Capítulo IV: In the eye of the hurricane

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"Honestamente, você se reconheceria se eu escrevesse sobre suas partes gentis?"

Os olhos de Alfonso varreram o interior do Victoria's assim que ele entrou no estabelecimento. Tudo estava igual ao dia anterior: o dono do lugar, Manuel Velasco tinha a mesma cara austera e um pouco prepotente de antes, mas dessa vez um rapaz simpático lhe fazia companhia ao lado do balcão. Alfonso preferiu falar com o último.

— Oi. Eu gostaria de falar com a Annie. – o padre olhou em volta. — Ela já saiu?

— Olá, sou Christian, mas pode me chamar de Chris. – o rapaz estendeu a mão. — E sim, ela já saiu... mas sou seu amigo, se quiser deixar algum recado, posso dizer a ela depois.

Alfonso suspirou e o rapaz sorriu. Tinha algo de estranho nos olhos de Christian... Chris, mas ele não sabia exatamente o que era.

— Eu precisava vê-la. É que... eu esqueci algo em sua casa ontem. –  ele abaixou o volume da voz, sem perceber.

— Você é o rapaz do terço! Annie me contou sobre você... Se é assim, vou te ajudar. Annie vai ao Cat Scratch Club todas as sextas.

— Cat Scratch Club? É aqui perto?

Christian riu.

— Você realmente não é daqui, né? De onde veio?

— Taos, Novo México.

Ay, Papi! – o cozinheiro se abanou de forma afetada, fazendo Alfonso rir. — Cat Scratch Club é um bar... eu vou te passar o endereço, ok? Mas tome cuidado, a galera que frequenta não é muito o seu estilo.

Alfonso não entendeu o comentário. Como Christian podia saber qual era o seu estilo?

— Eu não me importo. Eu preciso vê-la.

O rapaz assentiu, escrevendo rapidamente o endereço em uma folha de um bloco de notas. Quando terminou, estendeu a mão, entregando a Alfonso.

— Repito: tome cuidado. Não quero ir pro inferno por ser o responsável pela sua morte.

Alfonso estranhou novamente, mas agradeceu em voz baixa e estava caminhando para a saída da lanchonete, quando ouviu Christian dizer:

— Boa sorte, padre.

~ * ~

O barulho da música se misturava com os gritos e o som do tilintar de garrafas batendo umas contra as outras. O resultado era ensurdecedor. Alfonso tentava resgatar em sua memória a última vez que tinha entrado em um lugar como aquele e não conseguia, até porque tal coisa jamais acontecera. Aquela era uma nova experiência para ele e por precaução, não usava sua batina. Quando pensou em procurar Annie novamente, pensou também calculadamente no que vestiria. Era estranho e até um tanto patético, mas ele queria desesperadamente que aquela garota gostasse dele. Não. Ele não queria. Ele precisava que ela gostasse dele. Se ele se apresentasse como padre, temia que aquilo não fosse acontecer.

Fazendo seu caminho pela multidão, ele chegou até o balcão. Um cara vestindo um macacão jeans, com aparência de lenhador o encarou de cima a baixo. Alfonso agradeceu novamente por não ter ido "uniformizado" de padre. Aquilo seria ainda mais constrangedor.

— Boa noite, senhor. Preciso de uma informação... uma garota chamada Annie costuma vir aqui? – o padre embolava as palavras. — Ela é minha... amiga. E eu preciso muito falar com ela.

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