Capítulo XVII: Turning page

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"Volte,
mesmo como uma sombra,
mesmo como um sonho."
Euripides

Um sentimento estranho causava uma reviravolta no estômago de Anahí, enquanto ela fazia seu caminho de volta pra casa, depois de ter deixado o apartamento de Alfonso. Ela não queria sair de perto dele. A presença de Alfonso, seu sorriso verdadeiro e sua luz eram capazes de reduzi-la a nada. Ela amava aquele homem. Como não amaria? Mas se ela ficasse ao lado dele, destruiria tudo o que o fazia ser quem ele era. Anahí respirou fundo, abrindo a porta de casa. Ela jamais seria capaz de destruir quem mais amava.

Imagens da noite anterior voltaram como um furacão em sua mente e Anahí se jogou no sofá velho, sentindo o corpo reclamar após a intensa maratona de sexo.

Alfonso a tinha enlouquecido. Seus toques eram delicados, ainda que firmes. A maneira como ele fazia amor com reverência, como se fosse uma experiência religiosa. Ela riu da própria blasfêmia, já que sua vida tinha se tornado basicamente um filme B, brega e caricato.

— Finalmente encontrou o caminho de casa.

Anahí travou onde estava. De repente, parecia que seus músculos e articulações pesavam dez vezes mais e que seus ossos tinham sido congelados. Ela conhecia aquela voz. A ouvira muitas e muitas vezes antes. Em seus sonhos. Ou melhor, em seus piores pesadelos.

— O que você está fazendo aqui?

Estou sonhando, estou sonhando, estou sonhando.

— Não está feliz em me ver? Você me decepciona, pequena Annie. Eu viajei de longe, vim de Minnesota só pra te ver.

Billy não podia estar ali. Aquela era uma alucinação. Certamente um efeito tardio de uma das porcarias que ela consumia como água. Seu corpo todo tremia.

— É mentira... você é um fantasma! Não pode ser real... – ela arranjou forças para se levantar e encarar a figura do padrasto. — É isso! Eu enlouqueci. Estou completamente maluca... você não é real, não está aqui! Não pode ser!

A figura fantasmagórica apenas riu, arqueando a cabeça para trás. Ele estava mais velho, observou Anahí, apesar do pavor que sentia apenas de olhar para ele. Rugas se formava em seu rosto pálido. A pele estava manchada em vários pontos e sob os olhos círculos amarelados denunciavam o passar dos anos. Os cabelos ensebados começavam estavam grisalhos. Seu aspecto era cadavérico. Fantasmas não envelheciam, pensou Anahí com dissabor crescente.

— Bem que você gostaria, não é? Me ver morto era o seu maior sonho. Você achou mesmo que um estúpido taco de baseball seria o suficiente pra me apagar?

Billy estava vivo. Ela nunca o matara. Ela não era uma assassina. Anahí tentou acalmar o coração e manter a cabeça fria. Ela tinha que descobrir o que aquele homem estava fazendo ali.

— Se você conseguiu sobreviver por que veio atrás de mim?

— Porque eu não tenho mais nada. Depois que você sumiu do mapa, eu não consegui voltar ao trabalho, tive que tirar uma licença. Fiquei um tempo em observação no hospital pela fratura que você fez na minha cabeça. Quando sai, o chefe da construção não me quis de volta.

— O que quer de mim?

— O que você me deve, sua cadela! – ele rosnou e deu um passo a frente.

Ela continuava linda, pensou Billy com malícia. Seu corpo ainda parecia feito para o pecado. Era uma cadela, sem dúvidas, mas ele adoraria fode-la como não conseguiu fazer da última vez.

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