Capítulo VI: For I have sinned

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"O que está mais próximo de Deus:
A sede ou a confissão?"
Kristin Chang

Depois de bater algumas vezes na porta do apartamento de Annie, ela finalmente apareceu. Usava um top esportivo e uma calça jeans colada, que realçava cada curva do corpo magro, porém bem definido, seus cabelos estavam molhados, o que indicava que ela tinha acabado de sair do banho... e Alfonso não devia estar reparando em nada daquilo, não daquele jeito.

Antes, sua desculpa era a de que admirava a beleza como os apreciadores de arte admiram uma bela tela ou escultura. Uma admiração estética. Mas com Annie, percebeu, jamais poderia usar aquela desculpa. Ele a enxergava como um homem vê uma mulher. Uma bela e atraente mulher. E esse era o primeiro de muitos problemas.

— Oi... já está mais calma? – ele perguntou, quando percebeu que ela não ia fechar a porta em sua cara.

— Não esperava te ver mais... – respondeu dando de ombros, enquanto saia do caminho para que Alfonso pudesse passar.

O padre aproveitou a oportunidade e entrou, procurando a melhor forma de se explicar. Anahí parecia esperar isso dele, a começar pelos braços cruzados na altura do peito e o cenho franzido.

— Annie, me perdoe por ontem... se eu pudesse voltar no tempo e consertar as coisas, eu o faria.

— Não tem nada pra se consertar, Alfo... digo, padre. – ela se corrigiu, caminhando até a mala aberta sobre a cama. — Nós não temos nada a ver um com o outro, de qualquer maneira

— Por favor, não faça isso.

Annie soltou as roupas que guardava na mala e o encarou.

— Isso o quê?

—  Me tratar com indiferença... sabe muito bem que pode me chamar de Alfonso.

— Não, padre. Não posso e não vou. – respondeu, voltando a jogar as roupas da arara para a mala.

Alfonso suspirou, resignado e disse:

— Christian me disse que viaja amanhã cedo...

Claro que disse, pensou Anahí. Quando voltasse de viagem, teria uma conversinha com o amigo. Christian precisava aprender a parar de meter o nariz onde não era chamado.

— Aquele fofoqueiro te passou a informação errada... resolvi viajar essa noite mesmo, vou pegar o primeiro ônibus pra Portland.

— É uma viagem e tanto pra se fazer de ônibus. – comentou Alfonso, aproximando-se.

O cheiro chegou antes dele. Anahí precisou se focar no que estava fazendo pra não pular em seus braços e beijá-lo novamente. Era ainda mais difícil se controlar quando, como naquele momento, ele não estava "uniformizado" de padre. A camisa xadrez escura que ele usava, junto com uma jaqueta marrom de lã, combinando com o jeans de lavagem escura, o deixavam normal demais. Bom, talvez normal não fosse a palavra mais apropriada... Alfonso parecia uma pessoa comum, mas ele nunca seria normal. O homem era um deus grego convivendo entre os mortais e ele devia saber disso. Não era possível que ele fosse obtuso ao efeito que causava nas pessoas.

— É... mas não tem outro jeito. – respondeu Anahí, focando na pergunta dele, impedindo seus pensamentos de vagarem em territórios perigosos.

— Eu posso te levar.

Anahí riu, segurando a barriga. Ele era lindo de morrer, mas também podia ser hilário.

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