Capítulo XV: Something rotten

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"Isso é real. Essa é a vida. Nós estamos mesmo aqui – Isso está realmente acontecendo. O sofrimento é real. Quando você magoa as pessoas, é real."
Zadie Smith

Alfonso esperava ir direto para o hotel após ter aguentado uma palestra de mais de quatro horas sem intervalos. Seus dias no Vaticano correram conforme o previsto pela agenda que ele recebera antes de embarcar em viagem, mas pra sua insatisfação não conseguira informações relevantes sobre o envolvimento dos padres de Boston com o esquema de prostituição da boate Lure. Não até o presente momento.

— Herrera, eu e os outros vamos sair mais tarde para comer alguma coisa e aproveitar a noite em Roma. – disse Logan, um dos bispos que havia viajado junto com Alfonso, assim que viu o padre mais novo na porta da Santa Maria Della Vittoria. — Quer vir conosco?

O bispo era simpático e carismático, tinha os cabelos grisalhos sempre bem penteados e olhos azuis pálidos. Uma pessoa acima de qualquer suspeita. O padre afastou aqueles pensamentos. Desde quando começara a desconfiar de todos ao seu redor? Tossiu, desconfortável, antes de responder:

— Não se essa é uma boa ideia.

— Relaxa um pouco, amigo. – o bispo apoiou uma mão em seu ombro. — Um pouco de festa nunca matou ninguém e como diz o ditado... todas as estradas levam a Roma!

Estreitando os olhos, Alfonso ponderou; talvez aquela não fosse uma má ideia afinal de contas. Estar com aqueles homens em território neutro, longe dos olhos da Igreja poderia ser sua chance de descobrir mais sobre o assassinato de Jordan.

— Acha mesmo isso, bispo? – questionou Alfonso.

— Perdão?

— Essa frase foi contextualizada muitas vezes por pagãos para indicar que todas as fés eram formas legítimas de comunhão com o divino sagrado. – explicou. — O senhor concorda com isso?

O bispo deu de ombros.

— Elabore, rapaz.

Alfonso levantou os olhos até a escultura em tamanho real que ornava a igreja.

— Essa escultura, por exemplo. O Êxtase de Santa Tereza de Bernini. Não me parece com um arrebatamento religioso, mas sim com um orgasmo.

Um silêncio pairou na pequena igreja. O crepitar da chama das velas ardendo sobre os candelabros era tudo o que se ouvia. Inalando profundamente, o Bispo Logan disse:

— Está me perguntando se eu acho que o sexo pode ser um caminho até Deus?

Alfonso assentiu.

— Acho que é exatamente o que estou perguntando.

Ao contrário da reação que Alfonso esperava, o bispo riu jogando a cabeça pra trás.

— Venha conosco essa noite rapaz. Terá todas as respostas que deseja.

~ * ~

O lugar escolhido pelos padres e bispos de Boston era um speakeasy, elegantemente localizado no que outrora fora um cofre de banco. Não era um ambiente muito espaçoso, mas além do balcão repleto de bebidas para todos os gostos, haviam também algumas mesas redondas espalhadas estrategicamente pra que sobrasse espaço para que belas garçonetes usando vestidos curtos e saltos agulha caminhassem com certo conforto para servir os clientes. Tratava-se de um clube de cavalheiros exclusivo. Só aqueles que eram convidados por membros do clube poderiam frequenta-lo.

Alfonso observava tudo com atenção, enquanto tomava um copo de conhaque.

— Mais alguém sabe sobre isso? – ele perguntou quando Logan voltou a mesa, trazendo consigo uma garrafa de champanhe.

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