, onde homens ricos apostavam em cassinos, enquanto se embriagavam e assistiam a shows de striptease e pole dancing. O que um recibo fiscal de um lugar daquela natureza estaria fazendo com um padre?
Seria possível que Jordan frequentasse um lugar como aquele?

— Não, isso é loucura... – pensou Alfonso em voz alta.

O padre Jordan que ele conhecera havia dedicado sua vida ao serviço religioso, mas ainda, o ser humano Jordan Williams que ele conhecera, possuía uma retidão de caráter admirável. Ele não seria capaz...

Mas então, lembrando-se da conversa que tivera com Ben há poucos dias, Alfonso se questionou se realmente podia colocar sua mão no fogo por alguém. Não estava ele se envolvendo mais do que devia com uma mulher? O próprio Ben não o havia confessado sobre suas aventuras na França quando era mais novo?

Talvez padre Jordan também mantivesse uma vida dupla.

Aquele pensamento foi para a cama com ele e não o deixou durante todo o dia seguinte, por isso quando terminou uma missa na mesma noite, resolveu agir. Iria até a tal boate e tentaria descobrir qual era o envolvimento de Padre Jordan com o lugar e se esse envolvimento poderia de alguma forma estar relacionado ao seu assassinato.

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